Depois do Grupo Mineiro do Arcadismo e
antes da existência oficial e efetiva do Romantismo em nosso país, tivemos bons
poetas que não podem ser classificados em nenhuma dessas escolas.
Sílvio Romero e outros críticos e estudiosos da literatura fizeram longas listas de poetas daquela época, ora conferindo-lhes o título de "últimos poetas clássicos", ora dando-lhes o nome de "poetas de transição entre árcades e românticos".
Aceitamos a denominação de "últimos poetas clássicos", que o eram, realmente. Mas, data vênia, achamos imprópria a designação de "poetas de transição".
Nada tiveram com o Arcadismo. Também não se aproximaram dos precursores do Romantismo, nem se alinharam, de fato, entre os seus participantes. Sem compromissos com os dois movimentos literários, não reuniram condições históricas para serem considerados poetas de transição. Poderemos, até, batizá-los como "poetas ilhados entre o Arcadismo e o Romantismo". Não é o mesmo caso, por exemplo, de B. Lopes, que foi parnasiano e precursor do simbolismo.
Entretanto, a ninguém é dado o direito de negar merecimento a vários poetas do grupo.
Vamos citar, entre os componentes dessa relação: Padre Antônio Pereira de Sousa Caldas, Frei Francisco de São Carlos, José da Natividade Saldanha, Januário da Cunha Barbosa, José Elói Otoni; Francisco de Melo Franco, Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa, João Salomé Queiroga, Antônio Augusto Queiroga, Francisco Bernardino Ribeiro, Cândido José de Araújo Viana (o Marquês de Sapucaí), João Capistrano Bandeira de Melo, Joaquim José Teixeira, Antônio Félix Martins, roão de Barros Falcão de Albuquerque Maranhão, Odorico Mendes, Álvaro Teixeira de Macedo, D. Delfina Benigna da Cunha (cega), Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva; e, com maior destaque: José Bonifácio de Andrada e Silva, Frei Francisco Xavier de Santa Rita Bastos Baraúna, Padre Francisco Pereira Barreto. Francisco Moniz Barreto, José Maria do Amaral, José Maria Velho da Silva e Antônio Peregrino Maciel Monteiro.
Sílvio Romero e outros críticos e estudiosos da literatura fizeram longas listas de poetas daquela época, ora conferindo-lhes o título de "últimos poetas clássicos", ora dando-lhes o nome de "poetas de transição entre árcades e românticos".
Aceitamos a denominação de "últimos poetas clássicos", que o eram, realmente. Mas, data vênia, achamos imprópria a designação de "poetas de transição".
Nada tiveram com o Arcadismo. Também não se aproximaram dos precursores do Romantismo, nem se alinharam, de fato, entre os seus participantes. Sem compromissos com os dois movimentos literários, não reuniram condições históricas para serem considerados poetas de transição. Poderemos, até, batizá-los como "poetas ilhados entre o Arcadismo e o Romantismo". Não é o mesmo caso, por exemplo, de B. Lopes, que foi parnasiano e precursor do simbolismo.
Entretanto, a ninguém é dado o direito de negar merecimento a vários poetas do grupo.
Vamos citar, entre os componentes dessa relação: Padre Antônio Pereira de Sousa Caldas, Frei Francisco de São Carlos, José da Natividade Saldanha, Januário da Cunha Barbosa, José Elói Otoni; Francisco de Melo Franco, Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa, João Salomé Queiroga, Antônio Augusto Queiroga, Francisco Bernardino Ribeiro, Cândido José de Araújo Viana (o Marquês de Sapucaí), João Capistrano Bandeira de Melo, Joaquim José Teixeira, Antônio Félix Martins, roão de Barros Falcão de Albuquerque Maranhão, Odorico Mendes, Álvaro Teixeira de Macedo, D. Delfina Benigna da Cunha (cega), Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva; e, com maior destaque: José Bonifácio de Andrada e Silva, Frei Francisco Xavier de Santa Rita Bastos Baraúna, Padre Francisco Pereira Barreto. Francisco Moniz Barreto, José Maria do Amaral, José Maria Velho da Silva e Antônio Peregrino Maciel Monteiro.
José Bonifácio de Andrada e Silva, paulista, o Patriarca
da Independência" (1763-1838), estadista, sábio, escritor e poeta. Pode-se
classificá-lo, tranqüilamente, como o mais brilhante espírito de sua geração.
Foi o verdadeiro organizador do novo Império e, mais tarde, tutor de Pedro II.
Como cientista, mereceu os louvores de toda a Europa.
Como cientista, mereceu os louvores de toda a Europa.
