ALEMANHA
Durante a Idade Média, os países europeus,
não obstante a diversidade de raça, língua e política, não se constituíam povos
isolados.
Os artesãos que trabalhavam, por exemplo, a
pedra e a madeira, nas catedrais, transferiam-se de um país para outro, de
acordo com as necessidades das obras a que se dedicavam. Quanto aos padres e
eruditos, sentiam-se à vontade, em qualquer lugar, pela comunicação fácil
através do latim.
Os artistas eram sustentados pelas classes superiores,
que animavam as artes, e o povo acorria para ouvi-los. Assim, era muito comum a
profissão de "jongleur", que traba!hava em troca de alimento e
pousada.
Na Alemanha, e principalmente ao sul, ou
seja, Baviera e Áustria, a poesia tinha o seu lugar de destaque. Ali, floria a
arte do Minnesang (canto de amor), influenciada pelos "troubadours"
provençais; e logo os Minnesingers alemães ganharam força e fama, embora
cavaleiros de grau inferior, cantando, geralmente, o amor inacessível. Os Minnesingers
foram os antecessores dos mestres cantores.
Nos séculos XII e XIII, os versos líricos
brilharam intensamente. E, como conquista nacional, surgiu o "lied"
germânico, característico daquele povo.
O maior Minnesinger foi, como já vimos,
Walter von der Vogelweide.
Data do século XIII o
"Niebelungenlied", o trabalho de maior realce da poesia medieval da
Alemanha. Não parece ter sido obra de um só poeta, mas a compilação de vários
deles. Trata-se, possivelmente, da reprodução de contos populares já conhecidos
desde antes da literatura escrita. As óperas de Wagner se encarregaram de
espalhá-los pelas áreas além das fronteiras alemãs.
Mas, a verdade é que, até a Reforma, os
alemães pouco produziram no campo literário.
A língua autóctona, ou inicial, era o godo,
ou gótico. Na Saxônia e na Áustria era falado o alto alemão, aquele que Lutero
usou na sua tradução da "Bíblia", em 1541. Começou aí, de fato, a
literatura alemã.
O soneto, segundo Mello Nóbrega, foi
introduzido na Alemanha por Johann Fischart (1546-1590). No
século XVII tornou-se popular, principalmente pela preferência que lhe deram Martin
Opitz (1597-1639) e seus seguidores.
Opitz não é considerado um grande poeta,
mas, historicamente, tem muita importância, pois foi o reformador da literatura
alemã, disciplinando-a de acordo com os modelos italianos e holandeses. Deu
início, aliás, à época barroca em seu país.
Paul Fleming (1609-1640) foi um
dos poetas da Reforma, o movimento religioso e político instigado por Martinho
Lutero. Escreveu cantos sagrados, hinos, odes, elegias, destacando-se, entre
suas produções, um soneto intitulado "A si próprio", muito divulgado
e apreciado na época. Mas, também, escreveu sonetos eróticos, intensamente
pessoais, não obstante ser o mais sóbrio dos grandes poetas líricos do barroco
alemão.
Andreas Gryphius (1616-1664) deixou
belos sonetos, como o célebre "Tudo é ilusão", em que encarava o
mundo e a transitoriedade da vida com uma resignação comovente. Gryphius foi a
maior figura da literatura barroca na Alemanha. Conseguiu ser um lírico, apesar
"da miséria geral de sua época". Muitos de seus sonetos, de rara
perfeição formal, refletem a angústia religiosa e os horrores da guerra dos
Trinta Anos. Publicou vários livros, um dos quais "Sonetos para domingos e
dias de festas".
O soneto, na Alemanha, perdeu bastante, a
partir daí, mas conseguiu reviver com os poetas Goitfried August
Bürger (1704-1794) e August Wilhelm Schlegel (1767-1845),
principalmente com este último, que o valorizou entre os românticos.
