Alemanha; Holanda (país dos bátavos); e Áustria, Polônia, Tchecoslováquia, Iugoslávia (Sérvia e Croácia) e Rússia (países eslavos)




ALEMANHA


Durante a Idade Média, os países europeus, não obstante a diversidade de raça, língua e política, não se constituíam povos isolados.

Os artesãos que trabalhavam, por exemplo, a pedra e a madeira, nas catedrais, transferiam-se de um país para outro, de acordo com as necessidades das obras a que se dedicavam. Quanto aos padres e eruditos, sentiam-se à vontade, em qualquer lugar, pela comunicação fácil através do latim.

Os artistas eram sustentados pelas classes superiores, que animavam as artes, e o povo acorria para ouvi-los. Assim, era muito comum a profissão de "jongleur", que traba!hava em troca de alimento e pousada.

Na Alemanha, e principalmente ao sul, ou seja, Baviera e Áustria, a poesia tinha o seu lugar de destaque. Ali, floria a arte do Minnesang (canto de amor), influenciada pelos "troubadours" provençais; e logo os Minnesingers alemães ganharam força e fama, embora cavaleiros de grau inferior, cantando, geralmente, o amor inacessível. Os Minnesingers foram os antecessores dos mestres cantores.

Nos séculos XII e XIII, os versos líricos brilharam intensamente. E, como conquista nacional, surgiu o "lied" germânico, característico daquele povo.

O maior Minnesinger foi, como já vimos, Walter von der Vogelweide.

Data do século XIII o "Niebelungenlied", o trabalho de maior realce da poesia medieval da Alemanha. Não parece ter sido obra de um só poeta, mas a compilação de vários deles. Trata-se, possivelmente, da reprodução de contos populares já conhecidos desde antes da literatura escrita. As óperas de Wagner se encarregaram de espalhá-los pelas áreas além das fronteiras alemãs.
Mas, a verdade é que, até a Reforma, os alemães pouco produziram no campo literário.

A língua autóctona, ou inicial, era o godo, ou gótico. Na Saxônia e na Áustria era falado o alto alemão, aquele que Lutero usou na sua tradução da "Bíblia", em 1541. Começou aí, de fato, a literatura alemã.

O soneto, segundo Mello Nóbrega, foi introduzido na Alemanha por Johann Fischart (1546-1590). No século XVII tornou-se popular, principalmente pela preferência que lhe deram Martin Opitz (1597-1639) e seus seguidores.

Opitz não é considerado um grande poeta, mas, historicamente, tem muita importância, pois foi o reformador da literatura alemã, disciplinando-a de acordo com os modelos italianos e holandeses. Deu início, aliás, à época barroca em seu país.


Paul Fleming (1609-1640) foi um dos poetas da Reforma, o movimento religioso e político instigado por Martinho Lutero. Escreveu cantos sagrados, hinos, odes, elegias, destacando-se, entre suas produções, um soneto intitulado "A si próprio", muito divulgado e apreciado na época. Mas, também, escreveu sonetos eróticos, intensamente pessoais, não obstante ser o mais sóbrio dos grandes poetas líricos do barroco alemão.


Andreas Gryphius (1616-1664) deixou belos sonetos, como o célebre "Tudo é ilusão", em que encarava o mundo e a transitoriedade da vida com uma resignação comovente. Gryphius foi a maior figura da literatura barroca na Alemanha. Conseguiu ser um lírico, apesar "da miséria geral de sua época". Muitos de seus sonetos, de rara perfeição formal, refletem a angústia religiosa e os horrores da guerra dos Trinta Anos. Publicou vários livros, um dos quais "Sonetos para domingos e dias de festas".

O soneto, na Alemanha, perdeu bastante, a partir daí, mas conseguiu reviver com os poetas Goitfried August Bürger (1704-1794) e August Wilhelm Schlegel (1767-1845), principalmente com este último, que o valorizou entre os românticos.


