José
Antonio Jacob
Diverte-se
na rua a meninada...
A nossa vida é um
raio de ilusão!
O
nada existe e tudo vem do nada,
Sem
peso ou forma e sem composição.
Mas, um miúdo guri de pé no chão,
Sentado
na pontinha da calçada,
Esparge
o céu que encobre a criançada
Com
nuvens de bolinhas de sabão.
O menino acredita em outras vidas
Expostas
nas pupilas coloridas
Dos
seus olhinhos puros de esperança.
Minha alma estremecida de emoção,
Também avista o que vê esta criança
Nas pequeninas bolhas de sabão!
José
Antonio Jacob
Muitas
vezes eu mesmo me pegava
Debruçado
em meus próprios desenganos
Na
sacada da casa onde eu ficava
Feito
inquieto garoto a fazer planos.
Nessas
horas sozinhas que eu passava,
No
agasalho macio dos meus panos,
Pelo
chão eu contava e recontava
Os
pisados ladrilhos dos meus anos.
E
mesmo tendo a vista desbotada
E
à distância dos risos da ciranda,
A
solidão não me deixou descrente...
Permaneço
sorrindo para o Nada,
Contando
os azulejos da varanda,
Enquanto
a vida vai passando em frente.
DE
VOLTA AOS QUINTAIS
José
Antonio Jacob
Mesmo
corrido o tempo guardo apreço
Aos
meus passos cansados, desiguais,
Que
sempre me levaram sem tropeço
Ao
refúgio da infância nos quintais.
Nada
mudou! De longe reconheço
A
confraria alegre dos pardais,
E
as mesmas roupas claras nos varais:
Nunca tirei dali
meu endereço!
Apenas
me ausentei de casa cedo,
Qual
criança que se afasta do folguedo
Para
mais tarde o aconchegar a si.
Eu
sou esse menino arrependido
E
quero o meu brinquedo envelhecido
Para
brincar no tempo que perdi!
O
VENDEDOR DE BONEQUINHOS
José
Antonio Jacob
Todo
dia na beira da calçada
Uma
corda encantada eu estendia
E nela pendurava uma braçada
E nela pendurava uma braçada
De
bonequinhos feios que eu vendia.
Eram
polichinelos que eu fazia
De
trança de algodão à mão desfiada,
No
pano das feições não conseguia
Puxar-lhes
traços de melhor fachada.
Ao
desbotar o azul no fim do dia,
Quando
eu os desatava dos alinhos
Desse
varal de cordeação brilhante,
Esses
desengonçados bonequinhos
Desciam-me
nas mãos com alegria
E
me davam abraços de barbante!
O
VIRA-LATA
José
Antonio Jacob
Ele
aparece sempre de repente,
Na
estreita ruazinha ensolarada,
Examinando o chão à sua frente,
De repente se volve e fita o nada.
Mas logo vai adiante novamente,
Em
gesticulação mais animada,
Quando
numa caçamba ele pressente
Ter
encontrado um mimo na calçada.
Então
vira o latão enferrujado
Ali remexe um sujo guardanapo
Que
alguém deixou com resto de comida.
Depois,
vai removendo, com cuidado,
Pedaço
por pedaço, cada fiapo,
De
uma migalha que sobrou da vida.
CASINHA
DE BONECA
José
Antonio Jacob
Um
dia ela guardou os seus segredos,
Pois que sentiu que o amor ao longe vinha,
Trancou no quarto todos seus brinquedos
E o sonho da boneca e da casinha.
E foi buscar aquilo que não tinha
No alegre faz de conta dos seus dedos,
Contou tristezas e chorou sozinha,
Depois sorriu das mágoas e dos medos.
Passou o tempo e ela seguiu a sina,
Assim, com a decência que ilumina,
Também andou por aonde o mal caminha...
Quanta ternura tem essa velhinha,
Que fica no seu quarto de menina,
Brincando de boneca e de casinha!
Pois que sentiu que o amor ao longe vinha,
Trancou no quarto todos seus brinquedos
E o sonho da boneca e da casinha.
E foi buscar aquilo que não tinha
No alegre faz de conta dos seus dedos,
Contou tristezas e chorou sozinha,
Depois sorriu das mágoas e dos medos.
Passou o tempo e ela seguiu a sina,
Assim, com a decência que ilumina,
Também andou por aonde o mal caminha...
Quanta ternura tem essa velhinha,
Que fica no seu quarto de menina,
Brincando de boneca e de casinha!
