Cleide Canton

Assis, SP, Brasil, 1942

Soneto ao SONETO
Cleide Canton

Relato com apreço, em dez compassos,
uma cena ou um fato que me encanta.
sabendo que se colhe o que se planta
nesta trama de glórias e fracassos.

Por onde andarão estes meus passos
se eu calar tantos gritos na garganta...
Se gritar também sei que nada adianta,
se parar morrerão estes meus traços.

O secular insiste, então me rendo.
Não troco o que aprendi e ainda aprendo
no verso que à pureza me conduz.

A ti, SONETO, oferto este meu preito,
na busca dessa forma, sem defeito,
que tanto e tanto diz, e me seduz!

São Carlos/SP/BR, 03/01/2017 
19:00 horas


MARIA DAS FLORES
Cleide Canton

Onde guardas as rosas perfumadas
os cravos, os jasmins, as margaridas,
as palmas, as orquídeas delicadas
violetas entre folhas escondidas?

Onde guardas sorrisos inocentes
encantos a dourar o teu viver?
Fechados nas gavetas inclementes
das dores que não podes esquecer?

Onde guardas os sonhos que viveram
dançando nos teus dias? Já morreram?
Ou dormem em alcovas flutuantes?...

Maria, és a Maria dos amantes,
madona nos altares flamejantes
dos crédulos que ainda não sofreram.

SP, 14/05/2009
10:30 horas


CHÃO PARTIDO
Cleide Canton

Minh'alma busca o sonho eternizado
de ver o bem no pódio da vitória,
traçando um novo rumo nesta História
que se perdeu num eixo mal traçado.

Minh'alma clama pela mesma glória
que já se viu em tempo já passado,
quando o certo imperava sobre o errado
e meu povo aplaudia a trajetória.

Havia ainda a crença e a esperança
num amanhã sereno e de bonança
entre as raças, os povos e as nações.

Esse meu mundo, um sonho amordaçado,
pecou demais, andou demais errado
e se encolheu nas malhas das cisões.

São Carlos/SP/Br/, 02/11/2015  
22:00 horas

  
CORPO E ALMA
Cleide Canton

Benditos pés que seguem um só rumo,
mesmo cansados, quase que despidos,
levam meu corpo sem deixar o prumo
a tantos sóis... Meus sonhos esquecidos.

Benditas asas firmes e seguras
onde minh'alma voa sorridente
com outras tantas, livres das censuras,
por entre estrelas... Uma só cadente!

Corpo e alma na dança da poesia,
chão e céu a vibrar em harmonia
no cantar de um refrão na madrugada.

Novos clarins se afinam em surdina
no descansar da lua peregrina
qu'inda ouvirá o toque da alvorada.

São Carlos/SP/Br/,09/01/2015  
21:49 horas

  
BEIJANDO A ESTRELA
Cleide Canton

Perdida entre as demais tão desiguais,
minha estrela ressurge lá no breu,
mostrando que seu brilho é todo meu,
que fui abençoada entre os mortais.

Esquecidas em meio a vendavais,
um novo elo entre nós permaneceu
em tempo de incerteza, tempo ateu,
na jaula dos desejos passionais.

Embora a procurasse não a via
luzir nos olhos meus, só percebia
que sobre o meu altar permaneceu.

Bendita entre as estrelas, minha guia,
minha força, meu céu, minha poesia
Eu a beijo! Você me engrandeceu!

São Carlos/SP/Br/,03/03/2015  
12:40 horas

   
ETERNO POETA
Cleide Canton
(para o Grande José Antonio Jacob)

Eu louvo este teu resto de poesia
com gosto de saudade do passado,
num tempo em que o amor era dourado
e o sonho era uma doce fantasia.

Bendigo a frágil brisa de ousadia
que faz um suspirar ser prolongado
e leva o bom poeta a ser fadado
ao tom discreto da melancolia.

