Assis, SP, Brasil, 1942
Soneto ao SONETO
Cleide Canton
Relato com apreço, em dez
compassos,
uma cena ou um fato que me encanta.
sabendo que se colhe o que se planta
nesta trama de glórias e fracassos.
Por onde andarão estes meus passos
se eu calar tantos gritos na garganta...
Se gritar também sei que nada adianta,
se parar morrerão estes meus traços.
O secular insiste, então me rendo.
Não troco o que aprendi e ainda aprendo
no verso que à pureza me conduz.
A ti, SONETO, oferto este meu preito,
na busca dessa forma, sem defeito,
que tanto e tanto diz, e me seduz!
São Carlos/SP/BR, 03/01/2017
19:00 horas
19:00 horas
MARIA DAS FLORES
Cleide
Canton
Onde guardas as rosas perfumadas
os cravos, os jasmins, as
margaridas,
as palmas, as orquídeas
delicadas
violetas entre folhas
escondidas?
Onde guardas sorrisos inocentes
encantos a dourar o teu viver?
Fechados nas gavetas
inclementes
das dores que não podes
esquecer?
Onde guardas os sonhos que viveram
dançando nos teus dias? Já
morreram?
Ou dormem em alcovas
flutuantes?...
Maria, és a Maria dos amantes,
madona nos altares flamejantes
dos crédulos que ainda não
sofreram.
SP, 14/05/2009
10:30 horas
CHÃO PARTIDO
Cleide Canton
Minh'alma busca
o sonho eternizado
de ver o bem no
pódio da vitória,
traçando um novo
rumo nesta História
que se
perdeu num eixo mal traçado.
Minh'alma clama
pela mesma glória
que já se viu
em tempo já passado,
quando o certo
imperava sobre o errado
e meu povo
aplaudia a trajetória.
Havia ainda a
crença e a esperança
num amanhã
sereno e de bonança
entre as raças,
os povos e as nações.
Esse meu mundo,
um sonho amordaçado,
pecou demais,
andou demais errado
e
se encolheu nas malhas das cisões.
São Carlos/SP/Br/,
02/11/2015
22:00 horas
22:00 horas
CORPO E ALMA
Cleide Canton
Benditos pés que seguem um só rumo,
mesmo cansados, quase que despidos,
levam meu corpo sem deixar o prumo
a tantos sóis... Meus sonhos esquecidos.
Benditas asas firmes e seguras
onde minh'alma voa sorridente
com outras tantas, livres das censuras,
por entre estrelas... Uma só cadente!
Corpo e alma na dança da poesia,
chão e céu a vibrar em harmonia
no cantar de um refrão na madrugada.
Novos clarins se afinam em surdina
no descansar da lua peregrina
qu'inda ouvirá o toque da alvorada.
São Carlos/SP/Br/,09/01/2015
21:49 horas
Benditos pés que seguem um só rumo,
mesmo cansados, quase que despidos,
levam meu corpo sem deixar o prumo
a tantos sóis... Meus sonhos esquecidos.
Benditas asas firmes e seguras
onde minh'alma voa sorridente
com outras tantas, livres das censuras,
por entre estrelas... Uma só cadente!
Corpo e alma na dança da poesia,
chão e céu a vibrar em harmonia
no cantar de um refrão na madrugada.
Novos clarins se afinam em surdina
no descansar da lua peregrina
qu'inda ouvirá o toque da alvorada.
São Carlos/SP/Br/,09/01/2015
21:49 horas
BEIJANDO A
ESTRELA
Cleide Canton
Perdida entre
as demais tão desiguais,
minha estrela
ressurge lá no breu,
mostrando que
seu brilho é todo meu,
que fui
abençoada entre os mortais.
Esquecidas em
meio a vendavais,
um novo
elo entre nós permaneceu
em tempo de
incerteza, tempo ateu,
na jaula dos
desejos passionais.
Embora a
procurasse não a via
luzir nos olhos
meus, só percebia
que sobre o meu
altar permaneceu.
Bendita entre
as estrelas, minha guia,
minha força,
meu céu, minha poesia
Eu a beijo!
Você me engrandeceu!
São Carlos/SP/Br/,03/03/2015
12:40 horas
12:40 horas
ETERNO POETA
Cleide Canton
(para o Grande José Antonio Jacob)
Eu louvo este teu resto de poesia
com gosto de saudade do passado,
num tempo em que o amor era dourado
e o sonho era uma doce fantasia.
