DESPREZAM-ME,
MAS ME INVEJAM
Tribuna,
29.04.17
No meio literário, muitos se julgam o
máximo em sapiência com uma ideia fixa em desqualificar o soneto na forma
tradicional. Os argumentos são os mais esdrúxulos: uns usam como argumento as
rimas pobre, quando tal detalhe não tira o valor do conteúdo se trata-se
somente de uma diferenciação entre as ricas e as preciosas. Outros argumentam
as regras rígidas (não devem respeitar leis); e ainda há quem use o desprezo à
inspiração quando tudo na vida exige inspiração, tanto para um poema livre, uma
musica, uma crônica e, indo mais longe,
até para se programar uma viagem. Portanto, todos os argumentos são capengas, o
que só vem demonstrar um preconceito que, de um modo geral, não passa de comodidade. Ninguém é obrigado a
escrever sonetos, como ninguém é obrigado a gostar de um time de futebol ou de
uma comida, pois gosto não se discute mas bom senso sim. Normalmente,
critica-se e reprova-se somente aquilo que não lhe agrada.
O que ninguém entende sobre a peculiaridade
do soneto é que, dentro da poesia, trata-se de um trabalho matemático, de
raciocínio, um perfeito quebra-cabeça para dificultar sua feitura, como dizia
Gonçalves Crespo – “um animal bravio, mas que pode ser domado facilmente por
qualquer poeta que conheça suas regras”. As comparações são inúmeras mas
ressalto uma de Majô & Machado, na internet, que o comparam ao vinho – “se
tomado puro, é vinho; se misturado com água e açúcar é refresco”.
Apesar e até em função do tempo passado – o
que vem a ser, realmente, o modernismo senão uma epidemia passageira que, na
maioria das vezes, se torna grave, ao minar todo o sistema imunológico da
beleza e da sensibilidade, para infectá-lo com o vírus da “criatividade”– um
mal endêmico corrosivo que, no descuido, mata pela irreverência da mediocridade?
Por isso digo – “Nunca despreze o soneto /
alma e vida da poesia / tal e qual um amuleto / com toda sua magia”. Isto é uma
trova – o estilo mais conciso de poema que, se fugirem de suas regras básicas,
deixará de sê-lo, transformando-se numa simples quadrinha. E o poeta Carlos
Martins, com muito acerto, diz que todo bom poeta deve entender de metrificação
mesmo que não venha utilizá-la, como qualquer profissional deve ter as
ferramentas necessárias para exercer bem sua profissão.
Para mim, como para muitos, independente do
estilo, poesia que agrada é aquela que tem a necessária essência e lógica, que
prende a atenção, atinge nossa sensibilidade e que sempre queremos retornar
após sua leitura. Este é a finalidade real da poesia em oposição à prosa. Mas
como disse o poeta Roger Feraudy em “A última rosa”: “Mas ainda há no
abismo desse mundo,/ por entre o lodaçal do modernismo,/ uma pequena rosa... lá
no fundo” –
jrobertogullino@gmail.com
jrobertogullino@gmail.com
Petrópolis, RJ,
25.04.17
Prezado Gullino, envio-lhe saudação de parabéns pela magnífica matéria publicada. Abraços aos poetas petropolitanos, especialmente aos membros da Academia de Letras Raul de Leoni.
ResponderExcluirJosé Antonio Jacob