Maria da Encarnação Alexandre (São)

Maria da Encarnação Nogueira dos Santos Alexandre (São)
Póvoa da Isenta, Concelho de Santarém, Portugal (1954-    )


CARÍCIA QUE ACALENTA
Maria da Encarnação Alexandre

É tão cedo que o sol ainda dorme
Numa cama só feita de luar
Macia e tão branca, catre enorme
Sobre as nuvens cinzentas lá no ar

Espreguiça-se então lento e ramiforme
E num sorriso breve faz-me olhar
Pró horizonte belo e cordiforme
Anunciando então seu acordar

Aos poucos se reforça de calor
Beijando cada rosto com ardor
Em suave carícia que acalenta

Quando cansado volta a adormecer
Qual criança num sono de prazer
Porém sem ele há frio que atormenta

(MEA
9/12/2016)

  
VOU ESCREVINHANDO FRASES E VERSOS
Maria da Encarnação Alexandre 

Neste livre pensar que existe em mim
E que de mim se apossa, livre penso
o que em sonhos me faz querer assim
Sem, contudo, perder o meu bom senso

Galopam meus pensares plo jardim
Onde ardem os perfumes desse incenso
Que acalma esta inquietude sem ter fim
Serenando-me em paz onde pertenço

Não me sinto, porém, assim completa
E faço apelo à voz que me aquieta
Pra que dê nexo e lógica ao que sinto

Vou escrevinhando então frases e versos
Que aqui me vão nascendo nestes berços
E que vou abraçando por instinto

(MEA
7/12/2016)


PASSEIO-ME POR TI
Maria da Encarnação Alexandre

Passeio-me por ti, com tuas mãos
Quando elas em mim abrem os caminhos
Que exploram nas veredas dos meus chãos
Os becos fervilhantes de carinhos

E quando neles fazem seus os ninhos 
Teus dedos verdadeiros artesãos
Tecem afago em todos os cantinhos
Onde existam os mais pequenos grãos

Já cansados teus dedos se sossegam
Procurando plos meus que não se negam
Nessa entrega tão doce e tão feroz

Mas quando com os meus eles se enlaçam
E os nossos corpos vibram e se abraçam
O mundo não existe para nós

(MEA
30/11/2016)


QUANDO A LUA TARDAVA DE LUAR
Maria da Encarnação Alexandre

Bebi o néctar fresco desse olhar
Numa tarde ofuscada plo sol pôr 
Quando a lua tardava de luar
E as sombras se alongavam sem pudor

E, esqueci-me das horas nesse mar
Nas ondas encrespadas pelo amor
Que vão adormecendo devagar
Num arrasto espumoso de candor

Havia no céu lápis de carvão 
Que preenchiam nuvens em fusão 
Na noite que beijou restos da lua

Lentamente caíram gotas frias
Que afagaram meu corpo em cortesias
Cobrindo minha pele ainda nua

(MEA
23/11/2016)

  
FUI BARCO AMARRADO NO CAIS
Maria da Encarnação Alexandre

O dia despertou pardo e cinzento
E, caindo em cascata dos beirais
Inundando o recinto de cimento
Desabam grossos rios verticais

Trouxe por companheiro tanto vento!
E eu, fui barco amarrado no meu cais.
Presa, só passeei em pensamento
Ao visitar caminhos e locais

Percorri-os, supondo aquela calma
Sabendo não haver neles vivalma
Que me faça infeliz ou ansiosa

Sem que do sol tivesse algum aviso
Nem sequer pequeníssimo sorriso
A noite anunciou-se nebulosa

(MEA
21/11/2016)

  
VOZES QUE ILUMINAM O SILÊNCIO
Maria da Encarnação Alexandre

No meu quarto vazio ouço uma voz
Que ao entrar ilumina aquele escuro.
É da fonte o clamor que escuto a sós
E do rio um gemer firme e seguro

No seu correr, que sinto assim veloz
cantar no meu silêncio, casto e puro
Ideando, vou nele até à foz
Nas vozes que se esvaem no futuro

E no vazio do quarto a fonte chora
Com aquela voz doce, grita, implora
Por suas companhias já perdidas

As vozes que iluminam o meu quarto
São aquelas das quais nunca me aparto
Que me falam e são minhas guaridas

(MEA
15/11/2016)


UM GRITO NO SILÊNCIO
Maria da Encarnação Alexandre

Que emudeçam as vozes que profanam
O silêncio que aqui se faz sentir
Esta paz e beleza que se emanam
Quando nas flores há brisa a bulir