Os versos vão surgindo, com destreza,
da mente que não nega uma tristeza,
mas lembra que também já foi amado.

E desse amor que torna vez em quando,
lembranças no presente vão vagando
em temas que te fazem venerado.

São Carlos/SP/Br/,12/09/2015
0:55 horas

  
ABRAÇANDO O NOVO
Cleide Canton

Que seja a melodia do passado.
cenário que aplaudiu uma ilusão.
estrofe que se pôs na contramão
do rumo que já fora bem traçado.

Se nela ainda se vê o bem sonhado
despido dos ditames da paixão.
permita que lhe invada o coração
o sopro de um acorde estruturado.

E a velha melodia vai surgindo
em lágrimas, talvez, e se inserindo
na nova que o presente vai compor.

E o teu sorriso toma a dianteira.
tão solto como fosse a vez primeira
a debutar num mundo só de amor.

São Carlos/SP/Br/,19/04/2015  
12:48 horas

  
ALÉM DOS MUROS
Cleide Canton

As heras que revestem os meus muros
para não parecerem prisionais,
rebordam de dourados meus escuros
sedentos de fazerem-se imortais.

Jardins estão além dessas barreiras
com flores que se mostram para o sol,
do início destas ruas às fronteiras,
no rumo em que se avista o meu farol.

Além, bem mais além eu não diviso
limites que aparecem, de improviso,
sorrindo dos meus medos ancestrais,

Além, bem mais além destes meus muros
escondem-se os anseios prematuros
no aguardo dos encaixes temporais.

São Carlos/SP/Br/,08/03/2015   
15:30 horas

   
MESCLAS
Cleide Canton 

Verdes e azuis misturam-se no espaço
onde os sons não permitem dissonância
e os tempos se confundem na distância
e nos temas que fogem do cansaço.

O belo ainda persiste na constância
deixando ao largo as penas do fracasso,
voltado tão somente ao contrapasso,
distante dos apelos da arrogância.

Se agora não percebo essa beleza,
um dia ainda verei quanta riqueza
existiu ao redor do meu caminho

na lágrima rolada, sem sentido,
do coração que outrora foi partido
mas em momento algum ficou sozinho.
  
São Carlos/SP/Br/,03/02/2018   
14:08 horas

  
VISÃO
Cleide Canton

Perdida aqui, num barco ainda sem rumo,
entre tantas agruras eu me vejo,
que ao ver tanta beleza só desejo
usar a mesma linha no meu prumo.

Do chão um voo lento então assumo
a visão bem maior do meu ensejo
de dar a quem merece este meu beijo
e abraços nestas linhas que resumo.

São versos bem talhados, consistentes,
repletos de ternuras persistentes
vagando sob a lua, sem temor!

São versos que rubricam a amizade
levando para além da eternidade
as verdadeiras falas de um amor.

São Carlos/SP/Br/,09/02/2014 
 22:10 horas

  
CUIDA DE TI, PLUTÃO
Cleide Canton

Cuida de ti, Plutão, perdeste o posto!
Se continuas sendo o que já eras
na dança em que buscavas primaveras,
persista no que a ti já foi proposto.

Deixa à mostra a beleza do teu rosto,
as lágrimas que correm e são meras,
as dores que rodeiam tuas esperas...
Setembro chegará! Assume o agosto!

Investe no que fazes, sem temor,
trabalha o teu melhor em qualquer cor,
arranca do teu peito a covardia.

O amanhã vai dizer-te da beleza
do universo a tingir-se de tristeza
neste tempo a chover melancolia.

São Carlos/SP/Br/,25/07/2015
13:28 horas

   
EM SENDO ASSIM...
Cleide Canton

Em sendo assim deponho minha espada,
recolho meus tropeços, mas não choro.
Meus ais não se ouvirão nem eu imploro
por chuvas de verão na minha estrada.

A lenda que criei foi apagada
e o canto que eu não canto é mais sonoro.
Os versos qu'inda faço e não decoro
valseiam numa página virada.