Goethe (Johann Wolfgang
von Goethe) — (1749-1832) é apontado como o maior poeta da Alemanha e um dos
vultos literários mais importantes da humanidade.
Joaquim Thomaz, em seu livro de crítica
"Sóis eternos", diz que "o espírito de Goethe faz-nos lembrar a
densa ramagem de um grande carvalho plantado no meio da montanha. Os seus
cam-biantes são vários como a extensão da floresta e rebrilham ao sol como
primores de jóias".
Goethe morreu aos 83 anos, desfrutando de
todo o esplendor de sua glória, "ao terminar o retoque da obra de toda a
sua vida, que foi o "Fausto".
"Poeta
da graça feminina, para quem a alegria do amor reside até no próprio
sofrimento" — registra o crítico.
São palavras, ainda, de Joaquim Thomaz:
"... Mas a juventude do poeta tinha sede de amor. Amou Gretchem, amou
Annette, amou Frederica, amou Lili. Entre elas talvez tenha sido Lili a
preferida, se forem sinceros os poemas que lhe dirigiu".
Bilac, o maior dos nossos poetas,
dirigindo-se ao maior dos poetas da Alemanha, fez, em soneto, uma comovente
evocação a Goethe, a propósito de sua obra e relembrando o famoso poema épico
"Hermann e Dorotéia" (1797):
"Quando
te leio, as cenas animadas
por
teu gênio, as paisagens que imaginas,
cheias
de vida, avultam repentinas,
claramente
aos meus olhos desdobradas...
Vejo
o céu, vejo as serras coroadas
de
gelo, e o sol, que o manto das neblinas
rompe,
aquecendo as frígidas campinas
e
iluminando os vales e as estradas.
Ouço
o rumor soturno da charrua,
e
os rouxinóis que, no carvalho erguido,
a
voz modulam de ternuras cheia:
e
vejo, à luz tristíssima da lua,
Hermann
que cisma, pálido, embebido
no
meigo olhar da loura Dorotéia".
(Olavo Bilac)
Também
apresentamos a seguir, do próprio Goethe,
este soneto "A donzela diz",
numa tradução de Eugênio de Castro:
Amor,
lembras-me, ao ver-te carrancudo,
o
teu busto de pedra arrefecida:
como
este, não me dás sinal de vida;
e
mais do que ele estás fechado e mudo.
Oculta-se
o inimigo atrás do escudo,
o
amigo deve andar de fronte erguida.
Foges
de mim, que após ti vou, dorida;
pára!
Não anda o mármore sisudo.
Ah!
para qual dos dois voltar-me devo?
A
frieza dos dois hei de agüentar,
de
ti que és vivo, e dele, sem alento?
Basta
de queixas vãs! Em doce enlevo
tão
longamente a pedra vou beijar,
que
dela enfim me arrancarás ciumento!
August Wilhelm Schlegel (1767-1845), que
era professor de literatura na Universidade de Iena, rompeu com Goethe e
Schiller, repudiando, também, o classicismo. Com seu irmão Friedrich Schlegel
(1772-1829), editou, nos anos de 1798 a 1800, a revista "Atheniium"
("Ateneu"), primeiro órgão do romantismo na Europa.
August ligou-se a Mme. de Staël, com a qual
viveu, em Coppet, até a morte da escritora francesa.
Schlegel era um grande entusiasta do
soneto, sendo mesmo o responsável pela "fúria sonetífera" da Alemanha
de seu tempo.
Um dos mais citados dos sonetos de Schlegel
é "Das Sonett", de caráter apologético. Mello Nóbrega escreveu dele a
seguinte paráfrase:
Duas
rimas procuro e, num quarteto,
as
vou dispondo, em versos bem medidos:
e,
em pares, uns por outros envolvidos.
a
seguir as repito e as entremeto.
Novos
elos de sons, por um terceto
e
depois, em segundo, repartidos,
no
mais terso dos poemas preferidos,
dão-me
a medida e a forma do soneto.
