Maria Helena Cunha Fernandes Fragoso
Lisboa, Portugal, 1963
É NUM SONETO
Helena Fragoso
Eleva-se um poema
nos compassos
Dos dedos do poeta
que em magia
Vai regendo essa
arte em sintonia
Nas vitórias da
vida ou nos fracassos.
As rimas que
compõem esses traços
Arpejos de uma
heróica sinfonia
São pausas que
vagueiam nos espaços
Entre as mágoas
sentidas e alegria
E passo a passo
dentro dos seus passos
Desenha a sua arte
nos abraços
Em perfeita
grandeza e harmonia
Então é num soneto
que esses braços
Compostos por seus
sonhos e cansaços
Nos banham de
poesia dia a dia...
NOSSO AMOR
Helena Fragoso
Banhaste o corpo
meu com tua essência
Uniste as nossas
almas com o saber
Que no amor há dar
e receber
Sem existir prisão
nem exigência.
Amar é se sentir em
convergência
Apenas num só toque
enlouquecer...
É um belo e
constante florescer
É todo o consagrar
de uma existência.
O amor é uma
sagrada convivência
Onde se vê que em
franca consciência
Os dois se
transformaram num só ser...
Assim é nosso amor,
uma vivência
Onde essa simbiose
de existência
Renasce em cada
nosso amanhecer...
POEMAS?...
Helena Fragoso
Foram palavras
loucas que escrevi
Esculpidas pela
dor, sem cor sem rima.
Lutando sempre
contra a minha sina
Mas coerente em
tudo o que vivi.
Poemas? Não sei bem
se os consegui…
Tentei apenas ter
esta doutrina
Que sempre me
banhou desde menina,
Pincelando o que
vivo e o que senti.
Sempre mantive a
esp’rança e até sorri
Errei, chorei,
amei, sobrevivi
Mesmo se a alma até
se desatina...
Poemas? Eu sei bem,
não construí
Foram palavras
loucas que escrevi
Esculpidas pela
dor, sem cor sem rima.
SE AO CAIR DA
NOITE...
Helena Fragoso
Se ao cair da noite
aqui estivesses
Se ao cair da noite
me beijasses
Se ao cair da noite
me dissesses:
-“Como seria bom se
aqui ficasses”
Se ao cair da noite
me tivesses
Se ao cair da noite
me acordasses
Se ao cair da noite
tu me desses
Loucuras e prazer
que desejasses.
Se ao cair da
noite, enfim... Pudesses
Dizer-me tudo
aquilo que quisesses
E com teu corpo
louco me queimasses...
Eu te diria Amor
pra que soubesses
O quanto desejei
que aqui viesses
O quanto desejei
que tu me amasses!
MEUS POBRES
DEVANEIOS...
Helena Fragoso
Não sei porque inda
se unem meus anseios
Aos poucos que no
mundo andam perdidos
Talvez por serem
puros, sem receios
E lutem sem se
darem por vencidos.
São lutas
consistentes sem ter meios
De enfrentar os
momentos desabridos...
As armas, muitas
vezes sem ter freios,
São apenas
minh`alma, meus sentidos.
Talvez sejam meus
pobres devaneios
Que lutam com
coragem, sem arreios,
Nestes caminhos
longos, doloridos...
Acreditando ainda
nos gorjeios
Em forma de
trinados galanteios
Que acalmam tanta
vez os meus gemidos...
VIVO ASSIM
Helena Fragoso
Percorro o meu
caminho com doçura
Busco dentro do
peito o meu alento
Na chama do luar a
tal frescura
Que sempre me
renova o pensamento.
Da natureza eu
sinto essa ternura
Da qual no
dia-a-dia me alimento
E se me surge
alguma desventura
Eu luto com coragem
no momento.
Eu sou assim,
talvez seja loucura
Mas sinto sempre em
mim essa bravura
Que me vai dando
algum entendimento...
E há sempre essa
aragem que murmura:
"Segue o
caminho sempre com a doçura
Assim tu vencerás
qualquer tormento."