Minhas mãos que aplaudiam sem cessar
cada nuvem que pairava sobre o mar
descansam nesta fase vespertina.

Mas o olhar ainda brilha de esperança
ao ouvir um sorriso de criança
em meio à multidão que desafina.

São Carlos/SP/Br/,17/07/2016 
23:15 horas

  
ERROS E ACERTOS
Cleide Canton

Eu amo um rouxinol num arvoredo,
sabiás chilreando em meu jardim,
os pardais em rasantes junto a mim
como um bloco a dançar um samba enredo.

Eu amo o amanhecer que surge assim
e esconde a noite cálida em degredo.
Eu amo o colibri que vem sem medo
roubar o doce néctar do jasmim.

Eu amo a chuva e o vento em noite calma,
em festa no aconchego da minh'alma
ao ver sorrirem verdes já cansados.

Eu amo este voar vezes sem rumo
que mostram-me mil erros, mas assumo:
Valeram-me os acertos conquistados!

São Carlos/SP/Br/,21/02/2014 
21:30 horas

  
NO LIMIAR DO SONHO
Cleide Canton

Se queres um adeus não te demores
nas falas desprovidas de verdades
que apenas satisfazem as vaidades,
embora nem tu mesma comemores.

Se queres esquecer prioridades,
limpar dos teus caminhos os amores,
não tires dos meus olhos estas cores
que brilham ainda por ti, sem falsidades.

O amor não sobrevive sem respeito,
sem algo a mais que limpe do meu peito
a mágoa por não ter-te como dantes.

Amar-te para mim não é castigo,
mas fere a cada beijo que mitigo
no leito onde se abraçam os amantes.

São Carlos/SP/Br/,07/03/2014 
11:30 horas

  
DO QUE GOSTO
Cleide Canton

Eu gosto do céu que se veste de cores,
das aves cantantes voando libertas,
do verde das matas mesclado de flores,
do vento que dança nas valas abertas.

Não gosto das guerras cobertas de horrores,
da espada que fere, das balas incertas,
das tramas urdidas que dobram valores
aos pés dos cruzantes de rotas desertas.

Mas gosto do abraço em total sintonia,
do riso que paira e jamais perde a graça,
da dança da vida que move a alegria.

Eu gosto de ver toda a banda que passa,
que brinca de ser provocando euforia
e afasta do olhar essa negra fumaça.

São Carlos/SP/Br/,17/11/2013  
15:30 horas

   
FRACASSOS
Cleide Canton

Jogada entre as espumas flutuantes
debate-se uma estrofe de estribilho
em lágrimas lustrando o próprio brilho
perdido na amargura dos mutantes.

Depressa despe o traje maltrapilho
crivado de bolores relutantes
e torna ao rol dos poucos figurantes
na luta por rodar no mesmo trilho.

Na partitura velha e corroída
procura um tom maior como guarida
da audácia de bemóis e sustenidos.

Não tardam a surgir os corretivos,
e a peça recoberta de atrativas
renasce dos fracassos delinquidos.

São Carlos/SP/Br/,22/03/2014  
10:40 horas

  
MINHAS MÃOS
Cleide Canton

Eu as contemplo unidas numa prece,
vincadas pelo tempo em seu furor,
vibrando mais que nunca pelo amor
oculto nos escombros que as aquece.

Eu as deixo no sono que enriquece
seus feitos sem as garras do temor,
buscando ainda a febre, com vigor,
no impulso do fazer que as enobrece.

Duas mãos, desgastadas mas benditas,
esquecidas na cena das desditas,
só plantando sementes de harmonia.

Minhas mãos, neste canto as enalteço
por valores que têm e não tem preço,
por tanto que fizeram e eu não via.

São Carlos/SP/Br/, 12/07/2015  
18:30 horas

  
PASSO EM COMPASSO
Cleide Canton

Se um dia envelheci sem me dar conta
e a lágrima secou lustrando o riso,
o que mais, nestes tempos, eu preciso
para ver a moldura em tela pronta?