Que se afastem as sombras que me afanam
O sol que vem beijar meu existir
E quando ao meu passar, elas se abanam
Ao quererem a luz do sol suprir

Dos frutos, quero ouvir seu sussurrar
Por entre as folhas, quando eu ao passar
Lhes faço levemente uma carícia

Quero olhar o voar destes insectos
Que esvoaçam nervosos inquietos
Em bailados de autêntica perícia

(MEA
6/07/2016)
  

BALADA AOS PARDAIS LIVRES
Maria da Encarnação Alexandre

Eu sonho ouvir o canto dos pardais
Pousados nas ramadas em redor
Fazendo dos seus cantos os jograis
Que expressam em bailados com amor

Livres eles entoam cantos tais
Que ao ouvi-los esqueço qualquer dor
E aprecio os trinados sensuais
No silêncio tranquilo do calor

A noite vai chegando lentamente
E logo fica o canto diferente
Ao reunirem-se em bandos barulhentos

Eu, porém, sonho ouvi-los sempre, assim
Supondo que tal canto é pra mim
Que são, da minha ausência seus lamentos

(MEA
28/10/2016)



ENTARDECER
Maria da Encarnação Alexandre

Despeço-me do sol que se anoitece
Quando lá muito ao longe desce fogo
E perfilo-me firme como em prece
Analisando as regras do seu jogo

Na calma da penumbra calo e afogo
Os suspiros e ais que a vida tece
Para deixar que a noite no seu rogo
Se enlace no meu corpo que arrefece

Do fogo do horizonte inspirei luz
Que na noite me aquece e me conduz
Por imagens e sonhos em bailados

Deixo-me adormecer em tal quimera
Do fogo que já foi nasce uma esfera
de intensa e branca luz com rendilhados

(MEA
14/10/2016)



SONETO AO "MEU" TEJO
Maria da Encarnação Alexandre

Passei a tarde olhando o rio Tejo
Tão lânguido, sereno, desolado
Com tal abatimento, sem desejo
Deslizando plo leito sem agrado

Sem força pra inundar o Ribatejo
Na campina fazendo-se espraiado
Fica-se por ali, em tal cortejo
Tão vagaroso, fraco e delongado

Não vi nele o azul que o céu reflecte
Nas águas leva apenas um tapete
Escuro, de sujeira e sofrimento

Seu leito tão vazio de água pura
Mostra ao sol areais com amargura
Na espera que das chuvas venha alento

(MEA
11/10/2016)



UM SONETO AO AMANHO DA TERRA I
Maria da Encarnação Alexandre

Fiz da caneta, enxada, escavei terra
Enegrecida e dura, ainda quente
Deste Verão escaldante que ela encerra
Até que a fresca chuva nela assente 

Crepitam ervas secas, numa guerra
Que executo sobre elas, persistente
E vejo a terra limpa, que descerra
Fecunda, concedendo-se ao presente

Amolento torrões endurecidos
Em tantos movimentos repetidos
Até que fique cama, lisa e fofa
Aconchego-a de grãos cheio de vida

Aguardo impaciente essa saída
Que encherá de sabores minha alcofa
  
(MEA
26/09/2016)




UM SONETO AO AMANHO DA TERRA...II
Maria da Encarnação Alexandre

Germinaram os grãos mais vigorosos
Verdes cheios de vida delicados
Como todos os jovens ansiosos
De vontade e desejo ilimitados

Outros houve tão lentos vagarosos
Exigiram de mim outros cuidados
Mas cresceram por fim muito cheirosos
E de sabores bem apaladados

Fica a terra alindada de frescura
Neste verde das folhas em mistura
com os frutos carnudos da estação

Crescem mudam de cor amadurecem
De cheiros e sabores nos aquecem
Chegada que se faz a refeição

(MEA
3/10/2016)




ANO NOVO
Maria da Encarnação Alexandre

Ouve-se ao longe passos vagarosos
Que se acercam astutos e sagazes
Insensíveis ao frio e ardilosos
Sem empunharem poster ou cartazes

E avançam seu destino, rigorosos
No rumo que tomaram, incapazes
De se afastar e muito cuidadosos
Até cumprir a meta, sempre audazes

Ouvem-se cada vez mais e mais perto
Como se fosse timbres dum concerto
Fazendo-se aclamar junto do povo

Abro de par em par janela e porta
Quero vê-los! Já nada mais importa
Os passos que ouço são do ANO NOVO


