Póvoa da Isenta, Concelho de Santarém, Portugal (1954- )
CARÍCIA
QUE ACALENTA
Maria
da Encarnação Alexandre
É
tão cedo que o sol ainda dorme
Numa
cama só feita de luar
Macia
e tão branca, catre enorme
Sobre
as nuvens cinzentas lá no ar
Espreguiça-se
então lento e ramiforme
E
num sorriso breve faz-me olhar
Pró
horizonte belo e cordiforme
Anunciando
então seu acordar
Aos
poucos se reforça de calor
Beijando
cada rosto com ardor
Em
suave carícia que acalenta
Quando
cansado volta a adormecer
Qual
criança num sono de prazer
Porém
sem ele há frio que atormenta
(MEA
9/12/2016)
VOU
ESCREVINHANDO FRASES E VERSOS
Maria
da Encarnação Alexandre
Neste
livre pensar que existe em mim
E
que de mim se apossa, livre penso
o
que em sonhos me faz querer assim
Sem,
contudo, perder o meu bom senso
Galopam
meus pensares plo jardim
Onde
ardem os perfumes desse incenso
Que
acalma esta inquietude sem ter fim
Serenando-me
em paz onde pertenço
Não
me sinto, porém, assim completa
E
faço apelo à voz que me aquieta
Pra
que dê nexo e lógica ao que sinto
Vou
escrevinhando então frases e versos
Que
aqui me vão nascendo nestes berços
E
que vou abraçando por instinto
(MEA
7/12/2016)
PASSEIO-ME
POR TI
Maria
da Encarnação Alexandre
Passeio-me
por ti, com tuas mãos
Quando
elas em mim abrem os caminhos
Que
exploram nas veredas dos meus chãos
Os
becos fervilhantes de carinhos
E
quando neles fazem seus os ninhos
Teus
dedos verdadeiros artesãos
Tecem
afago em todos os cantinhos
Onde
existam os mais pequenos grãos
Já
cansados teus dedos se sossegam
Procurando
plos meus que não se negam
Nessa
entrega tão doce e tão feroz
Mas
quando com os meus eles se enlaçam
E
os nossos corpos vibram e se abraçam
O
mundo não existe para nós
(MEA
30/11/2016)
QUANDO
A LUA TARDAVA DE LUAR
Maria
da Encarnação Alexandre
Bebi
o néctar fresco desse olhar
Numa
tarde ofuscada plo sol pôr
Quando
a lua tardava de luar
E
as sombras se alongavam sem pudor
E,
esqueci-me das horas nesse mar
Nas
ondas encrespadas pelo amor
Que
vão adormecendo devagar
Num
arrasto espumoso de candor
Havia
no céu lápis de carvão
Que
preenchiam nuvens em fusão
Na
noite que beijou restos da lua
Lentamente
caíram gotas frias
Que
afagaram meu corpo em cortesias
Cobrindo
minha pele ainda nua
(MEA
23/11/2016)
FUI
BARCO AMARRADO NO CAIS
Maria
da Encarnação Alexandre
O
dia despertou pardo e cinzento
E,
caindo em cascata dos beirais
Inundando
o recinto de cimento
Desabam
grossos rios verticais
Trouxe
por companheiro tanto vento!
E
eu, fui barco amarrado no meu cais.
Presa,
só passeei em pensamento
Ao
visitar caminhos e locais
Percorri-os,
supondo aquela calma
Sabendo
não haver neles vivalma
Que
me faça infeliz ou ansiosa
Sem
que do sol tivesse algum aviso
Nem
sequer pequeníssimo sorriso
A
noite anunciou-se nebulosa
(MEA
21/11/2016)
VOZES
QUE ILUMINAM O SILÊNCIO
Maria
da Encarnação Alexandre
No
meu quarto vazio ouço uma voz
Que
ao entrar ilumina aquele escuro.