Pensar num amanhã não mais afronta
desejos mal traçados de improviso,
paixões que no horizonte não diviso,
razões cuja razão não amedronta.

A luz na escuridão foi desnudada,
as portas todas foram destrancadas
e um novo sol espera por nascer.

Os ventos se tornaram delicados
ao balouçar os galhos já cansados,
na festa de mais um amanhecer.

São Carlos/SP/Br/,12/02/2016 
 4:52 horas

   
COMANDO
Cleide Canton

Abraça-me o tom róseo e acinzentado,
comprime este meu peito em agonia,
derrama-me o silêncio, a apatia,
derrota-me o viver descompassado.

O sol responde ao canto amordaçado
com laços de calor. Que covardia!
Nem mesmo o meu silêncio alguém ouvia...
Nem mesmo o meu gritar era escutado.

Repentes dessas cores flutuantes
se mesclam e definem, em instantes,
um sentimento que se faz senhor.

E a brisa me socorre em voz silente,
define o que se torna então premente:
Na vida quem comanda é só o amor!

São Carlos/SP/Br/,21/09/2015 
 19:12 horas
  

FEITIÇO
Cleide Canton

Por onde voam meus sonhos saltarilhos,
devaneios discretos, bem traçados,
incautos, pelos ventos devorados
aos pés dos meus luares maltrapilhos?

Por onde andam os tantos empecilhos
vestidos em véus negros, ultrajados,
espadas e grilhões direcionados
à trama de vedar os poucos brilhos?

A fonte em desespero, em agonia,
procura o seu orgulho e num só dia
invoca, em altos brados, seu mentor.

Renasce da pureza um outro verso
que nutre, na poesia, o já disperso
encanto feiticeiro e redentor.

São Carlos/SP/Br/,29/05/2016  
 16:40 horas

   
TANTO  EU  QUIS
Cleide Canton

Tanto quis dizer-te, certa que ouvirias,
das loucas magias que minh'alma canta
em prece tão santa, em doces melodias,
tolas nostalgias que a saudade planta.

Tanto eu quis ouvir-te no cantar do vento,
ao buscar alento, fraca e desmedida,
na noite perdida, cega e em passo lento,
neste tal tormento que me fez vencida.

Tanto eu quis amar-te, tanto eu quis nem sei,
que me embebedei, na farsa da alegria,
plena letargia sem meu astro-rei.

Tanto me perdi em meio ao desencanto
que me fiz só pranto, que me fiz vazia,
que me fiz, um dia, pedestal de santo.

São Paulo/SP/Br/,18/02/2006  
16:00 horas

  
SEARAS
Cleide Canton

Encantam meu viver teus versos puros,
estrofes bem formadas, sem aparas,
teus sonhos escondidos em searas
de flores que iluminam teus escuros.

E todas as sementes são tão raras
que brotam e se expandem pelos muros,
tornando teus conceitos mais seguros
e livres como os sonhos que sonharas.

Plantaste! Hás de colher o que mereces!
Ouviram teu clamor em tantas preces
que os anjos já conhecem teu cantar.

E criam novos sons em harmonia
nas harpas que o teu ego acaricia
trazendo um novo brilho nesse olhar.

São Carlos/SP/Br/, 23/02/2014 
 23:50 horas


DEPOIS
Cleide Canton

Depois de um grande amor uma saudade,
depois do adeus um resto de esperança,
depois do pranto a dor que não descansa,
depois... Um gosto amargo, sem piedade!

Depois da intransigência uma censura,
depois de seus perdões um gesto ameno,
depois de mil afagos um veneno,
depois... Só o silêncio da amargura!

Depois das tempestades a bonança,
depois as nuvens brancas que se alcança,
depois um doce beijo... E a despedida.