E
ele me fala: — "Aquele que não gosta
de
mim, e julga falsas minhas leis,
dou
o silêncio, apenas, em resposta.
Mas
vós, que, em poucos versos, penetrastes
meu
encanto secreto, alcançareis
a
harmonia serena dos contrastes".
Karl Theodor Kürner (1791-1813) foi um
intelectual bem dotado pela natureza, tendo publicado, em 1810, os primeiros
versos. São admiráveis as poesias patrióticas, reunidas sob o título "Lira
e Espada'', e inspiradas na luta pela libertação dos estados alemães contra as
hostes napoleônicas. Aliás, combateu, também, como soldado, tendo morrido numa
escaramuça entre duas patrulhas avançadas. Quando foi ferido pela primeira vez,
julgou haver chegado o seu último instante. Então, escreveu o soneto "Adeus à Vida". que
publicamos, numa tradução de José Gomes
Monteiro:
Meus
lábios tremem; punge o golpe ardente.
No
lânguido bater do peito ansiado
sinto
ao termo da vida ter chegado.
Teu
era; a ti me entrego, ó Deus clemente!
Que
visões que afagaram minha mente!
Mas
ai! que o sonho em morte é dissipado.
Valor!
O que em meu peito hei fiel guardado,
viverá
lá comigo eternamente.
A
idéia que adorei qual divindade,
que
exaltava meu jovem ser fogoso,
ou
lhe eu chamasse "amor" ou "liberdade";
ei-la
ante mim, qual anjo luminoso;
e
perdendo eu da vida a faculdade,
subirá
com minha alma ao céu radioso.
Enumeramos,
ainda, poetas alemães de grande porte:
Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), o
maior homem de letras da ilustração germânica, em termos de teoria, crítica e
dramaturgia. Destacou-se como crítico, ao reprimir o Classicismo francês,
infligido à literatura alemã do século XVIII.
Johann Heinrich Voss (1751-1826),
filólogo e poeta sentimental. Seus quadros idílicos, como "O septuagésimo
aniversário" (1781) e "Luise" (1785), propiciaram a Goethe a
idéia e a forma do famoso poema, também idílico, "Hermann e
Dorotéia", publicado em 1797. Notabilizou-se, outrossim, pelas traduções,
que fez, da "Odisséia" (1781) e da "Ilíada" (1793), ambas
do poeta grego Homero.
Johann Heinrich Stilling (1740-1817), que
exerceu influência sobre Goethe.
Friedrich Schiller (1759-1805),
poeta, escritor e historiador. Goethe e ele são os mais ilustres escritores da
Alemanha.
Clemens Brentano (1778-1842),
poeta, contista e novelista, homem de fantasia bizarra e desordenada.
Archim von Arnim (1781-1831), poeta
e romancista. Aristocrata prussiano, e autor de excelentes contos e novelas
fantástico-grotescos.
Joseph von Eichendorf (1788-1857),
considerado "o último cavaleiro da escola romântica". Autor da novela
"A Estátua de Mármore".
Friedrich Hebbel (1813-1863),
dramaturgo e poeta lírico.
Emanuel Geibel (1815-1884). Poeta
lírico, seus versos são harmoniosos, como demonstrou em vários livros, entre os
quais "Cantos Populares de Espanha".
Paul Heyse (1830-1914).
Romancista, poeta lírico e épico, do-tado de grande fantasia e mestre de um
estilo brilhante. Magnífico tradutor, sobretudo da lírica hispânica (1852), em
colaboração com Emanuel Geibel.
Como era de se esperar, foi artificial o
soneto no Romantismo alemão. Ainda assim, salvaram-se, além dos que pudemos
obter, e de alguns outros, os "Venezianische Sonette", de Platen
Hallermunde (1796-1835).