VALEM A PENA
Helena Fragoso
A vida ela é um
misto de batalhas
Um conjunto de
lutas e quimeras
Encontro de
certezas e de falhas...
Um pouco de
regressos e de esperas.
Destino que esculpido
em muitas talhas
Viaja por imensas
primaveras...
Que valem sempre a
pena, se as detalhas,
Se a fome e
crueldades exoneras...
E se na tua vida
vences” feras”
Se ajudar teu irmão
tu deliberas
Sem grandes
alaridos e medalhas...
E se em qualquer
momento tu te esmeras
Então valem a pena
as primaveras
Valem todos os dias
de batalhas.
É NUM POEMA
Helena Fragoso
É num poema que me
invento em mim
Na luta imensa do
meu dia -a -dia,
Tanta injustiça que
se encontra, enfim,
Regras impostas sem
qualquer mestria.
É nessa luta que
renasce, assim,
A força imensa, que
de tão bravia...
Se me propaga sendo
o tal estopim
Das atitudes que o
meu peito cria.
Quando chegar esse
momento, sim,
Dessa viagem que
nos leva ao fim
Deste caminho
sinuoso e breve...
Seja esta luta de
harmonia em mim
Que me acompanhe no
poema, enfim,
O tal poema que a
minh`alma escreve...
SETEMBRO
Helena Fragoso
Setembro, mês que
traz essa brandura,
Na qual a natureza
mais me encanta
Um renovar de vida,
essa ternura,
Em sons de
avermelhados, que me canta...
Crianças que em
sorrios de candura
São prova de que a
vida se agiganta
O regressar à
escola, uma aventura,
Mas que lhes dá na
vida, força tanta...
O mês das folhas
soltas nos caminhos
E em que noutras
paragens, passarinhos,
Regressam numa nova
Primavera...
Setembro dos contrastes
e da cor
Que nos mostra a
beleza desse amor
De uma renovação à
nossa espera.
SONHEI CONTIGO
Helena Fragoso
Sonhei que era
contigo que sonhava
E que nesse acordar
era verdade...
O sonho tão real se
me mostrava
Aos meus olhos de
espanto, de saudade.
Sonhei ver esse rio
que me cantava
Seus fados e
canções, na mocidade,
E os jacarandás!
Como adorava,
Na avenida mais
bela da cidade...
Sonhei que nas
ameias me sentava
E que meu peito
aberto mergulhava
Daquela Torre em
saltos de ansiedade...
Que no meu Tejo,
ali, mesmo nadava.
Quando acordei
confesso, já chorava,
Pois só em sonho
foi realidade.
TRISTEZA...
Helena Fragoso
Tristeza, a que me
invade não tem fim...
Sem que possa
afastar a escuridão,
Que quase
permanente vive em mim
Ensombrando-me
assim o coração.
Perdi até meus
sonhos... Sei que sim,
Perdi também o amor
e a ilusão...
Aquela pouca paz
que tinha, enfim...
Tudo isto se
esfumou... Caiu ao chão.
Tento ainda lutar,
pois sou assim...
A força que guardei
dentro de mim
Aos poucos já se
esvai de minha mão...
Tristeza, a que me
invade não tem fim...
Sem que possa
afastar a dor de mim,
Apenas me acompanha
a solidão.
A
MINHA ALMA
Helena
Fragoso
Nestas
ruas da cidade adormecida
A
minh’alma vai voando livremente
Entregando-se
à saudade construída
Na
certeza de amor dado a tanta gente
Vai
sozinha, por sozinha se encontrar,
Bem
no meio dessa enorme multidão.
A
tristeza vem sorrindo e logo a par
Do
seu lado caminhando dá-lhe a mão.
Rodeada
p'la tristeza e solidão
Tão
perdida nessa imensa confusão
Que
correndo vai cruzando esta cidade
A
minh’alma manifesta o seu cansaço
Abraçada
à solidão e em seu regaço
Adormece
nessa hora por ser tarde!
(editado
no livro GRADES)
ABRIL
Helena
Fragoso
Diante
da injustiça e da pobreza,
dos
roubos e traições ao meu País,
o
ver acontecer o que não quis…
vai
contra toda a minha natureza.