Goethe (Johann Wolfgang von Goethe) — (1749-1832) é apontado como o maior poeta da Alemanha e um dos vultos literários mais importantes da humanidade.

Joaquim Thomaz, em seu livro de crítica "Sóis eternos", diz que "o espírito de Goethe faz-nos lembrar a densa ramagem de um grande carvalho plantado no meio da montanha. Os seus cam-biantes são vários como a extensão da floresta e rebrilham ao sol como primores de jóias".

Goethe morreu aos 83 anos, desfrutando de todo o esplendor de sua glória, "ao terminar o retoque da obra de toda a sua vida, que foi o "Fausto".

"Poeta da graça feminina, para quem a alegria do amor reside até no próprio sofrimento" — registra o crítico.

São palavras, ainda, de Joaquim Thomaz: "... Mas a juventude do poeta tinha sede de amor. Amou Gretchem, amou Annette, amou Frederica, amou Lili. Entre elas talvez tenha sido Lili a preferida, se forem sinceros os poemas que lhe dirigiu".

Bilac, o maior dos nossos poetas, dirigindo-se ao maior dos poetas da Alemanha, fez, em soneto, uma comovente evocação a Goethe, a propósito de sua obra e relembrando o famoso poema épico "Hermann e Dorotéia" (1797):

"Quando te leio, as cenas animadas
por teu gênio, as paisagens que imaginas,
cheias de vida, avultam repentinas,
claramente aos meus olhos desdobradas...

Vejo o céu, vejo as serras coroadas
de gelo, e o sol, que o manto das neblinas
rompe, aquecendo as frígidas campinas
e iluminando os vales e as estradas.

Ouço o rumor soturno da charrua,
e os rouxinóis que, no carvalho erguido,
a voz modulam de ternuras cheia:

e vejo, à luz tristíssima da lua,
Hermann que cisma, pálido, embebido
no meigo olhar da loura Dorotéia".

(Olavo Bilac)


Também apresentamos a seguir, do próprio Goethe, este soneto "A donzela diz", numa tradução de Eugênio de Castro:

Amor, lembras-me, ao ver-te carrancudo,
o teu busto de pedra arrefecida:
como este, não me dás sinal de vida;
e mais do que ele estás fechado e mudo.

Oculta-se o inimigo atrás do escudo,
o amigo deve andar de fronte erguida.
Foges de mim, que após ti vou, dorida;
pára! Não anda o mármore sisudo.

Ah! para qual dos dois voltar-me devo?
A frieza dos dois hei de agüentar,
de ti que és vivo, e dele, sem alento?

Basta de queixas vãs! Em doce enlevo
tão longamente a pedra vou beijar,
que dela enfim me arrancarás ciumento!



August Wilhelm Schlegel (1767-1845), que era professor de literatura na Universidade de Iena, rompeu com Goethe e Schiller, repudiando, também, o classicismo. Com seu irmão Friedrich Schlegel (1772-1829), editou, nos anos de 1798 a 1800, a revista "Atheniium" ("Ateneu"), primeiro órgão do romantismo na Europa.

August ligou-se a Mme. de Staël, com a qual viveu, em Coppet, até a morte da escritora francesa.

Schlegel era um grande entusiasta do soneto, sendo mesmo o responsável pela "fúria sonetífera" da Alemanha de seu tempo.

Um dos mais citados dos sonetos de Schlegel é "Das Sonett", de caráter apologético. Mello Nóbrega escreveu dele a seguinte paráfrase:

Duas rimas procuro e, num quarteto,
as vou dispondo, em versos bem medidos:
e, em pares, uns por outros envolvidos.
a seguir as repito e as entremeto.

Novos elos de sons, por um terceto
e depois, em segundo, repartidos,
no mais terso dos poemas preferidos,
dão-me a medida e a forma do soneto.

E ele me fala: — "Aquele que não gosta
de mim, e julga falsas minhas leis,
dou o silêncio, apenas, em resposta.

Mas vós, que, em poucos versos, penetrastes
meu encanto secreto, alcançareis
a harmonia serena dos contrastes".