(MEA
29/12/2016)



CONSOADA ESPECIAL
Maria da Encarnação Alexandre

Havia pela tarde uma magia
No preparo da noite desejada
Lenha seca arrumada com mestria
Massa que se queria levedada

Noite fora a família em harmonia
Junta à volta do lume, atarefada
Esticando os coscorões logo os frigia
Numa alegria simples e animada

Havia brincadeira, festa, riso
Um misto de loucura e paraíso
Na noite desenhada de surpresa

Fumegante no púcaro, café
Amigo fiel, vai da chaminé
Acompanhar a nossa sobremesa

(MEA
13/12/2016)



DIA DE NATAL
A PRENDA DO MENINO JESUS
Maria da Encarnação Alexandre

Ainda toda a casa dormitava
Ia pé ante pé qual caçador
Espiar a chaminé e ver se estava
No sapatinho a prenda ao meu dispor

Feliz ia pra cama e já sonhava
O momento ansiado do alvor
Em que o dia"atrasado" clareava
Resplandecendo nele luz maior

Era chegada a hora da surpresa
Os olhos esbugalhados pla incerteza
Rasgavam o papel antes da mão
Todo o corpo vibrava na alegria
Do perplexo desejo que crescia
Até por fim gritar "ahs" de emoção

(MEA
14/12/2016)



DIFERENTES CONSOADAS
Maria da Encarnação Alexandre

Uma casa. Família. Paz, amor,
Aconchego, alegria, mesa cheia.
Na falta de lareira aquecedor
Todo o conforto nesta bela ceia

Lá fora solidão com frio e dor,
Tristeza e um cartão velho que é estreia
Duma cama fictícia sem calor
E há estrelinhas servindo de candeia

Nessa noite é mais fria a solidão
É mais rija a dureza do betão
É mais penosa e mais dura a dormida

E numa ceia quente vem consolo
Que alivia e lhe dá aquele colo
Que há muito foi negado pela vida

(MEA
28/12/2016)



DIVAGANDO SOBRE O “NADA”
Maria da Encarnação Alexandre

Que não existe, nulo, sem valor
É o NADA a ausência bagatela
Diz-se para falar de algo menor
Ou do pouco que vemos da janela

Contudo olhando bem pró exterior
Veem-se nele vãos sendo procela
E ditos NADA essência bem maior
Que o cintilante brilho duma estrela

Tanto NADA podendo ser o muito
Depende da vontade ou do intuito
De quem o quer olhar ou perceber

E tanto muito sendo apenas NADA
Ninharia, irrisória madrugada
Para quem trilha caminhos de poder

(MEA
20/12/2016)



EIS, QUANDO SE DESEJA PAZ, AMOR
Maria da Encarnação Alexandre

….Eis, quando se deseja paz, amor
Quando o mundo se encanta nessa espera
Quando se enchem os céus deste louvor
Num cenário de mágica quimera

Na rua, solto oculto anda o terror
Espiando disfarçado como fera
E aguardando o momento esse estupor
Cada vez nos ataques mais se esmera

Avança numa fúria arrebatada
Leva no olhar a morte já ditada
Faz valer ali mesmo o seu rancor

E devasta destrói mata inocentes!
São seres possuídos e dementes
Que fazem propagar no mundo a dor

(MEA
2/01/2017)
(Na passagem de ano em
Istambul)



FANTASIA EM LUZ DE AGOSTO
Maria da Encarnação Alexandre

Amei-te muito mais que em pensamento
Quando este meu olhar se fez imposto
Em ti, pelo teu corpo, num experimento
De louca fantasia em luz de Agosto

Quando a tarde abraçava o sentimento
Eu senti ao roçar pelo teu rosto,
Os meus lábios sedentos, no momento,
O anseio de sentir dos teus o gosto

Sem saberes beijaste-me, beijei-te
Hospedei-me em teu peito, acariciei-te
Foste meu, sem saberes que fui tua

Quando a noite se fez só de luar
Despedi-me baixinho, sem falar
Para que não me visses quase nua

(MEA
1/12/2016)



FIM DE TARDE
Maria da Encarnação Alexandre

Entra o sol pla vidraça entreaberta
Vem brilhar no meu rosto já esquecido
Dos suaves afagos desta oferta
Que por  beijá-lo o deixam aquecido

Com ele traz suave mas incerta
A música dum pássaro atrevido
E que mesmo cantando fica alerta
E faz-se esvoaçar por um estalido