Bendigo a frágil brisa de ousadia
que faz um suspirar ser prolongado
e leva o bom poeta a ser fadado
ao tom discreto da melancolia.
Os versos vão surgindo, com destreza,
da mente que não nega uma tristeza,
mas lembra que também já foi amado.
E desse amor que torna vez em quando,
lembranças no presente vão vagando
em temas que te fazem venerado.
São Carlos/SP/Br/,12/09/2015
0:55 horas
ABRAÇANDO O
NOVO
Cleide Canton
Que seja a
melodia do passado.
cenário que
aplaudiu uma ilusão.
estrofe que se
pôs na contramão
do rumo que já
fora bem traçado.
Se nela
ainda se vê o bem sonhado
despido dos
ditames da paixão.
permita que lhe
invada o coração
o sopro de um
acorde estruturado.
E a velha
melodia vai surgindo
em lágrimas,
talvez, e se inserindo
na nova que o
presente vai compor.
E o teu sorriso
toma a dianteira.
tão solto como
fosse a vez primeira
a debutar num
mundo só de amor.
São Carlos/SP/Br/,19/04/2015
12:48 horas
12:48 horas
ALÉM DOS MUROS
Cleide Canton
As heras que revestem os meus muros
para não parecerem prisionais,
rebordam de dourados meus escuros
sedentos de fazerem-se imortais.
Jardins estão além dessas barreiras
com flores que se mostram para o sol,
do início destas ruas às fronteiras,
no rumo em que se avista o meu farol.
Além, bem mais além eu não diviso
limites que aparecem, de improviso,
sorrindo dos meus medos ancestrais,
Além, bem mais além destes meus muros
escondem-se os anseios prematuros
no aguardo dos encaixes temporais.
São Carlos/SP/Br/,08/03/2015
15:30 horas
15:30 horas
MESCLAS
Cleide
Canton
Verdes
e azuis misturam-se no espaço
onde
os sons não permitem dissonância
e
os tempos se confundem na distância
e
nos temas que fogem do cansaço.
O
belo ainda persiste na constância
deixando
ao largo as penas do fracasso,
voltado
tão somente ao contrapasso,
distante
dos apelos da arrogância.
Se
agora não percebo essa beleza,
um
dia ainda verei quanta riqueza
existiu
ao redor do meu caminho
na
lágrima rolada, sem sentido,
do
coração que outrora foi partido
mas
em momento algum ficou sozinho.
14:08 horas
VISÃO
Cleide Canton
Cleide Canton
Perdida aqui, num barco ainda sem rumo,
entre tantas agruras eu me vejo,
que ao ver tanta beleza só desejo
usar a mesma linha no meu prumo.
entre tantas agruras eu me vejo,
que ao ver tanta beleza só desejo
usar a mesma linha no meu prumo.
Do chão um voo lento então assumo
a visão bem maior do meu ensejo
de dar a quem merece este meu beijo
e abraços nestas linhas que resumo.
a visão bem maior do meu ensejo
de dar a quem merece este meu beijo
e abraços nestas linhas que resumo.
São versos bem talhados, consistentes,
repletos de ternuras persistentes
vagando sob a lua, sem temor!
repletos de ternuras persistentes
vagando sob a lua, sem temor!
São versos que rubricam a amizade
levando para além da eternidade
as verdadeiras falas de um amor.
levando para além da eternidade
as verdadeiras falas de um amor.
São Carlos/SP/Br/,09/02/2014
22:10 horas
22:10 horas
CUIDA DE TI,
PLUTÃO
Cleide Canton
Cuida de ti,
Plutão, perdeste o posto!
Se continuas
sendo o que já eras
na dança em que
buscavas primaveras,
persista no que
a ti já foi proposto.
Deixa à mostra
a beleza do teu rosto,
as lágrimas que
correm e são meras,
as dores que
rodeiam tuas esperas...
Setembro
chegará! Assume o agosto!
Investe no que
fazes, sem temor,
trabalha o teu
melhor em qualquer cor,
arranca do teu
peito a covardia.
O amanhã
vai dizer-te da beleza
do universo a
tingir-se de tristeza
neste tempo a
chover melancolia.
