Lisboa, Portugal, 1933
A
FELICIDADE
Alfredo
dos Santos Mendes
Deambulando
ao acaso te buscando.
Vagueio
noite e dia pelo mundo.
Me
transformei por ti qual vagabundo,
Apátrida
sem lei que não comando!
Sou
um barco sem Norte navegando,
Num
tenebroso mar, negro, sem fundo.
Faço
parte de um sonho tão profundo,
Que
apenas terá paz te conquistando!
Por
favor não escondas teu lugar.
Dá-me
um pouco de ti, vem-me ajudar,
Não
fujas mais de mim por caridade!
Te
peço humildemente: por favor.
Preciso
te encontrar seja onde for...
Onde
te escondes tu, felicidade?
A
MÃO ESTENDI
Alfredo
dos Santos Mendes
Dedicado a: Glória Marreiros
A
mão estendi, quis na tua tocar.
Porém,
tua mão se afastou bruscamente.
Fiquei
pesaroso, dorido, tremente,
Ao
ver que afastavas, quem quer te adorar.
Adoro
os poemas, que sabes criar.
O
tema abordado, está no presente,
De
quem se perturba, c'oa aquilo que sente,
E
não tem coragem, de as costas voltar.
Por
isso teu nome, assenta-te bem.
Por
certo foi Deus, que mandou do além,
Um
anjo informando: serás sempre Glória.
Terás
sempre Glória, no nome, e na vida.
Glória,
em teus poemas! Palavra sentida!
Serão
consagrados: "Fraterna Victória!"
A
MINHA ORAÇÃO
Alfredo
dos Santos Mendes
Eu
Te rogo Meu Deus Omnipotente,
Equilibrai
meus passos hesitantes.
Mantém
maus pensamentos bem distantes,
E
livrai-me do mal, que está presente!
Eu
Te peço Meu Deus, humildemente,
Perdoai
minhas frases aviltantes,
Que
nas horas amargas, revoltantes,
Minha
boca as soltou, cobardemente!
Preciso
a Vossa ajuda p’ra vencer,
Eu
quero o Vosso reino merecer.
Pois
estar junto a Vós, é privilégio!
Sem
Ti, sou como nau sem timoneiro.
Perdida
entre denso nevoeiro,
Numa
luta brutal, com sortilégio.
CEGUEIRA
Alfredo
dos Santos Mendes
A
noite vai caindo finda o dia.
E
tudo à nossa volta é escuridão.
A
penumbra me abraça e faz questão,
Me
dar o escurecer por companhia!
Sem
nada conhecer naquela via,
Se
apoderou de mim a solidão…
E
sem saber porquê, por que razão,
Todo
o meu ser entrou em agonia!
Mais
calmo reflecti e me acalmei.
Com
tristeza a mim mesmo perguntei:
Tu
já pensaste nos invisuais?
O
sentido de ver, lhes foi negado.
Depois
do infortúnio ultrapassado...
Juntos
de certa gente vêem mais!
CONTRADIÇÃO
Alfredo
dos Santos Mendes
Tenho
meu coração amordaçado,
As
asas lhe cortei p’ra não voar.
Não
vá fugir de mim e te contar,
Quanto
anseio que estejas a meu lado!
Quero
que faças parte do passado.
Não
quero mais de ti me recordar.
Quero
rasgar lembranças, apagar...
O
sabor do teu beijo apaixonado!
A
luz do teu olhar, quero esquecer.
Teus
lábios de carmim, não quero ver,
Desejando
o calor dos lábios meus!
Eu
não quero teu corpo desejar...
Mas
quanto mais eu quero me afastar,
Mais
desejo cair nos braços teus!
CORTAR
O PASSADO
Alfredo
dos Santos Mendes
Rasguei
as lembranças do tempo passado.
Os
sonhos guardados, desfiz em pedaços.
Da
caixa com fotos atada com laços,
Eu
fiz um braseiro; foi tudo queimado!
Tristeza,
amargura, tirei do meu lado.
Mandei-as
embora para outros espaços.
Fugi
da mentira, dos falsos abraços...
Que
às vezes sentia, ao ser abraçado!
Do
zero farei, outra forma de vida.
Será
mais concreta, serena, sentida,
Apenas
cercado p'los grandes amigos.
Amigos
que sabem, o que é amizade.
Que
no peito ostentam a fraternidade,
Que
é arma letal para os seus inimigos!