Karl Theodor Kürner (1791-1813) foi um intelectual bem dotado pela natureza, tendo publicado, em 1810, os primeiros versos. São admiráveis as poesias patrióticas, reunidas sob o título "Lira e Espada'', e inspiradas na luta pela libertação dos estados alemães contra as hostes napoleônicas. Aliás, combateu, também, como soldado, tendo morrido numa escaramuça entre duas patrulhas avançadas. Quando foi ferido pela primeira vez, julgou haver chegado o seu último instante. Então, escreveu o soneto "Adeus à Vida". que publicamos, numa tradução de José Gomes Monteiro:

Meus lábios tremem; punge o golpe ardente.
No lânguido bater do peito ansiado
sinto ao termo da vida ter chegado.
Teu era; a ti me entrego, ó Deus clemente!

Que visões que afagaram minha mente!
Mas ai! que o sonho em morte é dissipado.
Valor! O que em meu peito hei fiel guardado,
viverá lá comigo eternamente.

A idéia que adorei qual divindade,
que exaltava meu jovem ser fogoso,
ou lhe eu chamasse "amor" ou "liberdade";

ei-la ante mim, qual anjo luminoso;
e perdendo eu da vida a faculdade,
subirá com minha alma ao céu radioso.




Enumeramos, ainda, poetas alemães de grande porte:

Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), o maior homem de letras da ilustração germânica, em termos de teoria, crítica e dramaturgia. Destacou-se como crítico, ao reprimir o Classicismo francês, infligido à literatura alemã do século XVIII.


Johann Heinrich Voss (1751-1826), filólogo e poeta sentimental. Seus quadros idílicos, como "O septuagésimo aniversário" (1781) e "Luise" (1785), propiciaram a Goethe a idéia e a forma do famoso poema, também idílico, "Hermann e Dorotéia", publicado em 1797. Notabilizou-se, outrossim, pelas traduções, que fez, da "Odisséia" (1781) e da "Ilíada" (1793), ambas do poeta grego Homero.


Johann Heinrich Stilling (1740-1817), que exerceu influência sobre Goethe.

Friedrich Schiller (1759-1805), poeta, escritor e historiador. Goethe e ele são os mais ilustres escritores da Alemanha.

Clemens Brentano (1778-1842), poeta, contista e novelista, homem de fantasia bizarra e desordenada.

Archim von Arnim (1781-1831), poeta e romancista. Aristocrata prussiano, e autor de excelentes contos e novelas fantástico-grotescos.

Joseph von Eichendorf (1788-1857), considerado "o último cavaleiro da escola romântica". Autor da novela "A Estátua de Mármore".

Friedrich Hebbel (1813-1863), dramaturgo e poeta lírico.

Emanuel Geibel (1815-1884). Poeta lírico, seus versos são harmoniosos, como demonstrou em vários livros, entre os quais "Cantos Populares de Espanha".
Paul Heyse (1830-1914). Romancista, poeta lírico e épico, do-tado de grande fantasia e mestre de um estilo brilhante. Magnífico tradutor, sobretudo da lírica hispânica (1852), em colaboração com Emanuel Geibel.

Como era de se esperar, foi artificial o soneto no Romantismo alemão. Ainda assim, salvaram-se, além dos que pudemos obter, e de alguns outros, os "Venezianische Sonette", de Platen Hallermunde (1796-1835).

Igualmente, é de se ressaltar que, em línguas como essa e, em geral, nas eslavas, o soneto, em qualquer época, não era correntio, dadas as dificuldades encontradas pelos poetas, na própria natureza de seus idiomas.



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A respeito da introdução do soneto na Alemanha, existe a opinião de uma corrente conduzida por Albrecht Schaeffer e Fritz Strich. Segundo esses literatos, o soneto teria chegado às terras teutônicas através de Weckerlin e de Paulo Schede. Schede (1539-1602) foi um poeta conhecido pelo apelido de Melissus, e era cognominado o "Píndaro da Germânia".