Igualmente, é de se ressaltar que, em
línguas como essa e, em geral, nas eslavas, o soneto, em qualquer época, não
era correntio, dadas as dificuldades encontradas pelos poetas, na própria
natureza de seus idiomas.
*
A respeito da introdução do soneto na
Alemanha, existe a opinião de uma corrente conduzida por Albrecht Schaeffer e
Fritz Strich. Segundo esses literatos, o soneto teria chegado às terras
teutônicas através de Weckerlin e de Paulo Schede. Schede
(1539-1602) foi um poeta conhecido pelo apelido de Melissus, e era cognominado
o "Píndaro da Germânia".
Na Alemanha, ao Soneto se opuseram inimigos
sistemáticos entre os quais Johann Heinrich Voss e Jens Immanuel Baggesen
(1764-1826), um escritor dinamarquês que se radicou e morreu em Hamburgo.
Em compensação, "outros o cultivaram
com tal devoção — lembra a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira — que o
arvoraram quase em forma artística nacional". E, entre eles, estão
citados: Riickest, Redwitz, von Arnim (1781-1831), Joseph von Eichendorf
(1788-1857), Carlos Augusto de Platen (1796-1835), Emanuel Geibel (1815-1884),
Paulo Luis Heyse (1830-1914).
HOLANDA (Países Baixos)
em holandês NEDERLAND)
País dos bátavos, bastante alheio à
civilização romana, foi evangelizado no século VII, por Santo Willibrord
(658-739), um dos apóstolos da Frisia (em holandês Friesland).
O mais antigo poeta desse país chamava-se Heinrich
van Veldeke, de origem alemã (cerca de 1170). Seu papel foi importante,
porque, não só contribuiu para popularizar, na Holanda e Alemanha, a literatura
galante da França, como deu início ao classicismo alemão na Idade Média.
No fim do século XIII, Jacob van Maerlant
(1225-1291) refletiu o espírito realista burguês e é considerado "pai da
poesia holandesa".
No século XV, Elckerlyc (cerca de 1485)
cultivou uma poesia erudita, com obras também de fundo dramático; enquanto a
poesia religiosa teve o seu representante em Thomas a Kempis (cerca de
1420).
No século XVII, "século de ouro",
aí, sim, o espírito renascentista, na Holanda, atingiu certa maturidade, ao se
libertar do domínio espanhol. A arte nacional se fez presente com o espírito
cômico de Gerbrand A. Bredero (1585-1618); o lirismo de Constantin
Huygens e H. Dullaert; atingindo o seu ápice com a poesia de Pieter
Cornelisz Hooft (1581-1647), de Joost Van den Vondel (1587-1679),
este último, poeta cristão, e de Jakob Cats (1577-1660), poeta
burguês de relativo sucesso.
Depois do classicismo de Willem
Bilderdijk (1756-1831), o maior poeta holandês de sua época, apareceram
escritores e poetas românticos, mas as suas vozes foram abafadas pela tradição
realista de Nicolaas Beets (1814-1903), poeta e escritor, autor de um livro
de contos, "Câmera obscura", publicado em 1839.
O movimento de 1880 logrou renovar a
literatura e, naturalmente, a poesia, na
Holanda. Consumou-se, então, a vitória do simbolismo e "o soneto foi o
veículo daquela renovação " , através dos sonetistas Jacques Pert, Willem
Kloos (1859-1938) e Albert Verwey (1865-1937).
No século XX, Herman Gorter (1864-1927)
surgiu com uma poesia de caráter social. Entre as duas grandes guerras, ganhou
nome o poeta Hendrik Marsman (1899-1940).
Depois de 1945, Lucebert (Jacobus
Swaanswijk), nascido em 1924, e Kourvenaar, surgiram como poetas
experimentais da vanguarda holandesa.
*
Na Holanda, o soneto fez mais admiradores
que na Inglaterra. A "introdução do soneto" nos Países Baixos ocorreu
no século XVII, com o grande poeta Pieter Cornelisz Hooft (1581-1647).