DEMÊNCIA
Alfredo
dos Santos Mendes
É
louco quem pensa que é dono do mundo.
Que
a mãe natureza, só faz se ele ordena.
Faz
dia suave e uma noite serena,
Que
tudo controla, segundo a segundo!
Pensar
deste modo, é ser louco profundo.
Precisa
ficar em total quarentena,
Limpar
sua mente do mal que a coordena,
E
o traz prisioneiro de um ser moribundo.
Fazer
um exame. Saber se os neurónios,
Da
sua cabeça, serão mil demónios
Que
o vão controlando satiricamente.
Pensar
de tal modo, que é modo infantil,
Está
com certeza ficando senil,
E
a poucas passadas de ser um demente!
DIA
DA MULHER
Alfredo
dos Santos Mendes
Hoje
se cantam odes à mulher.
Dizem
ser o seu dia especial.
Hoje
a mulher é glória nacional,
É
superior a tudo e a mais que houver!
O
dia chega ao fim, não é sequer,
Lembrado
o seu carinho maternal!
Tudo
volta à rotina natural...
Mais
um ano virá…Se Deus quiser!
Sendo
por este ou por aquele motivo.
Se
foi criando um dia mais festivo,
Ao
sabor do que mais se lhe aprouver...
Os
homens podem dias inventar...
Mas
por mais voltas que lhes possam dar...
Sempre
os dias serão: de ti, mulher!
ENTÃO
NÃO ME PROVOQUE
Alfredo
dos Santos Mendes
Eu
sei que o tempo há muito já passou.
O
tempo que ansiei que não passasse.
O
tempo que quisemos que parasse...
Foi
um tempo de amor que terminou!
Chama
que nos queimava se apagou.
Foi
como nossa vida se finasse.
E
tudo à nossa volta desabasse,
E
todo o nosso amor, se definhou.
Por
favor o meu nome não evoque.
Se
não me quer, então não me provoque,
Com
seu arfar ardente de desejo.
Não
quero mais sentir seus beijos loucos.
Seu
sussurrar de amor e gritos roucos...
Pois
posso me perder, num longo beijo!
EU
SINTO DEUS
Alfredo
dos Santos Mendes
Eu
sinto Deus presente em meu caminho,
Me
acalmando na dor, no sofrimento.
Sempre
a suavizar o meu lamento,
Sem
nunca me negar o seu carinho!
Amar
a Deus, é ter um bom vizinho,
Sempre
disposto a dar acolhimento.
Incentivar
alor e dar alento,
Dar
rumo à nossa vida em torvelinho!
É
ter junto de nós quem nos quer bem.
E
que nós renegamos tantas vezes,
Porque
não suportamos os revezes!
Será
que neste mundo existe alguém,
A
quem nós provocamos tanta dor,
E
apenas quer de nós, o nosso amor?
HÁ
DE HAVER TEMPO
Alfredo
dos Santos Mendes
Há
de haver tempo em mim para gritar:
A
revolta que sinto no meu peito.
Não
quero ficar preso, estar sujeito,
A
quem quer minha voz amordaçar!
A
minha boca, alguns querem calar,
E
modelar meu ser a seu preceito.
Mordaça
posta em mim eu não aceito,
Meu
tempo de falar, há de chegar.
Há
de haver tempo então para exprimir,
E
em luta de palavras esgrimir…
A
razão da revolta no meu peito!
Eu
juro, há de haver tempo p’ra provar,
Que
meio mundo nos anda a enganar,
Com
milhares de cifrões em seu proveito!
INSPIRAÇÃO
Alfredo
dos Santos Mendes
Há
muito que perdi a inspiração.
Há
muito que perdi a paciência.
Há
muito que perdi a consciência...
E
quem sabe, talvez minha razão!
Fará
sentido tanta podridão?
Existir
tanto ódio e violência?
Aonde
pára a honra e a decência?
Por
certo desertou do coração!
E
fico meditando tristemente,
Ao
ver os seres humanos, loucamente...
Destruir
tantas vidas, tanto ser!
Por
que há de ser o homem, vil, mesquinho?
Destruir
quem se cruza em seu caminho...
Quando
Deus se encarrega de o fazer?
MAIS
ELEIÇÕES
Alfredo
dos Santos Mendes
Por
vezes nos calamos por receio.
Da
ira que as palavras possam ter.
E
tememos que quem as receber,
Nos
faça sua presa, em seu enleio!