É
da fonte o clamor que escuto a sós
E
do rio um gemer firme e seguro
No
seu correr, que sinto assim veloz
cantar
no meu silêncio, casto e puro
Ideando,
vou nele até à foz
Nas
vozes que se esvaem no futuro
E
no vazio do quarto a fonte chora
Com
aquela voz doce, grita, implora
Por
suas companhias já perdidas
As
vozes que iluminam o meu quarto
São
aquelas das quais nunca me aparto
Que
me falam e são minhas guaridas
(MEA
15/11/2016)
UM
GRITO NO SILÊNCIO
Maria
da Encarnação Alexandre
Que
emudeçam as vozes que profanam
O
silêncio que aqui se faz sentir
Esta
paz e beleza que se emanam
Quando
nas flores há brisa a bulir
Que
se afastem as sombras que me afanam
O
sol que vem beijar meu existir
E
quando ao meu passar, elas se abanam
Ao
quererem a luz do sol suprir
Dos
frutos, quero ouvir seu sussurrar
Por
entre as folhas, quando eu ao passar
Lhes
faço levemente uma carícia
Quero
olhar o voar destes insectos
Que
esvoaçam nervosos inquietos
Em
bailados de autêntica perícia
(MEA
6/07/2016)
BALADA AOS PARDAIS LIVRES
Maria da Encarnação Alexandre
Eu sonho ouvir o canto dos pardais
Pousados nas ramadas em redor
Fazendo dos seus cantos os jograis
Que expressam em bailados com amor
Livres eles entoam cantos tais
Que ao ouvi-los esqueço qualquer dor
E aprecio os trinados sensuais
No silêncio tranquilo do calor
A noite vai chegando lentamente
E logo fica o canto diferente
Ao reunirem-se em bandos barulhentos
Eu, porém, sonho ouvi-los sempre, assim
Supondo que tal canto é pra mim
Que são, da minha ausência seus lamentos
(MEA
28/10/2016)
ENTARDECER
Maria
da Encarnação Alexandre
Despeço-me
do sol que se anoitece
Quando
lá muito ao longe desce fogo
E
perfilo-me firme como em prece
Analisando
as regras do seu jogo
Na
calma da penumbra calo e afogo
Os
suspiros e ais que a vida tece
Para
deixar que a noite no seu rogo
Se
enlace no meu corpo que arrefece
Do
fogo do horizonte inspirei luz
Que
na noite me aquece e me conduz
Por
imagens e sonhos em bailados
Deixo-me
adormecer em tal quimera
Do
fogo que já foi nasce uma esfera
de
intensa e branca luz com rendilhados
(MEA
14/10/2016)
SONETO
AO "MEU" TEJO
Maria
da Encarnação Alexandre
Passei
a tarde olhando o rio Tejo
Tão
lânguido, sereno, desolado
Com
tal abatimento, sem desejo
Deslizando
plo leito sem agrado
Sem
força pra inundar o Ribatejo
Na
campina fazendo-se espraiado
Fica-se
por ali, em tal cortejo
Tão
vagaroso, fraco e delongado
Não
vi nele o azul que o céu reflecte
Nas
águas leva apenas um tapete
Escuro,
de sujeira e sofrimento
Seu
leito tão vazio de água pura
Mostra
ao sol areais com amargura
Na
espera que das chuvas venha alento
(MEA
11/10/2016)
UM
SONETO AO AMANHO DA TERRA I
Maria
da Encarnação Alexandre
Fiz
da caneta, enxada, escavei terra
Enegrecida
e dura, ainda quente
Deste
Verão escaldante que ela encerra
Até
que a fresca chuva nela assente
Crepitam
ervas secas, numa guerra
Que
executo sobre elas, persistente
E
vejo a terra limpa, que descerra
Fecunda,
concedendo-se ao presente
Amolento
torrões endurecidos
Em
tantos movimentos repetidos
Até
que fique cama, lisa e fofa
Aconchego-a
de grãos cheio de vida
Aguardo
impaciente essa saída
Que
encherá de sabores minha alcofa
(MEA
26/09/2016)
UM
SONETO AO AMANHO DA TERRA...II
Maria
da Encarnação Alexandre