ROSEIRAS
DOLOROSAS
José
Antonio Jacob
Estou
sozinho em meu jardim sem cores
Mesmo que eu tenha mágoas bem guardadas,
Cuido dessas roseiras desmaiadas
Que em meu canteiro nunca abriram flores.
Cuido dessas roseiras desmaiadas
Que em meu canteiro nunca abriram flores.
Feito tímidas almas delicadas,
Que se emudecem sobre seus temores,
Abortam seus rebentos nas ramadas,
Enquanto vão morrendo em suas dores.
Quantas almas, que por serem assim,
Como essas tristes plantas no jardim,
Calam-se a olhar o nada, tão descrentes...
Feito as minhas roseiras dolorosas,
Que só olham para a vida, indiferentes,
E não me dão espinhos e nem rosas.
O
BEIJO DE JESUS
José Antonio Jacob
José Antonio Jacob
Eu
era criança, mas já percebia,
O
pouco pão que havia em nossa mesa
E a aparência acanhada da pobreza,
Que tinha a nossa casa tão vazia.
E a aparência acanhada da pobreza,
Que tinha a nossa casa tão vazia.
De noite, antes do sono, uma certeza:
A minha mãe rezava a Ave-Maria!
E ao terminar a prece eu sempre via
No
seu olhar uma esperança acesa.
Após a reza desligava a luz,
Beijava o crucifixo, e a fé era tanta,
Que
adormecia perto de Jesus.
Depois que ela dormia (isso que encanta)
Nosso Senhor descia ali da cruz
Para beijar a sua face santa...
QUANTO
TEMPO NOS RESTA?
José Antonio Jacob
José Antonio Jacob
Nossa vida é uma história mal contada,
Uma
vaga novela incompreendida...
Para alguns é um feliz conto de fada,
Para outros uma lenda indefinida...
Para alguns é um feliz conto de fada,
Para outros uma lenda indefinida...
Vivemos, de alvorada em alvorada,
(Que tempo ainda nos resta nessa vida?)
A dar sorrisos largos na chegada
E a lamentar a perda na partida.
Que bom matar o tempo numa rede,
Se ele nos desse a viva eternidade
De um quadro pendurado na parede...
Enquanto a vida passa e o tempo avança,
Quanta tristeza vai numa saudade,
Quanta alegria vem numa esperança!
DESENCONTRO
José
Antonio Jacob
Vivíamos
em plena sintonia
Dos
sentimentos leves e saudáveis.
Éramos
jovens almas agradáveis
De
afeto, de carinho e de alegria.
A paz intimamente nos sorria
A paz intimamente nos sorria
Em
saudações contínuas e amigáveis;
Os
dias alongavam-se amoráveis,
Corria
o tempo e a vida decorria.
Na
ingenuidade dos adolescentes
Jamais
soubemos da desesperança
Das
trilhas, de um desvio repentino.
Depois
seguimos rumos diferentes:
Eu
regressei na estrada da lembrança
E
ela seguiu nos braços do destino.
(Rio de Janeiro, junho de 1981)
(Rio de Janeiro, junho de 1981)
IDEIAS
José
Antonio Jacob
Espírito de tantas aventuras
Espírito de tantas aventuras
Cintilas
entre as coisas distraídas
Para
iludir humanamente as vidas
Que
por acaso estão noutras alturas.
De onde procedes e o que então procuras,
De onde procedes e o que então procuras,
Dentre
as inesperadas investidas,
Que
aparecem em horas retraídas
E
que razão por fim nos asseguras?
Deste-me, em parte, a herança das quimeras,
Deste-me, em parte, a herança das quimeras,
A
lucidez das almas sensitivas
E
a solidão das gerações ateias.
Pelo longínquo azul de outras esferas
Pelo longínquo azul de outras esferas
Sigo,
vagando em tardes pensativas,
No
voo inatingível das ideias...
(Juiz de Fora, maio de 1982)
PAISAGEM
José Antonio Jacob
Resiste ao tempo, embora amarelada,
Uma paisagem de moldura rosa.
Decerto uma pintura afetuosa
Que alguma alma, suave e descuidada,
Deixou de lado. A mágoa pendurada
Na estampa, é a imagem muda e dolorosa
De uma vida que foi desventurosa
Impressa numa tela desbotada.
Um dia, nesse quadro descorado,
Entrei inteiro em busca do passado
Para entender a sua realidade.
E, no silêncio antigo das aldeias,
Nessas paragens que me são alheias
Rocei a face triste da Saudade.
(Conceição do Castelo -ES, abril de 1983)
ALMAS RARAS
José Antonio Jacob
As almas simples são as almas raras,
De luz intensa e projeção pequena,
Que nos circundam de maneira amena:
Como são nobres essas almas caras!