De
certas criaturas, eu descreio,
Que
alguma lealdade possa haver.
Seu
linguarar balofo, é, podem crer,
Como
se diz na gíria: só paleio!
Discursos
estudados a rigor!
Alguns
prometem tudo, até amor,
Aos
mais carenciados do país!
Mas
quando se aboletam no poder,
É
só sacar, sacar o mais que houver…
Zé-povinho
caiu, em seus ardis!
MUDANÇA
Alfredo
dos Santos Mendes
Ai
se eu pudesse meu tempo parar.
Faria
uma triagem ao passado!
Eu
que fiz da boémia, apostolado...
Todo
o mal tentaria reparar.
Mudava
minha forma de pensar.
O
jeito de viver acomodado
Ao
bel-prazer da vida acolitado
A
conjugar o verbo descansar!
Daria
um rumo certo ao meu viver.
E
nada poderia acontecer
Do
que fora uma vida de ilusão.
Toda
a felicidade que esbanjei...
Se
evaporou na vida que levei...
Resta-me
nostalgia… A solidão!
O
CARTEIRO
Alfredo
dos Santos Mendes
Saber
algo de ti é meu anseio.
Saber
notícias tuas, meu desejo.
Eu
quero receber aquele beijo,
Que
tu me mandas sempre em teu correio!
Trazem
ternura tanta, tanto enleio,
As
cartas que de ti eu tanto almejo.
Pedaço
de papel que é benfazejo.
Mata
meu sofrimento quando as leio!
E
mal rompe a manhã fico ansioso.
Desejo
um dia alegre radioso,
Com
notícias p’ra aquele que te ama!
As
horas vão passando devagar.
Desejo
ver o carteiro chegar.
Mas
sofro se o carteiro não me chama!
O
FINAL
Alfredo
dos Santos Mendes
Eu
sinto minha vida se exaurindo,
E
tudo a desabar à minha volta.
Meu
destino fugiu, se encontra à solta…
Enquanto
a morte espreita, já sorrindo.
As
portas do além se estão abrindo…
Nada
serve este estado de revolta.
Já
sinto minha vida, presa, envolta…
E
minha alma, do corpo escapulindo!
Bem
tento reverter o meu caminho.
Evitar
o futuro que adivinho…
Mas
vou sentindo as forças me faltando!
Sinto
que a minha vida se evapora.
Se
está aproximando a minha hora…
E
já vou para a tumba caminhando!
O
JOGO DA VIDA
Alfredo
dos Santos Mendes
A
vida é um jogo que Deus programou.
A
noite começa com doce fulgor,
Se
enlaçam dois corpos sedentos de amor,
Que
ardente desejo, seu fogo ateou!
Se
acende o prazer, que tal chama activou.
Os
corpos se fundem, exalam calor.
Há
sonhos, magia, e há um vencedor...
Que
em ventre materno, lugar conquistou!
Agora
mulher, o teu jogo mudou.
Mudaram
as regras, e apenas ficou,
Teu
corpo suado, com leve rubor!
Então
nove meses, irás ver passar.
Também
nove luas, irão enfeitar,
A
prova real de uma noite de amor!
O
VENTO
Alfredo
dos Santos Mendes
Por
mera brincadeira entrei num jogo,
Que
o Humberto Poeta se lembrou.
Usou
o tema “VENTO,” e então brincou,
Com
algo atiçador de tanto fogo!
O
Vento tem poderes de demagogo.
Nunca
ninguém o viu ou apalpou.
Mas
das suas rajadas já levou,
Quando
irado nos mostra o desafogo!
Embora
seja assim tão poderoso,
Todos
os consideram precioso,
Por
ajudar o mundo em seu sustento!
Em
terra, os moinhos vão rodando.
No
mar, lá vão os barcos navegando.
O
meu muito obrigado, amigo “VENTO”!
OS
AMIGOS
Alfredo
dos Santos Mendes
É
bom ter um amigo ao nosso lado.
Alguém
que a nós estenda sua mão.
Que
se comporte tal como um irmão,
Na
vigília de um sonho conturbado!
Que
sinta a nossa dor, nosso pecado.
Que
saiba ouvir a nossa confissão.
Que
saiba conceder o seu perdão,
Se
em tentação fizermos algo errado!
Que
seja nosso amparo em nossa dor.
Que
nunca nos recuse seu amor,
Tão
pouco nos imponha condição!
Amigos
verdadeiros sem maldade.
