Rio de Janeiro, RJ, 1951
BORDADO
Regina Coeli
Quando recordo a
minha mamãezinha
Bordando um pano
pra enfeitar a sala,
Uma saudade em mim
vem e se instala
Daquele tempo meu
de menininha...
Enquanto ela
bordava, eu, quietinha,
Olhava minha mãe a
admirá-la
Nas suaves mãos de
fada a embelezá-la
Gravando em pano o
belo que ela tinha...
Magicamente a linha
airosa ia
Pra aquele pano e
lá um sol formava;
Tão encantada,
palmas eu batia...
Hoje bem sei que a
mãe que então bordava
Usava as mãos
bordando em maestria
A educação dos
filhos que criava.
MEU PAI, MEU FILHO!
Regina Coeli
Um velho pai, um
velho e nada mais,
Alquebrado, vencido
e sem juízo,
Ontem e hoje um
homem tão sem siso,
Que não sabe o que
fala e o que faz...
Deixar-te,
ignorar-te, isso jamais!
Segues comigo pelo
chão que eu piso,
São tantas queixas
e tão pouco riso
Desde um tempo que
trago lá de trás...
Se pode um outro
falho coração
Atrever-se, quem
sabe, a perdoar,
Eu me perdoo, pai,
tanto te amar!
E esse amor, um
jardim em floração,
Perfumará de afetos
o empecilho
Que fez de ti, meu
pai, meu doce filho!
NO TEMPO DOS
QUINTAIS
Regina Coeli
Estão lá penduradas
no varal
Roupas a balançar
alegremente
Os sonhos que
corriam para a frente
Sacudindo a poeira
do quintal...
E nas risadas
frouxas (sem igual!)
De um tempo a beliscar
a minha mente
Eu sinto o que me
falta de contente
No hoje sem folia,
que faz mal...
Eu visto aquelas
roupas tão clarinhas
Lavadas por mamãe
com tanto amor
E dispo as
encardidas nódoas minhas...
O que ficou lá
atrás, seja o que for
Esvoaçando nas cordas
menininhas,
Foi a alegria que
hoje veste dor.
SAUDADE DO ”PIUÍÍÍ”
Regina Coeli
Lá longe, onde o
passado jaz perdido,
Sempre via um
alegre trem passar;
Deixava som saudoso
ao meu ouvido,
Um gostoso
"piuííí" solto no ar...
A criançada, olhar
embevecido,
Aplaudia o
trenzinho em seu cantar,
"Piuííí,
Piuííí!", um eco repetido
Até sumir sua
imagem devagar...
No relembrar de
dias tão distantes
Fica-me uma
tristeza acre e sem fim:
Jamais verei
"piuííís" como vi antes...
Um trem desliza e
corre pelo chão,
Circula e encanta
todos, não a mim,
Porque não traz
"piuííí” ao coração...
QUIMERA
Regina Coeli
À tarde quando o
sol em despedida
Beija a faceira lua
apaixonado,
Quisera estar com
ela lado a lado
Amando-a sem
chegada nem partida.
A lua, meigamente
enlanguescida,
Se mostra ao sol em
branco perolado;
Quisera tê-lo em
céu bem estrelado
E só a ele amar por
toda a vida...
Destino traiçoeiro,
quem traçou?
Negar amor a
amantes no infinito
Somente nega quem
jamais amou.
Ardeu paixão o sol,
raiando em grito
Na luz que a amada
lua então gestou
Parindo o seu luar,
manso e bonito.
AINDA SOU FLOR!
Regina Coeli
Ainda que sem
pétalas, sou flor!
Cheiro a perfume
que exalei um dia
Inebriando a minha
fantasia
De enfeitar o
jardim do meu amor.
Se pétalas perdi no
meu ardor
De colorir o que,
sem cor, eu via,
Sei que a flor tem
seu tempo de magia
E, como o sol, tem
hora de se pôr...
Nasci botão, sou
flor e, sem retarde,
Sinto meu colorido
esmaecer
Como um amanhecer
que jaz na tarde
E morre ao
encontrar o anoitecer...