Publicamos o seu soneto "Ser e não ser", de estilo clássico
e cheio de lirismo;
Se
te procuro, fujo de avistar-te,
e,
se te quero, evito mais querer-te;
desejo
quase... quase aborrecer-te,
e,
se te fujo, estás em toda parte.
Distante,
corro logo a procurar-te,
e
perco a voz e fico mudo, ao ver-te;
se
me lembro de ti, tento esquecer-te,
e,
se te esqueço, cuido mais amar-te.
O
pensamento assim partido ao meio,
e
o coração assim também partido,
chamo-te
e fujo, quero-te e receio!
Morto
por ti, eu vivo dividido;
entre
o meu e o teu ser sinto-me alheio,
e,
sem saber de mim, vivo perdido!
Frei Francisco Xavier de Santa Rita Bastos
Baraúna
(1785-1846) — Fecundo e erudito, era chamado o "Bossuet brasileiro".
Orador sacro famoso, embora de vida desregrada. Esta lhe valeu várias prisões,
numa das quais improvisou este célebre soneto "Socorrei-me, Senhor!", impetrando graça ao Arcebispo D.
Romualdo:
Socorrei-me,
Senhor! Quebrai piedoso
minhas
algemas, cheias de dureza!
Se
meu crime provém da Natureza,
quem
de ser deixará réu, criminoso?
Davi,
que foi tão rico e venturoso,
por
Betsabé caiu na vil fraqueza;
Sansão,
perdendo o brio e fortaleza,
ao
orbe deu exemplo lastimoso.
Vede
Jacó, retido em cativeiro
pela
gentil Raquel; vede Suzana;
vede, afinal, Senhor, o mundo inteiro!
Desculpa
tenho na paixão insana:
que
ou mandasse-me o Céu o ser primeiro,
ou
fizesse de ferro a carne humana.
Padre Francisco Ferreira Barreto (1790-1851) Poeta,
orador e político. É seu este soneto "A
Jesus Crucificado" (ou
"O Santíssimo Viático"):
Ânsias,
frio suor, a vista errante;
convulso
o coração, em sede ardendo;
gotas
de sangue, tépidas, correndo
pelo
divino, pálido semblante;
espinhos
na cabeça agonizante;
cravos
nas mãos, nos pés... suplício horrendo!
Terno Pai, que espetáculo tremendo!
Quem
pode resistir, meu doce Amante?
Tudo
quer contra o Mundo eu me revolte;
vossos
olhos estão a procurar-me;
a
lança, a Cruz me diz, que os vícios solte.
As
mãos erguidas buscam abraçar-me,
a
cabeça inclinada diz que eu volte,
a
boca, meio aberta, quer chamar-me.
Francisco Moniz Barreto (1804-1868),
nascido e falecido na Bahia, foi, para Sílvio Romero, "a mais assombrosa
personalização do talento improvisatório que o Brasil tem conhecido".
Estampamos o soneto "Isto é amor, e deste amor se morre", que
ele fez de improviso, repetindo o último verso dado por mote:
Ver...
e do que se vê logo abrasado
sentir
o coração de um fogo ardente;
de
prazer um suspiro de repente
exalar
e, após ele, um ai magoado;
aquilo
que não foi inda logrado,
nem
o será talvez, lograr na mente;
do
rosto a cor mudar constantemente;
ser
feliz e ser logo desgraçado;
desejar
tanto mais quão mais se prive;
calmar
o ardor, que pelas veias corre;
já
querer, já buscar que ele se ative;
o
que isto é, a todos nós ocorre:
Isto
é amor, e deste amor se vive!
—
"Isto é amor, e deste amor se morre!"
Também
é de Francisco Moniz Barreto este soneto, "Cristo no Gólgota":
Ao
martírio da Cruz, de bens fecundo,
de
Deus caminha o plácido Cordeiro;
em
denso véu de trevas o luzeiro
do
dia se retrai com dó profundo!
Ao
vozear do bando furibundo,
treme
do Gólgota o sagrado outeiro;
dos
rebatidos cravos do madeiro
brotam
faíscas que dão luz ao mundo!
Ali,
de sangue lágrimas vertendo,
das
virgens a suprema majestade
ao
suplício do filho assiste horrendo!
Cumpre-se
a farisaica atrocidade:
aos
seus algozes o perdão dizendo,
morre
o Cristo e... renasce a humanidade!
José Maria do Amaral (1813-1885),
nascido e falecido na antiga Província do Rio de Janeiro, Ministro
Plenipotenciário e Conselheiro do Império, foi o melhor de todos os poetas
dessa fase. Sonetista de alta categoria, como se vê pelo soneto "Desengano":
Uma
por uma, da existência as flores,
se a existência que temos é florida,
uma
por uma, no correr da vida,
fanadas
vi sem viço e vi sem cores.