São Carlos/SP/Br/,25/07/2015
13:28 horas
13:28 horas
Cleide Canton
Em sendo assim
deponho minha espada,
recolho meus
tropeços, mas não choro.
Meus ais não se
ouvirão nem eu imploro
por chuvas de
verão na minha estrada.
A lenda que
criei foi apagada
e o canto
que eu não canto é mais sonoro.
Os versos
qu'inda faço e não decoro
valseiam numa página
virada.
Minhas mãos que
aplaudiam sem cessar
cada nuvem que
pairava sobre o mar
descansam nesta
fase vespertina.
Mas o olhar
ainda brilha de esperança
ao ouvir um
sorriso de criança
em meio à
multidão que desafina.
São Carlos/SP/Br/,17/07/2016
23:15 horas
23:15 horas
ERROS E ACERTOS
Cleide Canton
Cleide Canton
Eu amo um rouxinol num arvoredo,
sabiás chilreando em meu jardim,
os pardais em rasantes junto a mim
como um bloco a dançar um samba enredo.
sabiás chilreando em meu jardim,
os pardais em rasantes junto a mim
como um bloco a dançar um samba enredo.
Eu amo o amanhecer que surge assim
e esconde a noite cálida em degredo.
Eu amo o colibri que vem sem medo
roubar o doce néctar do jasmim.
e esconde a noite cálida em degredo.
Eu amo o colibri que vem sem medo
roubar o doce néctar do jasmim.
Eu amo a chuva e o vento em noite calma,
em festa no aconchego da minh'alma
ao ver sorrirem verdes já cansados.
em festa no aconchego da minh'alma
ao ver sorrirem verdes já cansados.
Eu amo este voar vezes sem rumo
que mostram-me mil erros, mas assumo:
Valeram-me os acertos conquistados!
que mostram-me mil erros, mas assumo:
Valeram-me os acertos conquistados!
São Carlos/SP/Br/,21/02/2014
21:30 horas
21:30 horas
NO LIMIAR DO
SONHO
Cleide Canton
Se queres um
adeus não te demores
nas falas desprovidas
de verdades
que apenas
satisfazem as vaidades,
embora nem tu
mesma comemores.
Se queres
esquecer prioridades,
limpar dos teus
caminhos os amores,
não tires dos
meus olhos estas cores
que brilham
ainda por ti, sem falsidades.
O amor não sobrevive
sem respeito,
sem algo a mais
que limpe do meu peito
a mágoa por não
ter-te como dantes.
Amar-te para
mim não é castigo,
mas fere a
cada beijo que mitigo
no leito onde
se abraçam os amantes.
São Carlos/SP/Br/,07/03/2014
11:30 horas
11:30 horas
DO QUE GOSTO
Cleide Canton
Cleide Canton
Eu gosto do céu que se veste de
cores,
das aves cantantes voando
libertas,
do verde das matas mesclado de
flores,
do vento que dança nas valas
abertas.
Não gosto das guerras cobertas de
horrores,
da espada que fere, das balas
incertas,
das tramas urdidas que dobram
valores
aos pés dos cruzantes
de rotas desertas.
Mas gosto do abraço em total
sintonia,
do riso que paira
e jamais perde a graça,
da dança da vida que move a
alegria.
Eu gosto de ver toda
a banda que passa,
que brinca de ser provocando
euforia
e afasta do olhar essa negra
fumaça.
São Carlos/SP/Br/,17/11/2013
15:30 horas
15:30 horas
FRACASSOS
Cleide Canton
Cleide Canton
Jogada entre as espumas flutuantes
debate-se uma estrofe de estribilho
em lágrimas lustrando o próprio brilho
perdido na amargura dos mutantes.
Depressa despe o traje maltrapilho
crivado de bolores relutantes
e torna ao rol dos poucos figurantes
na luta por rodar no mesmo trilho.
Na partitura velha e corroída
procura um tom maior como guarida
da audácia de bemóis e sustenidos.
Não tardam a surgir os corretivos,
e a peça recoberta de atrativas
renasce dos fracassos delinquidos.
São Carlos/SP/Br/,22/03/2014
10:40 horas
10:40 horas
MINHAS MÃOS
Cleide Canton
Eu
as contemplo unidas numa prece,
vincadas pelo
tempo em seu furor,
vibrando mais
que nunca pelo amor
oculto nos
escombros que as aquece.