Não tenho que fazer
da morte alarde,
Pois o que nasce
acaba por morrer!
CANOA FURADA
Regina Coeli
Embarquei em ti
minha suavidade,
Sonhos tímidos,
risos ressabiados,
Fui remando real
felicidade
Pousada em corpo e
alma desarmados.
Traçaste o meu percurso
em vontade;
Eu, sem ação, os
remos descansados,
Cega aos respingos
duros da verdade
Que incomodava em
olhos marejados.
Percebi grandes
furos no teu casco
Ao me debruçar toda
em solidão
E me encharcar nas
águas de incertezas.
Pulei de ti, canoa,
meu carrasco,
Mas naufraguei na
atroz revelação
De ter vencido as
minhas correntezas.
REVELAÇÃO
Regina Coeli
Se o tempo me
guardou pra um só instante
Do qual minh’alma
sábia se afastou
Desato-me daquele
que me atou
E faço do meu corpo
o teu amante.
Passeio em ti de um
jeito apaixonante
Revelo os meus
contornos no que sou;
Instigo-te a um
prazer que sazonou
Na espera e hoje me
faz doce bacante.
E com meus pés
caminhas meus caminhos
Abres clareiras pra
tua luz passar
E vens, ó meu
farol, luzir meus ninhos...
No teu suor,
essência a perfumar,
Eu lavo as mãos e
dedos tão sozinhos
E mato em ti a sede
de me amar!
TUAS ROSAS
Regina Coeli
Estremeço ao
esbarrar no verbo amar
Num passado de mim
que já passou
E morre tão-somente
em quem deixou
Tempo futuro sem se
conjugar...
Das quatro asas
batidas pra voar
Um par se foi, e
ainda não voltou;
Levou a alegria, e
o que ficou,
Tão triste,
preferiu o chão ao ar...
Fui-me arrastando e
a terra fez-se arada
Por meu parzinho de
asas desvalidas,
Por minhas lágrimas
ficou aguada...
Hoje voei subidas e
descidas
Pra te entregar, da
terra bem amada,
Estas rosas
cuidadas e colhidas.
A ÚLTIMA IMAGEM
Regina Coeli
Meu bom
espelho, a linha do teu aço
Rimava imagens que
por ti passavam;
Umas felizes
mil sorrisos davam
Na generosidade do
teu traço.
Outras perdidas,
por perdido o passo,
Na métrica dos
versos se quebravam
E em hino roto e
triste elas entoavam
O mais sentido
olhar, cansado e baço.
Testemunhaste uma
ilusão perdida
E tudo aquilo que
pintaste aí
Na tua aquarela que
hoje é despedida.
Cais da parede em
que viveste aqui
E em tua face
a lágrima escorrida
É a minha
imagem que morreu em ti.
CAMINHOS DO MEU
TEMPO
Regina Coeli
Se quero percorrer
sábias estradas
E dar aos meus
minutos rico fim
O que eu puder
andar dentro de mim
Eu andarei... Por
trilhas e quebradas...
Caso eu cruze com
rosas maltratadas
E encontre sem olor
cada jasmim
Hei de buscar saber
por que é que vim
Pousar meus pés em
rotas desbotadas...
Após a tempestade
vêm as cores
Cintilando no
arco-íris da ilusão
E no doce perfume
de mil flores...
Que das copiosas
chuvas de verão
Revelem-se das
matas os verdores
E os meus becos em
luzes se abrirão.
CÁRCERE
Regina Coeli
E quando olhei
profundo os olhos dela,
Bateu-me bem mais
forte o coração
No olhar furtivo,
escravo da emoção
De se espiar um
segredo da janela.
Entrei no espaço
oculto de uma cela.
Paredes de uma
aguda solidão
Guardavam cada sim
e cada não
Que a boca, por
fechada, não revela.
E de repente um
grito aconteceu
Vindo daquela que
bem fixo olhava
O meu olhar, e a
mim reconheceu.