São os espíritos das outras searas,
Que pela vida passam, numa plena
E esplêndida energização serena
De um vento pastoreando as nuvens claras.
O tempo passa, o tempo que não dorme!
A vida andando, tarde sobre tarde,
Sem demover essa humildade enorme.
Gosto demais dessas criaturas boas
Que passam pela vida sem alarde:
Como nos fazem bem essas pessoas!
(Juiz de Fora, junho de 1983)
DESENGANOS
José Antonio Jacob
Vai longe, na memória da distância,
Mesmo assim achegou-me uma vontade
De reaver meus petrechos de saudade
Nos verdes arraiais da minha infância.
Devagar fui perdendo com a idade
O tom das cores e o éter da fragrância
Das flores que ficaram nessa estância
Que é o meu canteiro bom da mocidade.
É que eu saí da roça e andei descrente,
E lá deixei a última semente
Dos sonhos... ao verdejo dos quintais...
Depois, no decorrer dos desenganos,
Retrocedi no tempo muitos anos,
Mas não achei meus sonhos nunca mais.
(Alegre -ES, janeiro de 1986)
ALEGORIA
José Antonio Jacob
A esplêndida aquarela que te anima
E a luminosidade que ora emanas
Refletem a beleza cristalina
Das mais sutis fascinações humanas.
Essa energia intensa que ilumina
As tuas formas, santas e profanas,
É a mesma luz, helênica e divina,
Das divindades gregas e romanas.
Nessa tranqüila e eterna alegoria
Reluz em ti toda a mitologia
Das gerações longínquas e imortais.
Ainda assim é maior o teu encanto,
Pois, sendo deusa eu te venero tanto,
Fosses humana eu te amaria mais!
(Juiz de Fora, setembro de 1988)
(Juiz de Fora, maio de 1982)
PAISAGEM
José Antonio Jacob
Resiste ao tempo, embora amarelada,
Uma paisagem de moldura rosa.
Decerto uma pintura afetuosa
Que alguma alma, suave e descuidada,
Deixou de lado. A mágoa pendurada
Na estampa, é a imagem muda e dolorosa
De uma vida que foi desventurosa
Impressa numa tela desbotada.
Um dia, nesse quadro descorado,
Entrei inteiro em busca do passado
Para entender a sua realidade.
E, no silêncio antigo das aldeias,
Nessas paragens que me são alheias
Rocei a face triste da Saudade.
(Conceição do Castelo -ES, abril de 1983)
ALMAS RARAS
José Antonio Jacob
As almas simples são as almas raras,
De luz intensa e projeção pequena,
Que nos circundam de maneira amena:
Como são nobres essas almas caras!
São os espíritos das outras searas,
Que pela vida passam, numa plena
E esplêndida energização serena
De um vento pastoreando as nuvens claras.
O tempo passa, o tempo que não dorme!
A vida andando, tarde sobre tarde,
Sem demover essa humildade enorme.
Gosto demais dessas criaturas boas
Que passam pela vida sem alarde:
Como nos fazem bem essas pessoas!
(Juiz de Fora, junho de 1983)
DESENGANOS
José Antonio Jacob
Vai longe, na memória da distância,
Mesmo assim achegou-me uma vontade
De reaver meus petrechos de saudade
Nos verdes arraiais da minha infância.
Devagar fui perdendo com a idade
O tom das cores e o éter da fragrância
Das flores que ficaram nessa estância
Que é o meu canteiro bom da mocidade.
É que eu saí da roça e andei descrente,
E lá deixei a última semente
Dos sonhos... ao verdejo dos quintais...
Depois, no decorrer dos desenganos,
Retrocedi no tempo muitos anos,
Mas não achei meus sonhos nunca mais.
(Alegre -ES, janeiro de 1986)
ALEGORIA
José Antonio Jacob
A esplêndida aquarela que te anima
E a luminosidade que ora emanas
Refletem a beleza cristalina
Das mais sutis fascinações humanas.
Essa energia intensa que ilumina
As tuas formas, santas e profanas,
É a mesma luz, helênica e divina,
Das divindades gregas e romanas.
Nessa tranqüila e eterna alegoria
Reluz em ti toda a mitologia
Das gerações longínquas e imortais.
Ainda assim é maior o teu encanto,
Pois, sendo deusa eu te venero tanto,
Fosses humana eu te amaria mais!
(Juiz de Fora, setembro de 1988)
DOMINGO
EM CASA
José
Antonio Jacob
Todo
domingo é assim: hora comprida...