Sonhos
mundanos, sois enganadores,
alma
que vos sonhou, geme iludida;
existência,
de flores tão despida,
que
te fica senão tristeza e dores?
Do
mundo as ilusões perdi funestas,
ao
noitejar da idade, em amargura,
esperança
cristã, só tu me restas!
Fujo
contigo desta vida impura;
nas
crenças que tão mística me emprestas,
transponho antes da morte a sepultura.
José Maria Velho da Silva (1811-1901),
nascido e falecido no Rio de Janeiro, professor de retórica, poeta e autor de
regular bagagem literária, escreveu este soneto dedicado "A Camões":
Que
se dirá dos feitos sublimados
do
lusitano assombro da epopéia,
que
eternizou na indica Odisséia
“as
armas e os barões assinalados"?
Poeta
— rei dos versos afamados,
Fídias
da frase, príncipe da idéia;
herói,
levando as quinas de Ulisséia
“por
mares nunca dantes navegados".
Cantor
que as tempestades adormece;
e,
escutando o Camões falar do Gama,
o
próprio Adamastor inda estremece.
Inês,
a triste Inês, seu vate a aclama;
por
ele, a desditosa a mágoa esquece;
só
ela basta a eternizar-lhe a fama.
Antônio Peregrino Maciel Monteiro (1804-1868),
nascido em Recife e falecido em Lisboa, quando ministro plenipotenciário junto
à Corte de Portugal; segundo Barão de Itamaracá; médico, político e poeta;
tendo, também, ocupado a Pasta de Negócios Estrangeiros (1837) — destaca-se na
relação de poetas citados.
É o autor do belo e popularíssimo soneto
"Formosa" ("Formosa qual pintor em tela fina...”), que
transcrevemos no capítulo "Os sonetos brasileiros mais populares".
Sílvio Romero confere a Maciel Monteiro o
privilégio de "precursor do Romantismo no Brasil", tentando retirar,
de certa maneira, a primazia de Gonçalves de Magalhães, admitida, afinal, como
ponto pacífico.
Entretanto, não está, ainda, apurado em que
data saiu o famoso soneto "Formosa". Péricles Eugênio da Silva Ramos
acha que essa “pièce de resistance" de Maciel Monteiro seja de 1846 a
1848. Assim, não poderia mesmo ser ele um "precursor" do Romantismo,
mas um remoto participante da primeira fase da Escola.
Vejamos um dos poucos sonetos deixados por
Maciel Monteiro:
Era
já posto o sol. A natureza
em
ondas de perfume se banhava;
aqui,
pendia a rosa, além brilhava
alguma
flor de virginal pureza.
Nuvem
sutil, de pálida tristeza,
pelo
cândido rosto lhe vagava.
Nas
negras tranças do cabelo estava
murcha
e mais triste uma saudade presa.
Ó
pintor que a pintaste! Era mais bela
que
a lua deslumbrante de fulgores,
surgindo
dentre as sombras da procela!
Ao
vê-la, com os meus olhos matadores,
voou
meu coração aos lábios dela,
minha
alma ardente se banhou de amores.
José Veríssimo, ao contrário de Sílvio
Romero, foi impiedoso e injusto para com o poeta Maciel Monteiro. Eis algumas
de suas frases, transcritas por nós da revista "Renascença" (nº 25 — março de
1906), dirigida pelos brilhantes intelectuais Rodrigo Otávio e Henrique
Bernardelli:
—"Maciel Monteiro é, com Francisco
Otaviano, e outros, talvez somenos, uma das lendas da nossa literatura".
"Maciel Monteiro não deixou de si outra cousa que a memória de um poeta
galante, um improvisador, espécie de trovador dos salões, homem de espírito,
orador de mérito, cortejador das damas, diplomata e fino cavalheiro".
—"Ao célebre soneto
"Formosa", não lhe negarei beleza, mas é uma beleza de segunda ordem
e corriqueira".
—"Nesta terra de poetas abundantes, é
escassa a messe de versos de Maciel Monteiro. Na coleção agora publicada
("Poesias"—1905), “a primeira e a mais completa que dele existe, são
32 as poesias originais e 4 as traduzidas. Para quem poetou de 1831 a 1868 — 37
anos — é pouco e, se não perdeu a maior parte de sua produção poética,
poder-se-ia daí inferir-lhe a pobreza do estro".
(Das
páginas 543 a 549 de “O Mundo Maravilhoso do Soneto”, de Vasco de Castro Lima)
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