Descoberto,
meu peito soluçava
Vendo
no espelho a mulher que eu
Encarcerei,
mas cujo olhar gritava.
ILUSÃO DE AMOR
Regina Coeli
Eu solfejei uma
ilusão de amor
Tão minha, e só a
mim interessou...
E tão fugaz, que o
coração chorou
O sol morto...
antes mesmo de se pôr.
Eu solfejei uma
ilusão de amor
Etérea como a flor
que despencou
Do galho, sem
perfume, e evaporou
O roçar do seu
viúvo beija-flor.
Vem de longe o
solfejo amanhecido
Num tom funesto que
minh’alma intui
De um jamais ser,
pois nunca houvera sido...
Se é só ilusão o
que nas veias flui
Não o será neste
epitáfio lido:
Eu só cheguei a ser o que não fui!
SEMENTEIRA
Regina Coeli
Ventos açoitam, um
frio insano gela
Os sonhos róseos de
uma tez morena
Em tenra casca a
emoldurar, pequena,
Caminhos jovens
vistos da janela...
Cercas se curvam ao
tempo que atropela
Podres moirões em
solidão serena
Enquanto os
invasores entram em cena
Jogando ao chão
porteira sem tramela...
E no cair de chuvas
copiosas...
E no calor do sol,
beijando ardente,
O arame frouxo
veste-se de rosas...
E aquele Amor,
guardado qual semente,
Germina ao fim de
esperas dolorosas
E explode em cores
suaves... docemente.
DESFECHO
Regina Coeli
Do que é suspeito a
mim me dói o peito
E mais me toca se é
questão de Amor
Um sentimento que
por onde for
Traça o caminho do
seu próprio jeito.
Bordar anseios ou
negar o feito,
Duas vertentes que
deságuam dor,
Não têm em mim um
bom acusador,
Pois que seria o
meu maior defeito!
Romances vêm e
vão-se de repente,
Passeiam corações,
ah!... vagabundos...
... Que sonham dar
amor a toda a gente!
Quando há adeus, o
Amor chora ais profundos:
"—Vim pela
porta aberta à minha frente
E saio entristecido
pelos fundos."
ENTREGA
Regina Coeli
Sou eu o que
buscavas e não vinha?
Sou eu a te
envolver no meu afago,
Sensual lua a
beijar águas do lago
Em que se banha e
onde se faz rainha?
Sou eu o passo em
que teu ser caminha?
O vinho, teu regalo
a cada trago?
Sou teu prazer até
num beijo pago,
Feitiço que
enfeitiça e desalinha?...
Se sou aquela que
chegou agora
Toda envolta em
essência de jasmim
Cheirando a novo
tempo e a nova hora...
... Eu fico, amor,
contigo eu fico, sim...
Mas se não sou, oh!
deixa-me ir embora
Chorar num canto o
que sobrar de mim!
RESGATE DAS CORES
Regina Coeli
Perderam o sentido
as aquarelas
Usadas pra pintar
só a alegria
Dos vigorosos
traços, sombra fria,
Apenas uns rabiscos
sobre as telas.
Foram fechadas
portas e janelas
E do jardim florido
um certo dia
A murchidão das
flores lá jazia
Pintando o triste
fim de todas elas!
O sol brincou nas
nuvens carregadas
Perdeu sua luz nos
raios que sumiram,
Mas retornou em
lágrimas veladas.
E as cores
desbotadas ressurgiram
Como num lindo
arco-íris, bafejadas
Por meigos pingos
d’água, e até sorriram.
FLOR DA SACADA
Regina Coeli
Era pra ti aquela
linda flor
Jogada pra cair no
teu chapéu
Colhida de um
pedaço do meu céu
Com perfume de todo
o meu amor.
A cada tarde morna
em seu calor
Eu te esperava
envolta em doce mel
E na felicidade que
hoje, ao léu,
Não vê mais
beija-flor na minha flor...
Um dia teu sorriso
me faltou
Fez-se triste o
minuto em minha hora
E em minha mão
aquela flor murchou...