Eu as deixo no
sono que enriquece
seus feitos sem
as garras do temor,
buscando ainda
a febre, com vigor,
no impulso do
fazer que as enobrece.
Duas mãos,
desgastadas mas benditas,
esquecidas na
cena das desditas,
só
plantando sementes de harmonia.
Minhas mãos,
neste canto as enalteço
por
valores que têm e não tem preço,
por
tanto que fizeram e eu não via.
São Carlos/SP/Br/,
12/07/2015
18:30 horas
18:30 horas
PASSO EM COMPASSO
Cleide Canton
Se um dia envelheci sem me dar
conta
e a lágrima secou lustrando o
riso,
o que mais, nestes tempos, eu
preciso
para ver a moldura em tela pronta?
Pensar num amanhã não mais afronta
desejos mal traçados de improviso,
paixões que no horizonte não diviso,
razões cuja razão não amedronta.
A luz na escuridão foi desnudada,
as portas todas foram destrancadas
e um novo sol espera por nascer.
Os ventos se tornaram delicados
ao balouçar os galhos já
cansados,
na festa de mais um amanhecer.
São Carlos/SP/Br/,12/02/2016
4:52 horas
4:52 horas
COMANDO
Cleide Canton
Abraça-me o tom róseo e acinzentado,
comprime este meu peito em agonia,
derrama-me o silêncio, a apatia,
derrota-me o viver descompassado.
comprime este meu peito em agonia,
derrama-me o silêncio, a apatia,
derrota-me o viver descompassado.
O sol responde ao canto amordaçado
com laços de calor. Que covardia!
Nem mesmo o meu silêncio alguém ouvia...
Nem mesmo o meu gritar era escutado.
com laços de calor. Que covardia!
Nem mesmo o meu silêncio alguém ouvia...
Nem mesmo o meu gritar era escutado.
Repentes dessas cores flutuantes
se mesclam e definem, em instantes,
um sentimento que se faz senhor.
se mesclam e definem, em instantes,
um sentimento que se faz senhor.
E a brisa me socorre em voz silente,
define o que se torna então premente:
Na vida quem comanda é só o amor!
define o que se torna então premente:
Na vida quem comanda é só o amor!
São Carlos/SP/Br/,21/09/2015
19:12 horas
19:12 horas
FEITIÇO
Cleide Canton
Por onde voam meus sonhos saltarilhos,
devaneios discretos, bem traçados,
incautos, pelos ventos devorados
aos pés dos meus luares maltrapilhos?
Por onde andam os tantos empecilhos
vestidos em véus negros, ultrajados,
espadas e grilhões direcionados
à trama de vedar os poucos brilhos?
A fonte em desespero, em agonia,
procura o seu orgulho e num só dia
invoca, em altos brados, seu mentor.
Renasce da pureza um outro verso
que nutre, na poesia, o já disperso
encanto feiticeiro e redentor.
São Carlos/SP/Br/,29/05/2016
16:40 horas
16:40 horas
TANTO EU QUIS
Cleide Canton
Tanto quis dizer-te, certa que ouvirias,
das loucas magias que minh'alma canta
em prece tão santa, em doces melodias,
tolas nostalgias que a saudade planta.
Tanto eu quis ouvir-te no cantar do vento,
ao buscar alento, fraca e desmedida,
na noite perdida, cega e em passo lento,
neste tal tormento que me fez vencida.
Tanto eu quis amar-te, tanto eu quis nem sei,
que me embebedei, na farsa da alegria,
plena letargia sem meu astro-rei.
Tanto me perdi em meio ao desencanto
que me fiz só pranto, que me fiz vazia,
que me fiz, um dia, pedestal de santo.
São Paulo/SP/Br/,18/02/2006
16:00 horas
16:00 horas
SEARAS
Cleide Canton
Encantam meu
viver teus versos puros,
estrofes bem
formadas, sem aparas,
teus sonhos
escondidos em searas
de flores
que iluminam teus escuros.
E todas as
sementes são tão raras
que brotam e
se expandem pelos muros,
tornando teus
conceitos mais seguros
e livres como
os sonhos que sonharas.
Plantaste! Hás
de colher o que mereces!
Ouviram teu
clamor em tantas preces
que os anjos já
conhecem teu cantar.
E criam novos
sons em harmonia
nas harpas que
o teu ego acaricia
trazendo um
novo brilho nesse olhar.