Então
eu manifesto essa tristeza,
a
de ver morta aqui pela raiz…
por
sermos governados por senis,
a
Liberdade ganha com firmeza.
Abril
se diluiu na impureza,
nessa
atitude plena de vileza…
e
que o bom senso sempre contradiz.
Meu
brado é de revolta com certeza,
ao
ver cair assim nesta incerteza
Aquele
“Abril “ que o povo sempre quis.
(editado no livro
GRADES)
AMOR
Helena
Fragoso
Pergunto-me
quem sou sem me encontrar
Procuro
desvendar-me em teus sentidos
Nos
sulcos que me rasgas em gemidos
Nesse
teu suave encanto a dominar
Nos
versos do desejo a transbordar
Gotículas
de amor, corpos unidos
Em
tangos de prazer embevecidos
Sou
rosa flor que vai desabrochar
No
auge a culminar há sons sem nexo
Que
fundem nossos corpos num amplexo
De
um êxtase vibrante, de prazer
Descubro
então quem sou…nada complexo,
Alguém
que vive em ti, só um reflexo…
Que
sem a tua luz deixa de o ser.
(editado no livro GRADES)
CAIU
TRISTE A NOITE
Helena
Fragoso
Caiu
triste a noite no meu quarto frio
Banhou
minha alma dum negro sentido
Deslizaram
gotas de orvalho sombrio
São
tristes lembranças que trago comigo
Pensamentos
vivos de um sentir vazio
Ternura
esquecida num pouco vivido
Na
cama deitada um mundo recrio
Mas
nada se apaga do que foi sofrido
E
fico acordada neste desvario
Sinto
no meu corpo esse calafrio
Do
tal abandono em mim acendido
Caiu
triste a noite no meu quarto frio
Dos
meus olhos pendem lágrimas a fio
Do
peito cansado soltou-se um gemido!
(editado no livro GRADES)
CAMINHO
SEM VOLTA...
Helena
Fragoso
Caminho
sem volta, estrada sem guarida
São
dias de tédio sombrios sem encanto
Lutando,
contudo me aprumo na vida
Guardando
tristezas num qualquer recanto.
Prossigo
sem arte, um pouco perdida
No
meio das nuvens que formam meu pranto
Por
vezes descanso na mágoa sentida
E
outras me fundo num suave canto.
Saudades
aladas perdem-se no tempo
Das
noites cobertas de oco pensamento
Caminho
sem volta, estrada sem guarida
A
chuva no peito voa solta ao vento
Em
flocos de nuvens que num só lamento
Envolve
num manto toda a minha vida.
(editado no livro
GRADES)
COMO
VELA ACESA QUE O VENTO APAGOU
Helena
Fragoso
Sinto
que da vida nada me ficou
Apenas
cansaços tristezas e dores
Sorrisos
morreram o vento os levou
Ficaram
apenas os meus desamores
Como
vela acesa que o vento apagou
Jardim
num deserto, sem vida, sem cores
Uma
estrela morta que nunca brilhou
Arbusto
selvagem, aridez... Sem flores
Sorriu-me
o destino por breves momentos
Banhei-me
num rio... Doces sentimentos
Fui
acreditando, sonhei de verdade!
Perderam-se
as cores nos dias cinzentos
Luar
não o vejo... Eu só sinto os ventos,
Que
gelam meu peito de tanta saudade!
(editado no livro GRADES)
CONTIGO
Helena
Fragoso
Contigo
desbravei os meus sentidos
Os
mundos do teu corpo, a poesia
Até
os meus momentos doloridos
Se
perdem nessa luz, tua harmonia.
Contigo
estes passos percorridos
São
sons da tua voz em sintonia
Que
brotam em compassos coloridos
Ao
fazermos amor em cada dia
Contigo
os horizontes são vividos
E
neles diluímos os gemidos
Que
do prazer exalam na magia
Contigo
estes meus dias conseguidos
São
glórias são instantes concebidos
Por
teu intenso amor que os irradia.
(editado no livro
GRADES)
É
NA NOITE QUE ÉS MAESTRO...