Depois a fé se perde sem destino,
depois o grande faz-se pequenino.
Depois, logo depois... Alma perdida!

São Carlos/SP/Br/,10/06/2012  
21:18 horas

  
AUTO DOS COMPADECIDOS
Cleide Canton

Não deites essas lágrimas nos veios
por onde já jorraram fantasias,
se puras se fizeram alquimias
no fim equidistante dos seus meios.

Não sejas o farol longe de guias
nem lume a alvoroçar os meus permeios.
Jamais aplacarás os meus anseios
na trégua que permito às alegrias.

Navego sobre mares sem segredos,
gadanhos a romper todos os medos
que cruzam os caminhos para o bem.

Guardados e seguros meus enredos,
bem longe desses teus olhares ledos
que logram respeitar o meu amém.

São Paulo/SP/Br/, 22/04/2009 
16:00 horas

  
BOA NOITE, SONHO
Cleide Canton

A ti me curvo, em noite enluarada,
no doce aceno, festa de harmonia,
no adormecer do pranto em covardia,
no despertar da cálida alvorada.

A ti me entrego, mal se pondo o dia
trazendo à vida a chama inacabada
da antiga vela, gasta e amarelada
num benfazejo sopro de magia.

A ti me abraço, plena e confiante
garbosa noite, berço azul bisonho
que faz brotar a rima debutante,

neste vazio, abismo que transponho,
louvando a vida, grata e sempre amante
do anoitecer... Encontro um novo  sonho.

São Paulo/SP/Br/,04/03/2008  
10:00 horas

   
MEU ANJO AZUL
Cleide Canton

Encontro nos teus contos o meu canto,
envolto ainda em sonhos cristalinos,
alheio a dissabores peregrinos,
perdidos no perdido do meu pranto.
                  
E cobre-se de azul o terno manto,
tecido com agulhas maestrinas,
num céu onde as estrelas pequeninas
rebordam as bandeiras que levanto.
                  
E surges, atendendo ao meu chamado,
meu anjo azul de Vênus batizado,
soprando aos ventos brandos seu clamor.
                  
Invade-me o frescor da madrugada,
e aos braços dele entrego-me, cansada,
num áureo alar de cândido esplendor.

São Paulo/SP/Br/,11/07/2008 
 00:40 horas

  
TONS
Cleide Canton

Tombada fronte em meio à insensatez
do jogo de palavras impensadas,
nos frutos dos ardis das madrugadas
às voltas com os fins sem mais porquês.

As linhas vão surgindo desgarradas
do tema que afugenta a pequenez,
brincando no quem sabe ou no talvez
das horas que antecedem alvoradas.

Um broto à luz do sol mostrou a cor,
rasgando a terra virgem com vigor
em meio ao verde musgo do gramado.

Quem sabe mostrará sua ternura
ao mundo ensandecido e sem doçura
que esquece, da poesia, o tom sagrado.

São Carlos/SP/Br/, 17/05/2013   
18:50 horas


EXALTAÇÃO À MULHER
Cleide Canton

Exalto a ti, Nirvana das Nirvanas,
farol maior num mar sem calmarias,
qu'inda sonha e projeta, em fantasias,
luzes azuis no altar que não profanas.

Exalto a ti, senhora das campanas,
em noites altas, longos são os dias,
para buscar as poucas alegrias
a dançarem em lágrimas tiranas.

Exalto a ti, senhora entre senhoras,
que traz no riso as lágrimas que choras
ao perceberes sombras nas quimeras.

Exalto a ti, mulher a qualquer hora,
a perfumar teu cetro e teu afora
mesmo que longe estejam primaveras.

São Carlos/SP/Br/, 04/03/2013  
11:40 horas
  

VELHA CENA
Cleide Canton

Paira o olhar a cobrir a velha cena
onde a luz desgastada se avizinha
ao sufoco desta ânsia que é só minha,
vestígios de uma história tão pequena.