Germinaram
os grãos mais vigorosos
Verdes
cheios de vida delicados
Como
todos os jovens ansiosos
De
vontade e desejo ilimitados
Outros
houve tão lentos vagarosos
Exigiram
de mim outros cuidados
Mas
cresceram por fim muito cheirosos
E
de sabores bem apaladados
Fica
a terra alindada de frescura
Neste
verde das folhas em mistura
com
os frutos carnudos da estação
Crescem
mudam de cor amadurecem
De
cheiros e sabores nos aquecem
Chegada
que se faz a refeição
(MEA
3/10/2016)
ANO NOVO
Maria da Encarnação
Alexandre
Ouve-se ao longe
passos vagarosos
Que se acercam astutos e sagazes
Insensíveis ao frio e ardilosos
Sem empunharem poster ou cartazes
Que se acercam astutos e sagazes
Insensíveis ao frio e ardilosos
Sem empunharem poster ou cartazes
E avançam seu
destino, rigorosos
No rumo que tomaram, incapazes
De se afastar e muito cuidadosos
Até cumprir a meta, sempre audazes
No rumo que tomaram, incapazes
De se afastar e muito cuidadosos
Até cumprir a meta, sempre audazes
Ouvem-se cada vez
mais e mais perto
Como se fosse timbres dum concerto
Fazendo-se aclamar junto do povo
Como se fosse timbres dum concerto
Fazendo-se aclamar junto do povo
Abro de par em par
janela e porta
Quero vê-los! Já nada mais importa
Os passos que ouço são do ANO NOVO
Quero vê-los! Já nada mais importa
Os passos que ouço são do ANO NOVO
(MEA
29/12/2016)
29/12/2016)
CONSOADA ESPECIAL
Maria da Encarnação
Alexandre
Havia pela tarde
uma magia
No preparo da noite desejada
Lenha seca arrumada com mestria
Massa que se queria levedada
No preparo da noite desejada
Lenha seca arrumada com mestria
Massa que se queria levedada
Noite fora a
família em harmonia
Junta à volta do lume, atarefada
Esticando os coscorões logo os frigia
Numa alegria simples e animada
Junta à volta do lume, atarefada
Esticando os coscorões logo os frigia
Numa alegria simples e animada
Havia brincadeira,
festa, riso
Um misto de loucura e paraíso
Na noite desenhada de surpresa
Um misto de loucura e paraíso
Na noite desenhada de surpresa
Fumegante no
púcaro, café
Amigo fiel, vai da chaminé
Acompanhar a nossa sobremesa
Amigo fiel, vai da chaminé
Acompanhar a nossa sobremesa
(MEA
13/12/2016)
DIA DE NATAL
A PRENDA DO MENINO JESUS
A PRENDA DO MENINO JESUS
Maria da Encarnação
Alexandre
Ainda toda a casa
dormitava
Ia pé ante pé qual caçador
Espiar a chaminé e ver se estava
No sapatinho a prenda ao meu dispor
Ia pé ante pé qual caçador
Espiar a chaminé e ver se estava
No sapatinho a prenda ao meu dispor
Feliz ia pra cama e
já sonhava
O momento ansiado do alvor
Em que o dia"atrasado" clareava
Resplandecendo nele luz maior
O momento ansiado do alvor
Em que o dia"atrasado" clareava
Resplandecendo nele luz maior
Era chegada a hora
da surpresa
Os olhos esbugalhados pla incerteza
Rasgavam o papel antes da mão
Os olhos esbugalhados pla incerteza
Rasgavam o papel antes da mão
Todo o corpo
vibrava na alegria
Do perplexo desejo que crescia
Até por fim gritar "ahs" de emoção
Do perplexo desejo que crescia
Até por fim gritar "ahs" de emoção
(MEA
14/12/2016)
14/12/2016)
DIFERENTES
CONSOADAS
Maria da Encarnação
Alexandre
Uma casa. Família.
Paz, amor,
Aconchego, alegria, mesa cheia.
Na falta de lareira aquecedor
Todo o conforto nesta bela ceia
Aconchego, alegria, mesa cheia.