Espero o teu chapéu
a cada agora
Trazendo o meu
sorrir que se findou
Naquela flor que
não levaste embora...
PERFUME DE
ESPERANÇA
Regina Coeli
A ágil enxada
acorda bem cedinho
Espreguiça na terra
uma noite ida
Saúda o sol e o aço
dá partida
A gestos semeadores
de carinho.
E a brisa vem
soprar bem de mansinho
Cansados suores,
úmidos de vida,
Que transformam
torrões da fé exaurida
Na maciez de um
leito como um ninho.
E a lua, com seus
braços prazenteiros,
Banha as sementes
prenhes de beleza
Que dão botões
cheirosos nos canteiros.
Floresçam lindas
rosas na aspereza
Dos corações tão
cheios de espinheiros...
Acorda, enxada! -
clama a Natureza.
DOIS TEMPOS
Regina Coeli
Se o Tempo fere
(ah, fere o Tempo enquanto passa...)
E pisa os sonhos
(tão pisado o que sonhei...),
Pergunto ao Tempo:
— Tempo, diz-me a tua lei
E o Tempo ri, e
passa perto, e nem me abraça...
Voltei no tempo e
achei-me rindo numa praça
Cheia de flor...
Juntinho a mim eu me sentei
Para encontrar o
tempo exato em que deixei
Fugir meu tão
bonito sonho e a minha graça...
Senti brotar em mim
bolinhas de sabão
Tão coloridas como
aquelas que eu fazia
Soprando sonhos por
canudo de mamão...
Olhei pro lado e vi
um olhar que me sorria...
Me descalcei do
Tempo e os pés pousei no chão;
Corri, virei
criança e me abracei ao dia!
MULHER
Regina Coeli
Mulher, etéreo
óleo-sobre-tela,
Pintura em tons
seletos de harmonia;
Aplausos ao pintor
na maestria
Do uso do pincel
que a faz mais bela!
No corpo um
escultor bem a revela:
Suaves ondulações
em simetria;
Sua alma, altar da
dor e da alegria,
Embala uma oração doce
e singela.
Aroma bom de mato e
de pureza...
Um ser de amor
regado a emoção...
Rainha em meio aos
bens da Natureza...
Mulher, tu és a
mais sensual canção
Cantada em poema
cheio de beleza
Pelo poeta no tom
do coração!
DOCE MENTIRA
Regina Coeli
Aquilo que se tem
como verdade
Verdade o é, se faz
o coração
Feliz, fingindo
cega a tal razão
Que vê somente a
dura realidade.
Sensato o coração,
se a mágoa invade
Ela escurece um céu
todo ilusão
Nos pingos
derramados pelo chão
Em pranto já com
gosto de saudade...
Pra que saber de
fato o que é mentir?
Que importa se o
amor parece brando
Na rega que hoje
dás ao meu florir?...
Pra me enganar a ti
vou-me abraçando
E às mentiras que
trazes a sorrir,
Enquanto em mim
verdades vou chorando...
Ó ROSA...
Regina Coeli
Tua é a beleza
augusta e insinuante
A arrebatar das
flores os corações
E a despertar
delírios e paixões
No peito humano que
se sente amante.
É teu o aroma doce
e inebriante
Nascido da
mãe-terra em seus torrões
E carregado ao
vento que tu pões
Aos pés de ti a
cada novo instante.
Tu és o belo e às
mãos pedes passagem
Pra dar aroma, cor
e o teu carinho
À viagem que
fazemos, sem bagagem.
Pra te deixar mais
tempo no raminho
E a proteger-te em
tua excelsa imagem,
O apaixonado Deus
cravou-te o espinho!
EM MIM
Regina Coeli
Em suave outono, em
mim fazia frio,
E minh’alma sozinha
e atormentada
Se escondia na
densa madrugada
Chorando a sua dor
e o seu vazio.
E sorrateiramente
um arrepio
Estremeceu-me a
lida já cansada
E em meu jardim a
flor despetalada
Sonhou em reviver
na terra em cio.