Fala alto aquela voz, então serena,
apelo de uma prece em ladainha,
a invocar o penhor da Mãe-rainha
toda azul em bordado de verbena.

Escondida num grito de esperança,
ao beber dessa taça quase alcança
sensações de vertentes cristalinas.

Cruza o tempo, o passado faz presença.
Foge a dor, volta à tona a antiga crença,
desperta em luz de velas dançarinas.

São Paulo/SP/Br/,17/04/2008 
 9:00 horas

  
ETERNA BUSCA
Cleide Canton

Acordo a criatura um tanto ousada
em fomes de desejos incontidos,
na fonte onde morrem, escondidos,
princípios para a paz tão desejada.

Afogo os malefícios pervertidos
no lodo dessa fossa mal fechada,
que faz do amor a fala malfadada
em meios a lamentos denegridos.

Da luz que pouco vemos, quase nada
apraz às mentes sãs, votos vencidos,
na luta que travamos, desregrada.

No sótão dos valores esquecidos
encontro esta canção inacabada,
que ainda busca tons setempartidos.

São Paulo/SP/Br/,13/08/2008  
14:15 horas

  
"PRIMA ROSA"
Cleide Canton

Ouça o outubro! Desperta a rosa triste
em botão ainda tímido e sem cor,
com medo de abraçar o desamor
do joio, mas o trigo é que persiste.

Primavera, na busca do esplendor,
percebe que no bem o mal existe
e mostra a essa platéia que a assiste
o botão a descobrir o seu valor.

Abrem-se em festa as pétalas sedosas
amparadas por folhas primorosas
ao sol envaidecido em seu mister.

Balança nos seus galhos flutuantes,
sorri dos desacertos dos amantes...
Pureza no amor é o que ela quer.

São Carlos/SP/Br/,04/10/2016  
14:04 horas

  
CÉU NO CHÃO
Cleide Canton

Lá fora o céu azul já não alcanço,
nem sons de querubins ouvir consigo.
É certo que essa paz qu'inda persigo
se esconde nesta pista onde não danço.

Revolvo o que me veda e aqui comigo
retorno às rédeas deste meu remanso.
Descarto a corda bamba em que balanço
e firmo-me no chão que é mais amigo.

Colher as flores belas replantadas,
mover todas as folhas ressecadas
e olhar as formiguinhas carpideiras,

acordam mil sorrisos neste pranto
enterram o desgosto, o desencanto,
no vale onde não vingam trepadeiras.

São Carlos, 08/11/2013  
17:30 horas


MINHA PENA
Cleide Canton

Busco-me no silêncio que aproxima
a causa de um efeito indesejado
num erro cometido sem pecado
na voz que. de repente, subestima.

Dizer é sempre bom quando se prima
pelo bem que se quer ver propagado
na forma universal de certo e errado,
no anseio de seguir degraus acima.

Se um dia minha voz fizer-se ouvida
causando nova dor nessa ferida
que há muito deveria estar curada,

perdoe a ousadia desta pena
que muita vez se põe de quarentena
sem perceber o quanto foi amada.

São Carlos/SP/Br/ 24/11/2016  
16:00 horas


3 comentários:

  1. Cleide, belíssimo soneto! Destaque para

    "Onde guardas sorrisos inocentes
    encantos a dourar o teu viver?
    Fechados nas gavetas inclementes
    das dores que não podes esquecer?"

    Lindíssimo!
    Beijão
    Ruth

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  2. Cleide minha querida, dizer sobre o seu talento é repetir tudo de bom e maravilhoso que você tem feito para o atual lirismo brasileiro. Sinto-me orgulhosa por fazer parte do seu rol de amigas reais.Meus aplausos sempre, amiga querida.
    Beijos,
    Astir

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  3. Querida Cleide, amiga do coração, o prazer de ler seus versos é algo indescritível. Minh'alma se lava em uma fonte de beleza que purifica todo o meu ser. è puro encantamento!

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