Na falta de lareira aquecedor
Todo o conforto nesta bela ceia
Lá fora solidão com
frio e dor,
Tristeza e um cartão velho que é estreia
Duma cama fictícia sem calor
E há estrelinhas servindo de candeia
Tristeza e um cartão velho que é estreia
Duma cama fictícia sem calor
E há estrelinhas servindo de candeia
Nessa noite é mais
fria a solidão
É mais rija a dureza do betão
É mais penosa e mais dura a dormida
É mais rija a dureza do betão
É mais penosa e mais dura a dormida
E numa ceia quente
vem consolo
Que alivia e lhe dá aquele colo
Que há muito foi negado pela vida
Que alivia e lhe dá aquele colo
Que há muito foi negado pela vida
(MEA
28/12/2016)
28/12/2016)
DIVAGANDO SOBRE O
“NADA”
Maria da Encarnação
Alexandre
Que não existe,
nulo, sem valor
É o NADA a ausência bagatela
Diz-se para falar de algo menor
Ou do pouco que vemos da janela
É o NADA a ausência bagatela
Diz-se para falar de algo menor
Ou do pouco que vemos da janela
Contudo olhando bem
pró exterior
Veem-se nele vãos sendo procela
E ditos NADA essência bem maior
Que o cintilante brilho duma estrela
Veem-se nele vãos sendo procela
E ditos NADA essência bem maior
Que o cintilante brilho duma estrela
Tanto NADA podendo
ser o muito
Depende da vontade ou do intuito
De quem o quer olhar ou perceber
Depende da vontade ou do intuito
De quem o quer olhar ou perceber
E tanto muito sendo
apenas NADA
Ninharia, irrisória madrugada
Para quem trilha caminhos de poder
Ninharia, irrisória madrugada
Para quem trilha caminhos de poder
(MEA
20/12/2016)
20/12/2016)
EIS, QUANDO SE
DESEJA PAZ, AMOR
Maria da Encarnação
Alexandre
….Eis, quando se
deseja paz, amor
Quando o mundo se encanta nessa espera
Quando se enchem os céus deste louvor
Num cenário de mágica quimera
Quando o mundo se encanta nessa espera
Quando se enchem os céus deste louvor
Num cenário de mágica quimera
Na rua, solto
oculto anda o terror
Espiando disfarçado como fera
E aguardando o momento esse estupor
Cada vez nos ataques mais se esmera
Espiando disfarçado como fera
E aguardando o momento esse estupor
Cada vez nos ataques mais se esmera
Avança numa fúria
arrebatada
Leva no olhar a morte já ditada
Faz valer ali mesmo o seu rancor
Leva no olhar a morte já ditada
Faz valer ali mesmo o seu rancor
E devasta destrói
mata inocentes!
São seres possuídos e dementes
Que fazem propagar no mundo a dor
São seres possuídos e dementes
Que fazem propagar no mundo a dor
(MEA
2/01/2017)
(Na passagem de ano em Istambul)
2/01/2017)
(Na passagem de ano em Istambul)
FANTASIA EM LUZ DE
AGOSTO
Maria da Encarnação
Alexandre
Amei-te muito mais
que em pensamento
Quando este meu olhar se fez imposto
Em ti, pelo teu corpo, num experimento
De louca fantasia em luz de Agosto
Quando este meu olhar se fez imposto
Em ti, pelo teu corpo, num experimento
De louca fantasia em luz de Agosto
Quando a tarde
abraçava o sentimento
Eu senti ao roçar pelo teu rosto,
Os meus lábios sedentos, no momento,
O anseio de sentir dos teus o gosto
Eu senti ao roçar pelo teu rosto,
Os meus lábios sedentos, no momento,
O anseio de sentir dos teus o gosto
Sem saberes
beijaste-me, beijei-te
Hospedei-me em teu peito, acariciei-te
Foste meu, sem saberes que fui tua
Hospedei-me em teu peito, acariciei-te
Foste meu, sem saberes que fui tua
Quando a noite se
fez só de luar
Despedi-me baixinho, sem falar
Para que não me visses quase nua
Despedi-me baixinho, sem falar
Para que não me visses quase nua
(MEA
1/12/2016)
1/12/2016)
FIM DE TARDE
Maria da Encarnação
Alexandre
Entra o sol pla
vidraça entreaberta
Vem brilhar no meu
rosto já esquecido
Dos suaves afagos
desta oferta
Que por beijá-lo o deixam aquecido
Com ele traz suave
mas incerta
A música dum
pássaro atrevido
E que mesmo
cantando fica alerta
E faz-se esvoaçar
por um estalido
O sol é tão ameno.
O canto frágil!