Que
me dessem assim, felicidade.
Eu
gostaria ter mais de um milhão!
PAPA
FRANCISCO
Alfredo
dos Santos Mendes
Em homenagem
ao Papa Francisco.
Ele
é um homem simples, sem vaidade.
Sua
figura, só ternura exala.
Quando
ouve uma mentira, não se cala,
Até
que tudo seja uma verdade!
Seu
rosto tem ternura, lealdade!
Suas
mãos são um berço, nos embala.
O
seu olhar tem brilho quando fala,
Seu
falar tem acordes de bondade.
No
seu peito reside um coração,
Que
imana muito amor, muita paixão,
E
quer longe de nós, o sofrimento.
Quem
se dispõe a ser o nosso abrigo.
E
considera todos, um amigo.
É
um amigo maior que o pensamento!
RETROCESSO
Alfredo
dos Santos Mendes
Eu
quero encontrar o meu tempo vivido.
Rever
meu passado, saber o que fiz.
Lembrar
travessuras enquanto petiz,
Tentar
recordar o que foi esquecido.
Trazer
à memória meu sonho perdido,
E
não me importar se foi sonho infeliz.
Se
foi pesadelo, verei seu cariz…
Então
saberei por que andara fugido.
Pretendo
saber quantas horas perdi,
Tentando
encontrar de quem sempre fugi…
Fingindo
viver uma vida com Sol.
Porém
quero ver o meu tempo passado.
Os
passos que dei, por que fui derrotado,
Deixado
a sofrer num imenso arrebol!
REVER
O PASSADO
Alfredo
dos Santos Mendes
Olhei
meu passado, tentei encontrar:
Que
mal fiz de errado? Por que ando a sofrer?
Dos
anos vividos, meus actos quis ver,
E
todos os passos eu quis vasculhar
Se
todos os anos, na paz do meu lar,
Tiveram
tristeza, ou muito prazer?
Preciso
respostas! Eu quero saber,
Se
foram risonhos, ou só mal-estar!
Meus
dias são negros. Há mais noite escura!
A
boca cerrada, mantém a secura!
É
tanto o silêncio… Que a tenho fechada!
Até
os amigos que enchiam meu lar.
Que
vinham felizes, abraços nos dar.
Por
certo esqueceram a minha morada!
SONETO
AO TEMPO QUE PASSA
Alfredo
dos Santos Mendes
Cai
a noite. A penumbra está presente.
Meus
fantasmas transportam ilusões.
Há
dúvida latente, introspeções...
E
o tempo de sonhar é tempo ausente!
Há
lapsos de memória em minha mente,
Que
me impedem lembrar recordações.
Sou
um poço sem fundo de emoções,
Resquícios
de saudade unicamente!
Etéreo
sonho sempre alimentei.
Num
recôndito espaço o resguardei,
Para
ficar imune à vilania.
Dissipou-se
a paixão, e o nosso amor,
Diluiu-se
no ar como vapor...
Se
evaporou na bruma triste e fria!
UTOPIA
Alfredo
dos Santos Mendes
Como
é bom contemplar o azul do mar.
Ver
ondas trasbordantes de ternura.
Sentir
o salpicar, toda a frescura...
O
seu sabor salgado ao nos beijar!
Olhar
à noite o Sol em seu raiar,
É
como observar uma pintura.
O
mar inebriante de candura...
Resplandece
em reflexos de luar!
É
quadro que ninguém ousa pintar.
Há
luxúria nas cores, há bailar...
Há
muita sinfonia muita cor!
Pintar
um quadro assim com tal beleza.
Unindo
o rude mar e a subtileza...
Só
Deus poderá ser esse pintor!
VIOLÊNCIA
Alfredo
dos Santos Mendes
Há
certas palavras que são venenosas.
As
sílabas são: formatadas por ódio.
Que
obrigam os olhos soltarem seu sódio,
Por
ver que elas são: vil, cruéis, acintosas!
Apenas
conjugam, as mais desastrosas.
Que
tenha em seu verbo fatal episódio.
Que
a palavra “MAL”, se vislumbre no pódio,
E
seja a eleita das mais ascorosas.
Com
tanta maldade que existe no mundo.
Há
quem a pratique sentindo-se imundo,
E
jura que o faz, pois bater tem ciência!
Dar
uma palmada. Usar um chicote.
É
como brincar, é mostrar-se fracote.
O
que dá prazer… é usar a violência.
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