O sol é tão ameno. O canto frágil!
Vai desmaiando o Sol. O passaro ágil
Desfaz-se do seu canto, cala a voz

Pla vidraça fechada apenas escuro
Nem o brilho do sol, mesmo inseguro
Nem o canto do pássaro veloz


(MEA
11/12/2016)



LAVANDO MANCHAS E MÁGOAS
Maria da Encarnação Alexandre

Ia pla madrugada escurecida
Ainda o sol dormia num colchão
Com lençóis de neblina arrefecida
No horizonte pintado de açafrão

Levava na cabeça, destemida,
Uma trouxa de roupa e o sabão
Fazia dos carreiros avenida
Com o cansaço feito da razão

Já no rio onde havia claras águas
Fora a roupa, lavava também mágoas
Que a vida, mais que mãe era madrasta

Esfregava até lavar todas as manchas
Levadas pelo rio em avalanchas
Mas as mágoas porém nada as arrasta

(MEA
11/12/2016)



MEU BRANDO E TERNO BENGALÔ 
(Da tua BIA)
Maria da Encarnação Alexandre

Eras a minha nuvem delicada
Branca, leve e tão pura, que envolvia
Os dias que eram meus. Em cada nada
Olhavas-me com êxtase e carinho

Fizeste dessa curta caminhada
Que até então ainda eu havia
A mais linda alameda, engalanada
Com contos de ficção e fantasia

E se uma tempestade me assolava
O teu colo era abrigo que ansiava
Era meu brando e terno bengalô

Foste porém tão breve em meu caminho
E ficou-me a saudade do carinho
Dos gestos e do amor, de ti Avô

(MEA
19/12/2016)



MOMENTOS E MEMÓRIAS
(Do avô)
Maria da Encarnação Alexandre

Sentado num cantinho da lareira
Ele esfrega as mãos geladas sobre o lume
Que se faz de cavacas de madeira
Aquecendo-se como de costume

Um jogo ou uma história, brincadeira
Momentos inventados dum perfume
Que a memória recorda, já parceira
Da saudade que queima com ardume

Um piscar de olhos, presto, disfarçado
Ou um gesto singelo e engraçado
Nos serões aquecidos da infância

Percorrem os meus olhos quase quedos
Receando perder-se nos enredos
Do espaço que separa da distância

(MEA
30/12/2016)


NATAIS SIMPLES
Maria da Encarnação Alexandre

(Inspirada pelos sonetos dos poetas Carlos Fragata
 e da Maria João Brito de Sousa)

Simples, como eram simples as crianças,
Eram os meus Natais, com as pedrinhas
E o musgo que apanhei nas vizinhanças
Juntando-lhe a cabana com palhinhas

Em pavios de azeite havia danças
De luzes cintilantes e fraquinhas
Que ali davam prazer, sem abastanças
A uns pobres pastores e ovelhinhas

Na chaminé à espera de Jesus
Coberto por mistério e tabus
Ficava um sapatinho adormecido

E de manhã bem cedo a emoção
Fazia bater forte o coração
Ao ver nele um presente prometido

(MEA
11/12/2016)



NUM PALHEIRO DE BELÉM
Maria da Encarnação Alexandre

Sentada no seu burro ia Maria
Seguindo-a mais atrás ia José
Andando devagar sem correria
Porquanto deslocava-se ele a pé

Chegados a Belém ao fim do dia
Não acharam estalagem nem chalé
Perto só um palheiro ali havia
Nem roupa, nem calor de chaminé

Quando caiu a noite houve uma estrela
Que se iluminou mais brilhante e bela
Anunciando ao mundo nova luz

E ficou lá no alto a indicar
O trilho que seria de tomar
Pra adorar o Menino Deus...Jesus

(MEA
17/12/2016)



PERCO-ME NO VENTO...
Maria da Encarnação Alexandre

O vento traz-me cheiros e perfumes
Dispersos nos negrumes da distância
A que ficam infância e os costumes
Que causavam queixumes da substância

Que então era ignorância, azedumes
Trazida plos legumes. Quanta ânsia!
Que asco, que repugnância a tais volumes
Feitos sopa em cardumes. Que implicância!