Aliás, todos os poetas desse século foram
sonetistas, podendo-se dizer que, entre aqueles que mais se sobressaíram,
estava o poeta religioso Heiman Dullaert.
ÁUSTRIA
Até o fim do século XVIII, a literatura austríaca,
de língua alemã, confundia-se com a literatura germânica.
Entretanto, uma literatura especificamente
austríaca acabou sendo criada com a progressão do estilo barroco e o
favorecimento da Contra-Reforma. E a própria língua alemã ganhou com isso, pois
os literatos da Áustria se constituíram em elementos bastante significativos.
A poesia de Nicolau Lenau (1802-1850)
é romântica e byroniana.
Artur Schnitzler (1862-1931) foi
realista um tanto sentimental, que abriu o caminho do simbolismo para Hugo
von Hofmannsthal (1874-1929), e do pós simbolismo para Trakl
e Rilke.
Georg Trakl Salzburg (1887-1914),
influenciado por Baudelaire e Rimbaud, publicou, em vida, poemas esparsos. Após
a morte, saiu, em 1919, o seu livro "Gedichte" ("Poesias").
Rainer Maria Rilke (1875-1926)
apresentou, até 1902, suas primeiras poesias sentimentais, sem grande
repercussão. Famosas são suas "Cartas a um jovem poeta" ("Briefe
an einen jungen Dichter"), "espécie de teoria existencial da arte
poética". É produção em prosa, ainda de cunho simbolista. Corno
pós-simbolista, escreveu "Novos poemas" ("Néue Gedichte"),
em 1907/1908, que muitos consideram sua criação mais perfeita. Em geral, porém,
a preferência mundial se inclina para as suas últimas obras, "de poesia
filosófica influenciada por Nietzsche: "Elegias de Duino"
("Duineser Elegien", 1922), e "Sonetos a Orfeu"
("Sonette an Orpheus", 1923). Os alemães o classificam como "o
maior poeta do século XX" (Delta Larousse).
Neste século XX, já os austríacos se distinguiam
por sua literatura eminentemente nacional, com Heimito von Docleret
(1896-1966) e Roberto Musil (1880-1942), apelidado de "Proust
austríaco".
E a literatura contemporânea austríaca
está, inclusive, muito enriquecida com outros escritores, entre quais Franz
Kafka (1883-1924), naturalizado tcheco em 1918, romancista e contista,
que viveu obscuramente e que só vinte anos após a sua morte passou a ser, não
apenas conhecido, mas considerado um valor literário de inédito prestígio
mundial; e Stefan Zweig (1881-1942), novelista opulento
.("Amok"), vitorioso nos mais diversos gêneros, ensaísta e autor de
notáveis estudos históricos. Em vida, a última obra publicada de Zweig foi
"Brasil, país do futuro" (1942). Suicidou-se em companhia da mulher,
aqui no Brasil, em Petrópolis, deixando vários livros inéditos.
POLÔNIA
O criador da literatura polonesa foi o
escritor calvinista Mikolaj Rei (1505-1559). Escreveu "Espelho da vida do
homem honesto"; "O mercador"; "Vida de José".
Logo após, a poesia lírica já contava com
um nome de real valor, o maior poeta da antiga Polônia, Jan Kochanowski
(1530-1584), que deu início à "idade de ouro" do país.
"Treny" ("Lamentos"), sua obra-prima, é uma reunião de
elegias a respeito de sua filha Úrsula.
A vida intelectual sofreu um retrocesso com
as invasões estrangeiras e perturbações políticas, mas no fim do século XVIII
(1760) deu-se início a um período de renovação.
O classicismo teve seus momentos de êxito,
porém o romantismo acabou por triunfar. Um dos seus ideais era a luta pela
libertação nacional.