Na Alemanha, ao Soneto se opuseram inimigos sistemáticos entre os quais Johann Heinrich Voss e Jens Immanuel Baggesen (1764-1826), um escritor dinamarquês que se radicou e morreu em Hamburgo.

Em compensação, "outros o cultivaram com tal devoção — lembra a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira — que o arvoraram quase em forma artística nacional". E, entre eles, estão citados: Riickest, Redwitz, von Arnim (1781-1831), Joseph von Eichendorf (1788-1857), Carlos Augusto de Platen (1796-1835), Emanuel Geibel (1815-1884), Paulo Luis Heyse (1830-1914).




HOLANDA (Países Baixos)
em holandês NEDERLAND)

País dos bátavos, bastante alheio à civilização romana, foi evangelizado no século VII, por Santo Willibrord (658-739), um dos apóstolos da Frisia (em holandês Friesland).

O mais antigo poeta desse país chamava-se Heinrich van Veldeke, de origem alemã (cerca de 1170). Seu papel foi importante, porque, não só contribuiu para popularizar, na Holanda e Alemanha, a literatura galante da França, como deu início ao classicismo alemão na Idade Média.

No fim do século XIII, Jacob van Maerlant (1225-1291) refletiu o espírito realista burguês e é considerado "pai da poesia holandesa".

No século XV, Elckerlyc (cerca de 1485) cultivou uma poesia erudita, com obras também de fundo dramático; enquanto a poesia religiosa teve o seu representante em Thomas a Kempis (cerca de 1420).

No século XVII, "século de ouro", aí, sim, o espírito renascentista, na Holanda, atingiu certa maturidade, ao se libertar do domínio espanhol. A arte nacional se fez presente com o espírito cômico de Gerbrand A. Bredero (1585-1618); o lirismo de Constantin Huygens e H. Dullaert; atingindo o seu ápice com a poesia de Pieter Cornelisz Hooft (1581-1647), de Joost Van den Vondel (1587-1679), este último, poeta cristão, e de Jakob Cats (1577-1660), poeta burguês de relativo sucesso.

Depois do classicismo de Willem Bilderdijk (1756-1831), o maior poeta holandês de sua época, apareceram escritores e poetas românticos, mas as suas vozes foram abafadas pela tradição realista de Nicolaas Beets (1814-1903), poeta e escritor, autor de um livro de contos, "Câmera obscura", publicado em 1839.

O movimento de 1880 logrou renovar a literatura e,  naturalmente, a poesia, na Holanda. Consumou-se, então, a vitória do simbolismo e "o soneto foi o veículo daquela renovação " , através dos sonetistas Jacques Pert, Willem Kloos (1859-1938) e Albert Verwey (1865-1937).

No século XX, Herman Gorter (1864-1927) surgiu com uma poesia de caráter social. Entre as duas grandes guerras, ganhou nome o poeta Hendrik Marsman (1899-1940).

Depois de 1945, Lucebert (Jacobus Swaanswijk), nascido em 1924, e Kourvenaar, surgiram como poetas experimentais da vanguarda holandesa.


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Na Holanda, o soneto fez mais admiradores que na Inglaterra. A "introdução do soneto" nos Países Baixos ocorreu no século XVII, com o grande poeta Pieter Cornelisz Hooft (1581-1647).

Aliás, todos os poetas desse século foram sonetistas, podendo-se dizer que, entre aqueles que mais se sobressaíram, estava o poeta religioso Heiman Dullaert.





ÁUSTRIA


Até o fim do século XVIII, a literatura austríaca, de língua alemã, confundia-se com a literatura germânica.

Entretanto, uma literatura especificamente austríaca acabou sendo criada com a progressão do estilo barroco e o favorecimento da Contra-Reforma. E a própria língua alemã ganhou com isso, pois os literatos da Áustria se constituíram em elementos bastante significativos.

A poesia de Nicolau Lenau (1802-1850) é romântica e byroniana.