Vai desmaiando o
Sol. O passaro ágil
Desfaz-se do seu
canto, cala a voz
Pla vidraça fechada
apenas escuro
Nem o brilho do
sol, mesmo inseguro
Nem o canto do
pássaro veloz
(MEA
11/12/2016)
LAVANDO MANCHAS E
MÁGOAS
Maria da Encarnação
Alexandre
Ia pla madrugada
escurecida
Ainda o sol dormia num colchão
Com lençóis de neblina arrefecida
No horizonte pintado de açafrão
Ainda o sol dormia num colchão
Com lençóis de neblina arrefecida
No horizonte pintado de açafrão
Levava na cabeça,
destemida,
Uma trouxa de roupa e o sabão
Fazia dos carreiros avenida
Com o cansaço feito da razão
Uma trouxa de roupa e o sabão
Fazia dos carreiros avenida
Com o cansaço feito da razão
Já no rio onde
havia claras águas
Fora a roupa, lavava também mágoas
Que a vida, mais que mãe era madrasta
Fora a roupa, lavava também mágoas
Que a vida, mais que mãe era madrasta
Esfregava até lavar
todas as manchas
Levadas pelo rio em avalanchas
Mas as mágoas porém nada as arrasta
Levadas pelo rio em avalanchas
Mas as mágoas porém nada as arrasta
(MEA
11/12/2016)
11/12/2016)
MEU BRANDO E TERNO
BENGALÔ
(Da tua BIA)
(Da tua BIA)
Maria da Encarnação
Alexandre
Eras a minha nuvem
delicada
Branca, leve e tão pura, que envolvia
Os dias que eram meus. Em cada nada
Olhavas-me com êxtase e carinho
Branca, leve e tão pura, que envolvia
Os dias que eram meus. Em cada nada
Olhavas-me com êxtase e carinho
Fizeste dessa curta
caminhada
Que até então ainda eu havia
A mais linda alameda, engalanada
Com contos de ficção e fantasia
Que até então ainda eu havia
A mais linda alameda, engalanada
Com contos de ficção e fantasia
E se uma tempestade
me assolava
O teu colo era abrigo que ansiava
Era meu brando e terno bengalô
O teu colo era abrigo que ansiava
Era meu brando e terno bengalô
Foste porém tão
breve em meu caminho
E ficou-me a saudade do carinho
Dos gestos e do amor, de ti Avô
E ficou-me a saudade do carinho
Dos gestos e do amor, de ti Avô
(MEA
19/12/2016)
19/12/2016)
MOMENTOS E MEMÓRIAS
(Do avô)
(Do avô)
Maria da Encarnação
Alexandre
Sentado num
cantinho da lareira
Ele esfrega as mãos geladas sobre o lume
Que se faz de cavacas de madeira
Aquecendo-se como de costume
Ele esfrega as mãos geladas sobre o lume
Que se faz de cavacas de madeira
Aquecendo-se como de costume
Um jogo ou uma
história, brincadeira
Momentos inventados dum perfume
Que a memória recorda, já parceira
Da saudade que queima com ardume
Momentos inventados dum perfume
Que a memória recorda, já parceira
Da saudade que queima com ardume
Um piscar de olhos,
presto, disfarçado
Ou um gesto singelo e engraçado
Nos serões aquecidos da infância
Ou um gesto singelo e engraçado
Nos serões aquecidos da infância
Percorrem os meus
olhos quase quedos
Receando perder-se nos enredos
Do espaço que separa da distância
Receando perder-se nos enredos
Do espaço que separa da distância
(MEA
30/12/2016)
30/12/2016)
NATAIS SIMPLES
Maria da Encarnação
Alexandre
(Inspirada pelos sonetos dos
poetas Carlos Fragata
e da Maria João Brito de Sousa)
Simples, como eram
simples as crianças,
Eram os meus Natais, com as pedrinhas
E o musgo que apanhei nas vizinhanças
Juntando-lhe a cabana com palhinhas
Eram os meus Natais, com as pedrinhas
E o musgo que apanhei nas vizinhanças
Juntando-lhe a cabana com palhinhas
Em pavios de azeite
havia danças
De luzes cintilantes e fraquinhas
Que ali davam prazer, sem abastanças
A uns pobres pastores e ovelhinhas
De luzes cintilantes e fraquinhas
Que ali davam prazer, sem abastanças
A uns pobres pastores e ovelhinhas
Na chaminé à espera
de Jesus
Coberto por mistério e tabus
Ficava um sapatinho adormecido
Coberto por mistério e tabus
Ficava um sapatinho adormecido
E de manhã bem cedo
a emoção
Fazia bater forte o coração
Ao ver nele um presente prometido
Fazia bater forte o coração
Ao ver nele um presente prometido
(MEA
11/12/2016)
11/12/2016)
NUM PALHEIRO DE
BELÉM
Maria da Encarnação
Alexandre
Sentada no seu
burro ia Maria
Seguindo-a mais atrás ia José
Andando devagar sem correria
Porquanto deslocava-se ele a pé
Seguindo-a mais atrás ia José
Andando devagar sem correria
Porquanto deslocava-se ele a pé
Chegados a Belém ao
fim do dia
Não acharam estalagem nem chalé
Perto só um palheiro ali havia
Nem roupa, nem calor de chaminé
Não acharam estalagem nem chalé
Perto só um palheiro ali havia
Nem roupa, nem calor de chaminé
Quando caiu a noite
houve uma estrela
Que se iluminou mais brilhante e bela
Anunciando ao mundo nova luz
Que se iluminou mais brilhante e bela
Anunciando ao mundo nova luz
E ficou lá no alto
a indicar
O trilho que seria de tomar
Pra adorar o Menino Deus...Jesus
O trilho que seria de tomar
Pra adorar o Menino Deus...Jesus
(MEA
17/12/2016)
17/12/2016)
PERCO-ME NO
VENTO...