Adam Mickiewicz (1798-1855) surgiu
como o maior poeta e profeta da Polônia; e a literatura romântica atingiu suas
culminâncias, com Slowacki, Krasinski e Norwid.
Juliusz Slowacki (1809-1849),
lírico de alta categoria, mestre da língua e do verso. Místico religioso e, ao
mesmo tempo, revolucionário. Autor de
muitos livros importantes, entre os quais "Poezye" (1833). Zigmunt
Krasinski (1812-1859) passou toda sua vida na França e na Itália,
sonhando com a libertação da pátria. Esse, o tema de seu grande poema dramático
"Nieboska-komédia", 1835 ("A comédia não-divina). Também
escreveu o volume de poesias "Psalmy przyslosci" ("Salmos do
futuro"), em 1845. Cvprian Kamil Norwid (1821-1883), que
passou toda a vida no exílio, foi o último poeta romântico da Polônia.
Em 1822, Adam iniciou, no seu país, a era
do Romantismo. Entre outros livros, escreveu, em 1826, os "Sonetos da
Criméia" ("Sonety Krymskie"), que não tem caráter político.
"O Senhor Tadeu" ("Pan Thaddäus"),
epopéia rústica e cavaleiresca, em doze cantos, é a sua obra-prima (1834). É,
mesmo, a epopéia nacional dos poloneses.
Obrigado a expatriar-se, viveu em Paris,
onde exerceu a função de Professor de Literatura Eslava, no Colégio da França.
Morreu de cólera, em Constantinopla, quando, ali, de passagem, cumpria uma
missão de que tinha sido incumbido por Napoleão III (Imperador dos franceses,
no período de 1852 a 1870).
Aqui
está um de seus sonetos:
Adam
Mickiewicz (1798-1855)
(Trad.
de Guimarães Passos)
Buscas
o meu olhar, ó pomba de inocência!
Simplicidade! Teme a chama que fulgura
nos
olhos da serpente, e antes que a sua escura
influência te absorva, escapa-lhe à
influência.
Ser
sincero somente — eis a minha ventura.
Pode
inda o teu fulgor aclarar-me a demência,
mas
quero a solidão, e à tão negra existência
por
que queres mesclar a tua alma tão pura?
Ame
embora o prazer, não quero a tua morte;
o
fogo das paixões consumiu-se, criança,
e
eu não quero trocar a tua feliz sorte.
Perdeu-se
o meu lugar no passado sombrio...
Hera
viçosa, abraça o tronco da esperança
que,
eu, musgo, abraçarei um túmulo vazio.
Das línguas eslavas, a polonesa é a menos
eslava. Tem muita relação com o Ocidente, sendo repleta de vocábulos
"furtados" à língua alemã e, também, à latina. Mesmo assim, sua
identificação com a literatura alemã achava-se tão distante, que Schiller, por
exemplo, só era conhecido por intermédio das traduções para o francês.
Desde o século XVI, não sofreu
modificações, mas, nem por isso, deixa de ser rica em formas.
Em 1772, 1793 e 1795, os territórios da
Polônia sofreram divisões, em benefício da Rússia, Áustria e Alemanha
(Prússia).
O caráter nacional polonês procurou
resistir às tentativas de russificação e germanização do país. Houve a primeira
revolta, quando "os seus jovens — nos diz Klabund — com a sua "Ode à
mocidade" nos lábios, na noite de 29 de novembro de 1830, atacaram o
palácio do grão-príncipe russo residente em Varsóvia".
Fracassou esse esforço. Adam Mickiewicz
deu, na peleja inglória, o seu quinhão, "como poeta e como
combatente". E, por isso, jamais foi esquecido. É, na Polônia, considerado
o maior poeta de todos os tempos, e também o patriota mais ardoroso.
Em 1863, não obstante o seu heroísmo, os
poloneses, em nova insurreição, tiveram destino igual.