São Carlos/SP/Br/, 23/02/2014
23:50 horas
23:50 horas
DEPOIS
Cleide Canton
Depois de um grande amor uma
saudade,
depois do adeus um resto de
esperança,
depois do pranto a dor que não
descansa,
depois... Um gosto amargo,
sem piedade!
Depois da intransigência uma
censura,
depois de seus perdões
um gesto ameno,
depois de mil afagos um
veneno,
depois... Só o silêncio da
amargura!
Depois das tempestades a bonança,
depois as nuvens brancas que se
alcança,
depois um doce beijo... E a
despedida.
Depois a fé se perde sem destino,
depois o grande faz-se pequenino.
Depois, logo depois... Alma
perdida!
São Carlos/SP/Br/,10/06/2012
21:18 horas
21:18 horas
AUTO DOS COMPADECIDOS
Cleide Canton
Não deites essas lágrimas nos
veios
por onde já jorraram fantasias,
se puras se fizeram alquimias
no fim equidistante dos seus
meios.
Não sejas o farol longe de guias
nem lume a alvoroçar os
meus permeios.
Jamais aplacarás os meus anseios
na trégua que permito às alegrias.
Navego sobre mares sem segredos,
gadanhos a romper todos os medos
que cruzam os caminhos para o bem.
Guardados e seguros meus enredos,
bem longe desses teus olhares
ledos
que logram respeitar o meu amém.
São Paulo/SP/Br/, 22/04/2009
16:00 horas
16:00 horas
BOA NOITE,
SONHO
Cleide Canton
A ti me curvo, em noite enluarada,
no doce aceno, festa de harmonia,
no adormecer do pranto em covardia,
no despertar da cálida alvorada.
A ti me entrego, mal se pondo o dia
trazendo à vida a chama inacabada
da antiga vela, gasta e amarelada
num benfazejo sopro de magia.
A ti me abraço, plena e confiante
garbosa noite, berço azul bisonho
que faz brotar a rima debutante,
neste vazio, abismo que transponho,
louvando a vida, grata e sempre amante
do anoitecer... Encontro um novo sonho.
São Paulo/SP/Br/,04/03/2008
10:00 horas
10:00 horas
MEU ANJO AZUL
Cleide Canton
Cleide Canton
Encontro nos teus contos o meu canto,
envolto ainda em sonhos cristalinos,
alheio a dissabores peregrinos,
perdidos no perdido do meu pranto.
E cobre-se de azul o terno manto,
tecido com agulhas maestrinas,
num céu onde as estrelas pequeninas
rebordam as bandeiras que levanto.
E surges, atendendo ao meu chamado,
meu anjo azul de Vênus batizado,
soprando aos ventos brandos seu clamor.
Invade-me o frescor da madrugada,
e aos braços dele entrego-me, cansada,
num áureo alar de cândido esplendor.
São Paulo/SP/Br/,11/07/2008
00:40 horas
00:40 horas
TONS
Cleide Canton
Cleide Canton
Tombada fronte em meio à insensatez
do jogo de palavras impensadas,
nos frutos dos ardis das madrugadas
às voltas com os fins sem mais porquês.
As linhas vão surgindo desgarradas
do tema que afugenta a pequenez,
brincando no quem sabe ou no talvez
das horas que antecedem alvoradas.
Um broto à luz do sol mostrou a cor,
rasgando a terra virgem com vigor
em meio ao verde musgo do gramado.
Quem sabe mostrará sua ternura
ao mundo ensandecido e sem doçura
que esquece, da poesia, o tom sagrado.
São Carlos/SP/Br/, 17/05/2013
18:50 horas
18:50 horas
EXALTAÇÃO À MULHER
Cleide Canton
Exalto a ti, Nirvana das Nirvanas,
farol maior num mar sem calmarias,
qu'inda sonha e projeta, em fantasias,
luzes azuis no altar que não profanas.
Exalto a ti, senhora das campanas,
em noites altas, longos são os dias,
para buscar as poucas alegrias
a dançarem em lágrimas tiranas.
Exalto a ti, senhora entre senhoras,
que traz no riso as lágrimas que choras
ao perceberes sombras nas quimeras.
Exalto a ti, mulher a qualquer hora,
a perfumar teu cetro e teu afora
mesmo que longe estejam primaveras.