Contraio
os músculos (que horrível tique)
Para
arrumar a casa sacudida,
Antes
que a confusão se multiplique.
Como
se fosse criança extrovertida
Empurro
móveis pela sala a pique,
Depois
desfaço e faço outra investida
E
acabo na cozinha em piquenique.
Todo
domingo é assim: — O Nada é lento...
(O
Nada é a preguiça que nos dá)
Nessa hora
boa pulo no sofá.
Como
é saudável adormecer, sonhar...
Quando mais
tarde acordo sonolento
Recoloco a mobília no lugar.
SONETO
PARA O POETA TRISTE
José
Antonio Jacob
Nessas
horas de folga e de doçura,
Que
passo o tempo a ler meu poeta triste,
Eu
sinto o quanto a sua ideia apura
Tal a chama de luz que nela existe.
O
meu poeta que é doloroso insiste,
Compor
num poema de elegância pura
Tanta dor que a minha alma não resiste
E sinto pena dele com ternura...
Fecho
o livro e me ponho a caminhar
Pelo
parque sem cor e as horas morrem
E
outros soluços sobem-me no olhar.
Pois que se passo sobre o açude, as águas,
Que
dos meus olhos lentamente escorrem,
Entornam
lá no lago as minhas mágoas.
O VERSO ÚNICO
José
Antonio Jacob
Escrevo
porque sinto muita pena
Da
frase ingênua que me sobe à fala
E
que articulo com a voz pequena
Para
ninguém ouvi-la e nem julgá-la.
Um
dia ouvi de um poeta a voz serena,
Um
cântico de amor — que não se iguala —
Num
sarau divino em mansão terrena.
Depois
de ouvi-lo, abandonei a sala.
Ah,
como eu queria estes versos bons,
De
delicados e sonoros tons...
(Por
que se umedeceu o meu olhar?)
Se
existe o verso único e feliz,
O
carinho é a poesia que se diz
A
quem ficou em casa a me esperar.
CARRETÉIS
José
Antonio Jacob
Nem
bem o sol abria os seus bordados
De luminosas cores, entre as bigas
De carretéis e fósforos usados,
Eu já premeditava as minhas brigas.
Para vencer armadas inimigas
Enfileirava de olhos encantados,
Um exército imenso de soldados
Numa carreira longa de formigas.
O que passou da vida eu não senti
O tempo inteiro fui ficando ali
Nos digitais alegres do passado.
Essa alma calma, que ainda vive em mim,
É aquele menininho sossegado
Que brinca de guerreiro no jardim.
De luminosas cores, entre as bigas
De carretéis e fósforos usados,
Eu já premeditava as minhas brigas.
Para vencer armadas inimigas
Enfileirava de olhos encantados,
Um exército imenso de soldados
Numa carreira longa de formigas.
O que passou da vida eu não senti
O tempo inteiro fui ficando ali
Nos digitais alegres do passado.
Essa alma calma, que ainda vive em mim,
É aquele menininho sossegado
Que brinca de guerreiro no jardim.
CREPÚSCULO
DE UMA ÁRVORE
José
Antonio Jacob
Sempre
terei por toda minha vida
Piedade
dessa árvore alquebrada,
Que
se reclinou dócil e entristecida
Deitando
a galharia sobre a estrada.
Parece
que ela abriga uma ferida
Dentro
da frágil alma desfolhada,
Pois
que nem mesmo a alegre passarada
Pousa-lhe
mais na rama enfraquecida.
Este
pomar em volta bem plantado,
Cuja
folhagem refloresce ao lado,
É
fruto dessa árvore tristonha.
Que
mesmo fraca e envelhecida sonha,
Pois
que decerto está sonhando agora
Com
as viçosas florações de outrora.
DESENHO
José
Antonio Jacob
A
nuvenzinha que no céu passou,
Lépida
e alegre, sem nenhum rumor,
Num
pé de vento foi e não voltou:
Era
uma folha num jardim sem flor...
Virando
a folha um sol no céu brilhou
E
fez surgir um dia de esplendor;
Veio
uma sombra e o dia se apagou:
Era
um desenho num papel sem cor...
Por
que será que meu rabisco leve,
Que
traço em suavidade colorida,
Esvoaça
fácil feito um sonho breve?
Então tudo que amei foi despedida...
E
por que o meu destino não escreve
Uma
história feliz na minha vida?
FLORZINHA
José
Antonio Jacob
Eu
andava contente até então,
Nem
de longe pensava em desamor,
Eis
que de um ramo despencou-se ao chão
A
pálida corola de uma flor.