Outras reações, de menor vulto, ocorreram,
mas, afinal, em 1918, recuperaram sua independência.
Até então, seus grandes literatos eram
emigrantes. Daí, os poetas, os escritores e artistas em geral passaram a
dialogar com os de outros países, acompanhando, inclusive, os movimentos artísticos
em voga nas demais partes do mundo, principalmente na Europa.
Os primeiros poetas, entre eles J.
Lechon, Julian Tuwin (1894-1953) e Antoni Slonimski (n. 1895), se
reuniram em torno da revista "Skamander". Tuwin é o maior poeta
moderno da literatura polonesa. Refugiado, durante a segunda guerra mundial,
nos Estados Unidos, lá escreveu, em 1948, o poema lírico-épico "Kwiati
Polskie", muito divulgado. Slonimski, entre outros livros, escreveu
"Sonety" (Sonetos), em 1918.
E, depois de 1956, os nomes de poetas
poloneses, de que temos notícia, são os de S. Grochowiak, M. Bialoszewski e Z.
Herbert.
TCHECOSLOVAQUIA
A Tchecoslováquia não teve independência
nacional, durante séculos.
A língua tcheca era falada apenas em um
pequeno domínio e, por isso, a sua literatura, embora de superior qualidade,
não se expandia, não alcançava outros povos. Em conseqüência, o sentimento
nacionalista cresceu de tal forma que chegou ao ponto de, "ad majorem
patriae gloriam", segundo Klabund, "falsificar uma antiga literatura
nacional tcheca, a Libussa, que glorificou as lutas dos tchecos contra os
alemães e os poloneses".
Seriam manuscritos de Koeniginhof e de
Gruenberg, e teriam sido encontrados, por Vaclav Hanka (1791-1861), em 1817, na abóbada de uma
igreja. Entre os descobridores da falsificação estava o próprio Presidente da
República da Tchecoslováquia, escritor, político, sociólogo e estadista, Tomás
Garrigue Masaryk (1850-1937).
Jan Hus (1369-1415) foi quem
primeiro reformou a língua tcheca, enriquecendo-a de germanismos e latinismos.
A partir de 1620 (batalha no Monte Branco),
houve um período de letargia.
Veio, porém, a acontecer um fato que, mais
uma vez, despertou o sentimento do povo sofrido. José II, imperador germânico
(de 1765 a 1790), na tentativa de unificar a monarquia, à qual estava jungida
aquela parte da Tchecoslováquia, cometeu uma série de opressões, inclusive
decretando o alemão como língua oficial.
Com esse ato despótico, ficou proibido o
uso da língua tcheca, até nas escolas. E a reação dos tchecos, como também de
outros Estados da comunidade alemã, não se fez esperar. O primeiro fruto dessa
revolta foi a epopéia "Slávy dcera" ("A filha de Slava"),
composta "em sonetos" por Jan Kollár (1793-1852).
"Esse grande ciclo de sonetos —
esclarece a Delta Larousse — editado em 1824 e aumentado em cada nova edição
até 1852, é a glorificação poética do passado eslavo e a base teórica do nacionalismo
pan-eslavo, que (diferente do pan-eslavismo posterior) afirma a identidade
(sobretudo cultural) de todas as nações eslavas".
Klabund, a respeito, acrescenta: "O
modelo da "Filha de eslava" foi uma filha dum pároco da Turíngia,
Mina Schmidt, que Kollár conhecera e amara quando estudava em Iena. A apoteose do
eslavismo recaiu sobre uma jovem alemã".
Aliás, com essa obra de Jan Kollár, o
soneto foi introduzido na Tchecoslováquia.
O romantismo produziu um grande poeta, Karel
Hynelc
Macha (1810-1836). Petr Bezruc (1867-1958) criou nova
poesia popular. Otokar Brezina (1868-1929) e Antonio Sova introduziram
o sim-bolismo. O surrealismo contou com a poesia de Vitezslav Nezval
(1900-1958). E, após a segunda guerra mundial, destacaram-se os poetas Jiri
Orten (1919-1941) e Frantisek Halas (1901-1949).