Maria da Encarnação
Alexandre
O vento traz-me
cheiros e perfumes
Dispersos nos negrumes da distância
A que ficam infância e os costumes
Que causavam queixumes da substância
Dispersos nos negrumes da distância
A que ficam infância e os costumes
Que causavam queixumes da substância
Que então era
ignorância, azedumes
Trazida plos legumes. Quanta ânsia!
Que asco, que repugnância a tais volumes
Feitos sopa em cardumes. Que implicância!
Trazida plos legumes. Quanta ânsia!
Que asco, que repugnância a tais volumes
Feitos sopa em cardumes. Que implicância!
Porém, agora
perco-me no vento
Com esse sentimento de saudade
Que percorre e me invade de memórias
Com esse sentimento de saudade
Que percorre e me invade de memórias
E o olfacto de tal
odor sedento
Fica-se num lamento de vontade
De seguir de verdade aquelas glórias
Fica-se num lamento de vontade
De seguir de verdade aquelas glórias
(MEA
4/01/2017)
RECEBO-TE MANHÃ
Maria da Encarnação
Alexandre
Recebo-te manhã que
nasces prenha
De futuro, de amor,de paz, de vida
Que entras sem precisares duma senha
E no meu dia fazes-te nascida
De futuro, de amor,de paz, de vida
Que entras sem precisares duma senha
E no meu dia fazes-te nascida
Recebo-te manhã
mesmo que venha
Contigo não apenas luz cupida
Mas triste descrição numa resenha
Dum dia que parece de saída
Contigo não apenas luz cupida
Mas triste descrição numa resenha
Dum dia que parece de saída
Recebo-te manhã
todos os dias
Vislumbro de ti tantas melodias
que se escondem na paz do teu nascer
Vislumbro de ti tantas melodias
que se escondem na paz do teu nascer
Recebo-te manhã,
cada manhã
Como se não houvesse outra, amanhã
Aonde eu me pudesse renascer
Como se não houvesse outra, amanhã
Aonde eu me pudesse renascer
(MEA
15/12/2016)
15/12/2016)
REGRESSO
Maria da Encarnação
Alexandre
Pisei todas as
pedras como então
Olhei portas que já não são como eram
E julguei-as apenas invenção
Que os meus olhos atónitos me deram
Olhei portas que já não são como eram
E julguei-as apenas invenção
Que os meus olhos atónitos me deram
Senti por cada
montra a afeição
E ouvi tantos segredos que disseram
Nos gemidos que ouvi com emoção
Por delas terem feito o que fizeram
E ouvi tantos segredos que disseram
Nos gemidos que ouvi com emoção
Por delas terem feito o que fizeram
Revi em pouco tempo
uma por uma
Desfiz um pouco mais a minha bruma
Que o tempo foi tecendo na memória
Desfiz um pouco mais a minha bruma
Que o tempo foi tecendo na memória
No peito houve a
alegria de voltar
De, no adolescer me reencontrar
Ao sentir-me na mesma trajectória
De, no adolescer me reencontrar
Ao sentir-me na mesma trajectória
(MEA
29/12/2016)
29/12/2016)
SAUDADE
Maria da Encarnação
Alexandre
A saudade chegou
quando partiste
E trouxe a solidão gelada e fria
Feita flocos de neve, que persiste
Tornando a madrugada tão sombria
E trouxe a solidão gelada e fria
Feita flocos de neve, que persiste
Tornando a madrugada tão sombria
O luar transportou sentido e triste
O silêncio da voz que se queria
Mas, no sol que nasceu tu me sorriste
Porém de olhos fechados para o dia
Deixei teu nome esculpido de cobre
Na pedra negra e dura que te encobre