E quem tocou de dor sem compaixão
E quem tocou de dor sem compaixão
Essa
frágil florinha já sem cor:
A
leve brisa em crise de tufão
Ou
a inquieta avezinha sem amor?
Então, pequena flor é bem assim?
Então, pequena flor é bem assim?
Enquanto
o tempo mais afasta o Outrora
O
dia nos declina para o fim.
Cada encontro é uma nova despedida...
Cada encontro é uma nova despedida...
O pesar é a moldura que decora
A
paisagem feliz da nossa vida.
O
ESPELHO
José
Antonio Jacob
Lá
fora o vento alegre zomba e passa,
Descalço
minhas meias de algodão
E
vejo o céu azul de pés no chão,
Enquanto
a vida escorre na vidraça.
Mas
um fantasma amigo da desgraça,
Que
em minha casa faz assombração,
Rabisca
nas paredes de argamassa
Grotescas
letras de desilusão.
Alma
Sem Paz, que vive de favor,
Vive a insultar o cômodo onde mora.
— Que terrível visão do Desamor!
Eu
vou fugir de casa qualquer hora,
Minha presença
só me causa dor...
— Esse vulto no
espelho me apavora!
SONHO
DE PAPEL
José
Antonio Jacob
Ainda
escuto o som de água no rochedo,
Retumba
o oceano a nódoa da ambição,
Por
isso, meu amor, que sinto medo
De
ouvir no mar o som da solidão.
Velhos
pesqueiros vão à lentidão,
Lá
no horizonte o empós cria um segredo...
Estes
barquinhos são de papelão
E
o mar é um grande espelho de brinquedo...
Eu
amo a vida e quão pequeno sou,
Mas
lanço um sonho nesta imensidão
E
nele, de alma pendurada, vou...
Suspenso
em minha pipa de papel,
Que
vai transpondo nuvens de algodão,
Para
meu sonho aterrissar no céu!
VELHO
ÓRFÃO
José
Antonio Jacob
Desde
cedo esperei o que não vinha,
Mas minha vida foi perdendo o prazo:
Fui
vendo a minha sombra mais sozinha
E
o meu destino cada vez mais raso.
Enquanto andei do quarto até a cozinha,
Enquanto andei do quarto até a cozinha,
Pesou-me
o passo e me causou atraso,
Desfolharam-se
os dias na folhinha...
O outrora foi murchando em meu ocaso.
Súbitos
longos anos tão estreitos,
Sinto
vê-los perdidos sem proveitos,
Pois sem bem-feitos não me presto mais...
Eu
sou aquele velho desolado,
Que
vive a andar atrás do seu passado,
Como
a criança órfã que procura os pais.
Fonte: http://joseantoniojacob.blogspot.com.br/
Vasco de Castro Lima nos deixou impresso um acervo com cerca de mil páginas, prefaciado pelo notável escritor e poeta João Rangel, intitulado "O Mundo Maravilhoso do Soneto", fruto de incansável e profunda pesquisa, digno de enriquecer as melhores e mais bem dotadas bibliotecas da língua portuguesa em qualquer parte do mundo. É um legado de riqueza sem igual para os amantes da literatura poética.
ResponderExcluirHoje, com o mesmo entusiasmo e profícuo espírito apurativo, estamos a ver desabrochar na internete este imensurável pomar de sonetos, um verdadeiro Jardim Botânico da Poesia, onde estão sendo replantadas as mais raras e sublimes raízes do soneto e suas ramificações. Este espaço é o Éden onde podemos desfrutar as delícias da leitura poética.
Este trabalho se deve à incansável e refinada faina de investigação intitulada "O Secular Soneto" realizado pela competente e estudiosa escritora e poetisa, Regina Coeli Rebelo da Rocha, do Rio de Janeiro, cidade onde certamente foram dessoterrados raríssimos tesouros arqueológicos do soneto, desde todos os tempos.
Não ouso (tampouco conseguiria) com este modesto comentário apresentar nem o preâmbulo dessa gigantesca e magnífica obra.
José Antonio Jacob
Poeta amigo, seus sonetos nos remetem a lugares nunca antes visitados.
ResponderExcluirÉ nostalgia, é vivência e tudo que há de belo.
Parabéns!
Ruth Gentil Sivieri
Ilustre e querida poetisa e professora Ruth Olinda, suas palavras já me recompensaram, sobremaneira, todo tempo passado ou futuro. Por isto eu as deixarei expostas no indestrutível e perene estojo das eternas palavras que exprimem sentimento de sinceridade e de ternura. Muito obrigado, estimada mestra!
ResponderExcluirJosé Antonio Jacob