São Carlos/SP/Br/, 04/03/2013
11:40 horas
11:40 horas
VELHA CENA
Cleide Canton
Paira o olhar a
cobrir a velha cena
onde a
luz desgastada se avizinha
ao
sufoco desta ânsia que é só minha,
vestígios de
uma história tão pequena.
Fala alto
aquela voz, então serena,
apelo de
uma prece em ladainha,
a invocar o
penhor da Mãe-rainha
toda azul em
bordado de verbena.
Escondida num
grito de esperança,
ao beber dessa
taça quase alcança
sensações de
vertentes cristalinas.
Cruza o
tempo, o passado faz presença.
Foge a dor,
volta à tona a antiga crença,
desperta em luz
de velas dançarinas.
São Paulo/SP/Br/,17/04/2008
9:00 horas
9:00 horas
ETERNA BUSCA
Cleide Canton
Acordo a criatura um tanto ousada
em fomes de desejos incontidos,
na fonte onde morrem, escondidos,
princípios para a paz tão desejada.
Afogo os malefícios pervertidos
no lodo dessa fossa mal fechada,
que faz do amor a fala malfadada
em meios a lamentos denegridos.
Da luz que pouco vemos, quase nada
apraz às mentes sãs, votos vencidos,
na luta que travamos, desregrada.
No sótão dos valores esquecidos
encontro esta canção inacabada,
que ainda busca tons setempartidos.
São Paulo/SP/Br/,13/08/2008
14:15 horas
14:15 horas
"PRIMA ROSA"
Cleide Canton
Ouça o outubro! Desperta a rosa triste
em botão ainda tímido e sem cor,
com medo de abraçar o desamor
do joio, mas o trigo é que persiste.
Primavera, na busca do esplendor,
percebe que no bem o mal existe
e mostra a essa platéia que a assiste
o botão a descobrir o seu valor.
Abrem-se em festa as pétalas sedosas
amparadas por folhas primorosas
ao sol envaidecido em seu mister.
Balança nos seus galhos flutuantes,
sorri dos desacertos dos amantes...
Pureza no amor é o que ela quer.
São Carlos/SP/Br/,04/10/2016
14:04 horas
14:04 horas
CÉU NO CHÃO
Cleide Canton
Lá fora o céu
azul já não alcanço,
nem sons de
querubins ouvir consigo.
É certo que
essa paz qu'inda persigo
se esconde
nesta pista onde não danço.
Revolvo o que
me veda e aqui comigo
retorno às
rédeas deste meu remanso.
Descarto a
corda bamba em que balanço
e firmo-me no
chão que é mais amigo.
Colher as
flores belas replantadas,
mover todas as
folhas ressecadas
e olhar
as formiguinhas carpideiras,
acordam mil
sorrisos neste pranto
enterram o
desgosto, o desencanto,
no vale onde
não vingam trepadeiras.
São Carlos, 08/11/2013
17:30 horas
17:30 horas
MINHA PENA
Cleide Canton
Busco-me no
silêncio que aproxima
a causa de um
efeito indesejado
num erro cometido
sem pecado
na voz que. de
repente, subestima.
Dizer é sempre bom
quando se prima
pelo bem que se
quer ver propagado
na
forma universal de certo e errado,
no anseio de seguir
degraus acima.
Se um dia minha voz
fizer-se ouvida
causando nova dor
nessa ferida
que há muito
deveria estar curada,
perdoe a ousadia
desta pena
que muita vez se
põe de quarentena
sem perceber o
quanto foi amada.
São Carlos/SP/Br/ 24/11/2016
16:00 horas
16:00 horas
Cleide, belíssimo soneto! Destaque para
ResponderExcluir"Onde guardas sorrisos inocentes
encantos a dourar o teu viver?
Fechados nas gavetas inclementes
das dores que não podes esquecer?"
Lindíssimo!
Beijão
Ruth
Cleide minha querida, dizer sobre o seu talento é repetir tudo de bom e maravilhoso que você tem feito para o atual lirismo brasileiro. Sinto-me orgulhosa por fazer parte do seu rol de amigas reais.Meus aplausos sempre, amiga querida.
ResponderExcluirBeijos,
Astir
Querida Cleide, amiga do coração, o prazer de ler seus versos é algo indescritível. Minh'alma se lava em uma fonte de beleza que purifica todo o meu ser. è puro encantamento!
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