E da enorme paixão que te assolou
Deixei em bronze um busto de corcel
Sendo o teu companheiro mais fiel
Na memória feliz que me ficou
(MEA
9/01/2017)
9/01/2017)
SOMBRAS, TREVA E
FANTASIA
Maria da Encarnação
Alexandre
Hoje tapou-se sol,
foi dia escuro
Polvilhado por névoa branca e fria
Tão húmida e tão densa como um muro
Erguido numa mágica ousadia
Polvilhado por névoa branca e fria
Tão húmida e tão densa como um muro
Erguido numa mágica ousadia
Não havia horizonte
nem futuro
Somente sombras treva e fantasia
Soltas plo nevoeiro branco e puro
Em farrapos aquosos de poesia
Somente sombras treva e fantasia
Soltas plo nevoeiro branco e puro
Em farrapos aquosos de poesia
Houve ao anoitecer
sóis que brilharam
Mais forte e de beleza perfuraram
O branco, então já negro nevoeiro
Mais forte e de beleza perfuraram
O branco, então já negro nevoeiro
A noite pôs um véu
alaranjado
De brilho, de fulgor enevoado
E fez-se de mistérios plo carreiro
De brilho, de fulgor enevoado
E fez-se de mistérios plo carreiro
(MEA
06/01/2017)
06/01/2017)
UM NOVO ANO
Maria da Encarnação
Alexandre
O ano já mudou!
Chegou Janeiro!
Trouxe com ele esperanças renovadas
E envolto em delicado nevoeiro
Tantos, tantos, pequenos, grandes nadas
Trouxe com ele esperanças renovadas
E envolto em delicado nevoeiro
Tantos, tantos, pequenos, grandes nadas
Naquele que é o seu
dia primeiro
Há votos em gorgeio de alvoradas
De saúde, de paz, amor, dinheiro
Que se expressam tal qual conto de fadas
Há votos em gorgeio de alvoradas
De saúde, de paz, amor, dinheiro
Que se expressam tal qual conto de fadas
Celebra-se a
chegada com foguetes
Com alegria, festas e banquetes
Todos muito felizes e risonhos
Com alegria, festas e banquetes
Todos muito felizes e risonhos
Passada a festa
nada se alterou
Este ano vem igual ao que acabou
E os desejos esvairam-se nos sonhos
Este ano vem igual ao que acabou
E os desejos esvairam-se nos sonhos
(MEA
1/01/2017)
1/01/2017)
VÍTIMAS INOCENTES
Maria da Encarnação
Alexandre
Já não têm mais
lágrimas! Secaram!
Seus olhos inocentes são pequenos
E por serem assim se desgastaram
Com a destruição, morte e venenos
Seus olhos inocentes são pequenos
E por serem assim se desgastaram
Com a destruição, morte e venenos
Os olhares vazios
olvidaram
Carinhos que os faziam tão serenos
E escondem-se das balas, que disparam
Perdidos pelos escombros e terrenos
Carinhos que os faziam tão serenos
E escondem-se das balas, que disparam
Perdidos pelos escombros e terrenos
Trazem no rosto
marcas duma guerra
E no corpo uma vida que se enterra
Na hipocrisia, logro e na maldade
E no corpo uma vida que se enterra
Na hipocrisia, logro e na maldade
Sobrevivem no medo
fome e frio
Em sofrimento atroz duro e sombrio
Vítimas da ganância e crueldade
Em sofrimento atroz duro e sombrio
Vítimas da ganância e crueldade
(MEA
22/12/2016)
22/12/2016)
Muitos Parabéns amiga Encarnação.
ResponderExcluirGostei muito dos sonetos que aqui colocou.
Desejo-lhe muitas felicidades pois este blogue é lindo.
É uma honra a ele pertencer.
Beijinho.
Lourdes Mourinho Henriques
Muito obrigada amiga Lurdes Henriques. É realmente uma maravilha de blog.
ExcluirUm grande beijinho para si.
São