Se o vento fez-me
flor caída e triste,
A brisa hoje bafeja
e a mim eleva
No amor a despertar
o que ainda existe.
Ó meu amor, ó minha
luz na treva,
Cuida esta flor,
que o tempo passa e insiste
Em te fazer meu sol,
quando em mim neva!...
TRISTEZA
Regina Coeli
Quando a tristeza
larga em teu caminho
Angústias,
sofrimento e solidão,
Volta-te aos Céus e
firma os pés no chão,
E acredita que
nunca estás sozinho.
Ao longo da
jornada, o descaminho
Machuca e faz doer
o coração,
Mas crê, tudo isso
passa, e passarão
As lágrimas
carentes de carinho.
Se diante de
perguntas, nos calamos.
Por nada
perguntarem, então choramos,
Uma contradição que
aperta os nós
E que nos deixa
cada vez mais sós...
... Há olhos sempre
postos sobre nós,
Que choram quando
tristes nós estamos!
BORBOLETA
Regina Coeli
Asas aladas e ares
colorindo
A cada flor
oferecendo um beijo
Agradecida és ao
nobre ensejo
De sorrires à Vida
e a veres rindo...
De flor em flor, o
néctar fluindo,
Polinizando vais
como um realejo
Cristalizando notas
de sobejo
Numa canção qual
flor que vai-se abrindo...
Quantos não sabem
que no chão viveste,
Que nas brumas do
tempo evoluíste
Até que alçar-te em
voos mereceste...
Se és vida à flor,
missão que não desiste,
Vou rastejando o
chão que percorreste
Sonhando alegre o
meu casulo triste.
O TECER NA ESPERA
Regina Coeli
Um dia chega, um
dia vai chegar...
E passa o tempo, e
o dia, onde andará?
Onde andará o dia,
no acolá?
E esta espera cá
vive de esperar...
O sol se vai, e a
lua vem brilhar
Minutos, horas,
ai!, quando virá,
Se tanto passa, o
que ainda há
De belo e tão
bonito pra esperar?
Se o dia que se
quer não nos chegou,
Não está pronto,
está amadurecendo
Na teia que o tear
não terminou,
Então este que a
gente vai vivendo
É um fio pelo qual
não se esperou,
Mas fia o dia que
se está querendo!
CHUVA
Regina Coeli
Veio tão branda e
ao borrifar a planta
Em suave afago que
do céu caiu,
Chorou feliz e no
chorar sentiu
Uma alegria
verdadeira e santa.
A seca planta
agradeceu, foi tanta
Paz, que ao frescor
todo o calor sumiu,
E cada folha
abertamente riu...
Se cai a água, a
água a sede espanta.
E um intenso verde
rebrotou na aurora
Reverdecendo-se a
raiz sofrida,
Cansada e triste a
segurar a vida...
E a natureza, numa
taça erguida,
Bebeu do encanto de
chover na hora
Em que a esperança
já se ia embora...
O SEMEADOR E A
SEMENTEIRA
Regina Coeli
No coração humano
tem um jardim
Cheio de
sementinhas variadas,
Buscando a luz
depois de germinadas
Para alastrar no
chão o bom e o ruim.
E devagar despertam
num festim
Brotos, folhas, e
flores perfumadas
Que podem fenecer
se sufocadas
Pelas crescidas
mudas de capim.
Os Céus dão chuva e
sol às mãos, deixando
Que elas façam
brotar só flores lindas
Desde que vão o inútil
arrancando.
E o solo humano, de
paixões infindas,
Irá se recobrir de
rosas quando
Só sementes de Amor
forem bem-vindas!
LÍRICO
Regina Coeli
A tarde no
horizonte vai sumindo
Nas cores de um
verão exuberante,
Sem pressa a lua,
eterna debutante,
Faz-se luar na
luz que vai surgindo.
Na voz
dos pássaros, um hino lindo
De amor à Natureza
chilreante;
Dos troncos zumbem
alto, num rompante,
Os cantos que as
cigarras vão zunindo.