Helena
Fragoso
É
na noite que me entrego aos devaneios
Nessas
horas de paixão de amor fremente
É
na noite que teu corpo em galanteios
Se
entrelaça na minh 'alma intensamente
Os
teus lábios deslizando nos meus seios
Tuas
mãos vão trespassando um fogo ardente
Nossos
corpos concretizam seus anseios
De
se amarem no futuro, no presente.
É
na noite que se esvai essa lonjura
Nossos
corpos levitando na ternura
Este
amor vai invadindo nossas almas...
É
na noite que és maestro na doçura
Vais
regendo com a batuta da loucura
Nossos
corpos num riacho de águas calmas.
(editado no livro
GRADES)
ESTUPRARAM-ME
OS SENTIDOS
Helena
Fragoso
Romperam-se
os silêncios poderosos
De
tantas frustrações em mim contidas
De
tantos ideais tão valorosos
De
tantas injustiças assistidas
Rasgaram-me
os abusos criminosos
Feriram-me
as angústias já sofridas
Por
tantos inocentes piedosos
Que
lutam ferozmente em suas vidas.
Estupraram-me
os sentidos mais honrosos
Mataram
sentimentos carinhosos
E
sofro com revoltas incontidas
E
tantos com seus atos asquerosos
Velozes,
tão cruéis, vertiginosos
Sorriem
vendo Vidas destruídas!
(editado no livro
GRADES)
EU
Helena
Fragoso
Irrompe-me
tão forte essa vontade
Na
pressa do sentir com que me dou
A
de me descobrir saber quem sou
Mesmo
que isto pareça insanidade.
Por
entre uma ilusão, uma saudade,
Palavras
que o meu estro já sonhou
Sensações
que meu ser já abraçou,
Sem
ter arte ou engenho, na verdade
Mas
corre-me nas veias a paixão
Emana
do meu ser a liberdade
Um
pouco de tristeza e alegria
É
puro sentimento, é emoção
É
um desejo ardente de verdade
Um
sentir só de amor, de poesia .
(editado no livro
GRADES)
EU
QUERO SER
Helena
Fragoso
Eu
quero ser o mar onde navegas
Ser
lua, sol, ser tua estrela guia.
Eu
quero ser o leito onde sossegas
E
sonhas nosso amor até ser dia
Eu
quero ser aquela a quem entregas
Teus
beijos nessa doce melodia
Eu
quero ser o amor que tu não negas
Sentir
o teu sabor de maresia
E
quero ser vulcão, estrela cadente.
Aquela
por quem tua alma sente
Essa
paixão tão linda, divinal.
Eu
quero ser de ti tua nascente
Ser
vida, ser teu mundo mesmo ausente,
Ser teu princípio e fim, teu bem, teu mal...
(editado no livro
GRADES)
FALSOS
AMORES
Helena
Fragoso
Afirmo
sem qualquer constrangimento
Que
não quero amizades, nem favores...
de
quem simula assim falsos amores
que
enojam o mais puro sentimento
E
ergo a voz bem alto, solta ao vento
ao
afirmá-lo aqui... e sem temores,
Respeito
muito mais os desamores
Que
esses falsos “carinhos” de momento.
Serei
rude? Talvez…O fingimento
não
faz parte de mim, e não lamento,
por
ter sempre na vida estes valores.
Este
é assim o meu entendimento:
Amor?
Tem de ser puro sentimento
Que
o falso, repudio sem pudores.
(editado no livro
GRADES)
Li e Reli sempre com muito entusiasmo, maravilhada (já conhecia muitos destes sonetos que se encontram no livro GRADES que possuo).
ResponderExcluirIdentifico-me com muito do que a amiga Helena escreve e é para mim uma Grande Honra poder ler poesia que interiorizo e na qual em muito me revejo.
Parabéns Amiga Helena. Só desejo que Deus continue a ampará-la, que a sua saúde melhore e que continue a ter forças para nos presentear com a sua Excelente Poesia cheia de sensibilidade. Obrigada por estes momentos.
Aceite um grande abraço da
Lourdes.