Porém, agora perco-me no vento
Com esse sentimento de saudade
Que percorre e me invade de memórias

E o olfacto de tal odor sedento
Fica-se num lamento de vontade
De seguir de verdade aquelas glórias

(MEA
4/01/2017)



RECEBO-TE MANHÃ
Maria da Encarnação Alexandre

Recebo-te manhã que nasces prenha
De futuro, de amor,de paz, de vida
Que entras sem precisares duma senha
E no meu dia fazes-te nascida

Recebo-te manhã mesmo que venha
Contigo não apenas luz cupida
Mas triste descrição numa resenha
Dum dia que parece de saída

Recebo-te manhã todos os dias
Vislumbro de ti tantas melodias
que se escondem na paz do teu nascer

Recebo-te manhã, cada manhã
Como se não houvesse outra, amanhã
Aonde eu me pudesse renascer

(MEA
15/12/2016)



REGRESSO
Maria da Encarnação Alexandre

Pisei todas as pedras como então
Olhei portas que já não são como eram
E julguei-as apenas invenção
Que os meus olhos atónitos me deram

Senti por cada montra a afeição
E ouvi tantos segredos que disseram
Nos gemidos que ouvi com emoção
Por delas terem feito o que fizeram

Revi em pouco tempo uma por uma
Desfiz um pouco mais a minha bruma
Que o tempo foi tecendo na memória

No peito houve a alegria de voltar
De, no adolescer me reencontrar
Ao sentir-me na mesma trajectória

(MEA
29/12/2016)



SAUDADE
Maria da Encarnação Alexandre

A saudade chegou quando partiste
E trouxe a solidão gelada e fria
Feita flocos de neve, que persiste
Tornando a madrugada tão sombria

O luar transportou sentido e triste
O silêncio da voz que se queria
Mas, no sol que nasceu tu me sorriste
Porém de olhos fechados para o dia

Deixei teu nome esculpido de cobre
Na pedra negra e dura que te encobre
E da enorme paixão que te assolou

Deixei em bronze um busto de corcel
Sendo o teu companheiro mais fiel
Na memória feliz que me ficou

(MEA
9/01/2017)



SOMBRAS, TREVA E FANTASIA
Maria da Encarnação Alexandre

Hoje tapou-se sol, foi dia escuro
Polvilhado por névoa branca e fria
Tão húmida e tão densa como um muro
Erguido numa mágica ousadia

Não havia horizonte nem futuro
Somente sombras treva e fantasia
Soltas plo nevoeiro branco e puro
Em farrapos aquosos de poesia

Houve ao anoitecer sóis que brilharam
Mais forte e de beleza perfuraram
O branco, então já negro nevoeiro

A noite pôs um véu alaranjado
De brilho, de fulgor enevoado
E fez-se de mistérios plo carreiro

(MEA
06/01/2017)



UM NOVO ANO
Maria da Encarnação Alexandre

O ano já mudou! Chegou Janeiro!
Trouxe com ele esperanças renovadas
E envolto em delicado nevoeiro
Tantos, tantos, pequenos, grandes nadas

Naquele que é o seu dia primeiro
Há votos em gorgeio de alvoradas
De saúde, de paz, amor, dinheiro
Que se expressam tal qual conto de fadas

Celebra-se a chegada com foguetes
Com alegria, festas e banquetes
Todos muito felizes e risonhos

Passada a festa nada se alterou
Este ano vem igual ao que acabou
E os desejos esvairam-se nos sonhos

(MEA
1/01/2017)


VÍTIMAS INOCENTES
Maria da Encarnação Alexandre

Já não têm mais lágrimas! Secaram!
Seus olhos inocentes são pequenos
E por serem assim se desgastaram
Com a destruição, morte e venenos

Os olhares vazios olvidaram
Carinhos que os faziam tão serenos
E escondem-se das balas, que disparam
Perdidos pelos escombros e terrenos

Trazem no rosto marcas duma guerra
E no corpo uma vida que se enterra
Na hipocrisia, logro e na maldade

Sobrevivem no medo fome e frio
Em sofrimento atroz duro e sombrio
Vítimas da ganância e crueldade

(MEA
22/12/2016)





2 comentários:

  1. Muitos Parabéns amiga Encarnação.
    Gostei muito dos sonetos que aqui colocou.
    Desejo-lhe muitas felicidades pois este blogue é lindo.
    É uma honra a ele pertencer.
    Beijinho.
    Lourdes Mourinho Henriques

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    1. Maria da Encarnação Alexandre11 de fevereiro de 2017 às 18:47

      Muito obrigada amiga Lurdes Henriques. É realmente uma maravilha de blog.
      Um grande beijinho para si.
      São

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