Chegam as sombras,
mágicas cascatas
Em tons difusos de
paleta morta
Na noite que
solfeja serenatas.
Tanta
beleza me arrepia. E corta fundo
Esse vento que
escapou das matas
E arranca
a solidão da minha porta.
O LIVRO MAIS
PRECIOSO
Regina Coeli
Preciosos são os
livros de aventura
Que mostram o homem
a vencer o mar,
E naves indo ao
espaço desbravar
Chãos de mistério
em vívida procura.
Preciosos são os
livros de candura,
Fazendo a alma
inteira se elevar
E ao coração em
cânticos ressoar
As mais sublimes
notas de ternura.
Todos são livros
ricos e importantes,
Mostrando o homem a
firmar seu passo
Por sendas as mais
diversas e distantes.
Somente um livro
leio e sigo o traço;
Não é vendido e nem
se vê em estantes:
É o da minha
existência — e eu mesma o faço.
VOANDO...
Regina Coeli
Leva-me embora,
doce passarinho,
Pra eu passear as
minhas desventuras
E as consolar no
topo das ternuras
Em que balança,
leve, esse teu ninho.
Nas tuas asas,
cheias de carinho,
Eu beberei do verde
das culturas,
Dos mares que
amolecem terras duras
Onde pisei em passo
tão sozinho.
Verei o sol
cuspindo amor ardente
Nas labaredas
fúlgidas e belas
Por sobre as serras,
sobre toda a gente.
E nos jardins as
flores mais singelas
Acenarão pra nós
alegremente
E eu sorrirei na
cor de todas elas...
QUANDO
ME ABRAÇAS
Regina
Coeli
(ao Soneto)
Senti
cravada em mim a dor maior
E
em minha boca o fel de um pranto triste:
Achar
que a Vida pôs seu dedo em riste
E
a mim julgava como um ser pior.
Mas
tudo passa. A lágrima hoje é suor,
Eu
limo o verso e em mim a rima insiste
E
quer coroar, talvez, um dom que existe:
Fazer
poesia com um som melhor.
E tu, quatorze versos cintilantes,
Eclipsaste
o Sol. E em noite alta,
Foste
seresta a todos os amantes,
Por
isso, luz que me ilumina e exalta,
Busco
a ti pelas sendas volitantes:
Somente
tu... para suprir-me a falta.
Ah! Poeta!Como é doce caminhar por entre versos tão cuidadosamente elaborados, tão precisos nos seus conteúdos, tão seresteiro nos seus cantos!O "seu tear" teceu e tece as tramas do amor a tudo e a todos que merecem ser amados. Receberá, por certo, o maravilhoso brilho solar nas duras friagens dos seus invernos. Nas suaves asas dos seus passarinhos continuará seu voo atento, preocupado com os ventos fortes mas sempre segura, transparente para aqueles que a conhecem. Suas flores maiores(seus sonetos) deixam um perfume muito seu que permanecerá.Meus aplausos pelo riquíssimo trabalho,pela garra, pela tenacidade nas pesquisas. Minha admiração e meu carinho sempre.
ResponderExcluirRegina Coeli, poetisa e sonetista do ir e vir da vida, e a alma envolta em sombras de ilusões adormecidas ou de alegrias. Ora se prende ao automatismo de seus movimentos, ora despretensiosa. A sua alma pura, leve, cândida e meiga, necessita e precisa voar acima das concepÇões de espaÇo, romper barreiras temporais, para poder colher cantigas de há muito levadas pelo vento, toadas no manso das manhãs, no morno sopro das tardes e nas vagagens dos silêncios noturnais.
ResponderExcluirParabéns, querida amiga! Continue nos abrilhantando com seus belíssimos sonetos, que semeia sorrisos sorrindo nas letras. Minha admiraÇão é enorme.Beijos
Regina, minha querida. Por onde você anda? Saudade imensa. Entre em contato comigo por este e-mail. Beijos
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