IUGOSLÁVIA
Pelo menos em termos de literatura, o que
existe, de mais importante, na Iugoslávia, é aquilo que nos mostram estas duas
repúblicas da Federação Iugoslava: Sérvia e Croácia.
Face a tradições históricas e religiosas,
são diferentes as literaturas adotadas por sérvios e croatas. No passado, os
croatas viveram sob o domínio húngaro e a religião era a católica; e os sérvios
sob o domínio turco e a religião ortodoxa.
Não obstante, existem, entre elas,
identidade lingüística e analogia literária. Assim sendo, não se pode falar
senão em literatura sérvio-croata.
As poesias populares, comparadas às mais
ricas da Europa, formam a base dessa literatura. Datam do século XIV e, até
serem escritas no começo do século XIX, conservaram-se oralmente no alaúde sérvio
(a "guzla").
Primeiramente, foram publicadas, em 1814,
por Alberto
Fortis (n. em 1744). Logo depois, em 1815, estimulado pelo poeta alemão
Jakob Grimm, o escritor sérvio Vuk Stefanovic Karadzic (1787-1864)
publicou-as, mais completas, em três volumes.
Imediatamente vertidas para várias línguas,
alcançaram prestígio notável dentro do romantismo alemão e francês, chegando
Goethe a traduzir algumas delas.
O primeiro centro de uma literatura
sérvio-croata surgiu nos séculos XVI até o XVIII, na independente república de
Ragusa (hoje Dubrovnic). Esse evento se verificou sob vigorosa influência
italiana, principalmente através de um "poeta petrarquista", Mencetic.
Entre os poetas românticos, o mais
representativo é Branko Radicevic (1824-1853), que lançou o livro
"Pesme" ("Poesias"), em 1847. O parnasianismo foi levado
pelo poeta Vojislav Iljic e o simbolismo por Jovan Ducic.
Este poeta sérvio, Jovan Ducic (1871-1943),
talvez o maior artista do verso em sérvio-croata, é autor de dois magistrais volumes
de sonetos: "Jadranski soneti" ("Sonetos adriáticos") e
"Carski soneti" ("Sonetos imperiais").
RÚSSIA
As primeiras obras de literatura russa
foram escritas em eslavo eclesiástico, sob profunda influência dos escritores
bizantinos.
Em língua vulgar, a tradição oral retém,
carinhosamente, as "bilinas", representações populares oriundas da
Idade Média.
Foi durante o reinado de Pedro o Grande
(1694 até sua morte, em 1725) que a Rússia passou a absorver os reflexos
literários do Ocidente. O primeiro jornal data de 1703 e o primeiro teatro de
1756.
A ode foi cultivada na segunda metade do
século XVIII, pelos poetas Bogdanovitch e Derchavine. O romantismo
literário se desenvolveu brilhantemente, preparado pelo escritor e historia-dor
Nikolai
Karamzin (1766-1826).
O criador da moderna literatura russa, de
linguagem clássica, foi Aleksandr Puchkin (1799-1837), que,
na poesia lírica, era um superdotado, inclusive com admirável capacidade para
criar obras-primas nos mais diversos gêneros. Escreveu inúmeros poemas, sendo
"Evgeni Oniegin" ("Eugênio Onegin"), 1831, o mais
importante. Mesmo escrito em versos, é o primeiro grande romance da literatura
de seu país.
Na Rússia, o soneto é cultivado desde os
tempos de Puchkin, mas alcançou seu ponto mais alto nos "Rymskye
soneti" ("Sonetos Romanos"), do simbolista Viatcheslav lnanov.
(Das
páginas 445 a 458 de “O Mundo Maravilhoso
do
Soneto”, de Vasco de Castro Lima)
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