Artur Schnitzler (1862-1931) foi realista um tanto sentimental, que abriu o caminho do simbolismo para Hugo von Hofmannsthal (1874-1929), e do pós simbolismo para Trakl e Rilke.

Georg Trakl Salzburg (1887-1914), influenciado por Baudelaire e Rimbaud, publicou, em vida, poemas esparsos. Após a morte, saiu, em 1919, o seu livro "Gedichte" ("Poesias").

Rainer Maria Rilke (1875-1926) apresentou, até 1902, suas primeiras poesias sentimentais, sem grande repercussão. Famosas são suas "Cartas a um jovem poeta" ("Briefe an einen jungen Dichter"), "espécie de teoria existencial da arte poética". É produção em prosa, ainda de cunho simbolista. Corno pós-simbolista, escreveu "Novos poemas" ("Néue Gedichte"), em 1907/1908, que muitos consideram sua criação mais perfeita. Em geral, porém, a preferência mundial se inclina para as suas últimas obras, "de poesia filosófica influenciada por Nietzsche: "Elegias de Duino" ("Duineser Elegien", 1922), e "Sonetos a Orfeu" ("Sonette an Orpheus", 1923). Os alemães o classificam como "o maior poeta do século XX" (Delta Larousse).

 Neste século XX, já os austríacos se distinguiam por sua literatura eminentemente nacional, com Heimito von Docleret (1896-1966) e Roberto Musil (1880-1942), apelidado de "Proust austríaco".

E a literatura contemporânea austríaca está, inclusive, muito enriquecida com outros escritores, entre quais Franz Kafka (1883-1924), naturalizado tcheco em 1918, romancista e contista, que viveu obscuramente e que só vinte anos após a sua morte passou a ser, não apenas conhecido, mas considerado um valor literário de inédito prestígio mundial; e Stefan Zweig (1881-1942), novelista opulento .("Amok"), vitorioso nos mais diversos gêneros, ensaísta e autor de notáveis estudos históricos. Em vida, a última obra publicada de Zweig foi "Brasil, país do futuro" (1942). Suicidou-se em companhia da mulher, aqui no Brasil, em Petrópolis, deixando vários livros inéditos.




POLÔNIA


O criador da literatura polonesa foi o escritor calvinista Mikolaj Rei (1505-1559). Escreveu "Espelho da vida do homem honesto"; "O mercador"; "Vida de José".

Logo após, a poesia lírica já contava com um nome de real valor, o maior poeta da antiga Polônia, Jan Kochanowski (1530-1584), que deu início à "idade de ouro" do país. "Treny" ("Lamentos"), sua obra-prima, é uma reunião de elegias a respeito de sua filha Úrsula.

A vida intelectual sofreu um retrocesso com as invasões estrangeiras e perturbações políticas, mas no fim do século XVIII (1760) deu-se início a um período de renovação.

O classicismo teve seus momentos de êxito, porém o romantismo acabou por triunfar. Um dos seus ideais era a luta pela libertação nacional.

Adam Mickiewicz (1798-1855) surgiu como o maior poeta e profeta da Polônia; e a literatura romântica atingiu suas culminâncias, com Slowacki, Krasinski e Norwid.

Juliusz Slowacki (1809-1849), lírico de alta categoria, mestre da língua e do verso. Místico religioso e, ao mesmo tempo,  revolucionário. Autor de muitos livros importantes, entre os quais "Poezye" (1833). Zigmunt Krasinski (1812-1859) passou toda sua vida na França e na Itália, sonhando com a libertação da pátria. Esse, o tema de seu grande poema dramático "Nieboska-komédia", 1835 ("A comédia não-divina). Também escreveu o volume de poesias "Psalmy przyslosci" ("Salmos do futuro"), em 1845. Cvprian Kamil Norwid (1821-1883), que passou toda a vida no exílio, foi o último poeta romântico da Polônia.

Em 1822, Adam iniciou, no seu país, a era do Romantismo. Entre outros livros, escreveu, em 1826, os "Sonetos da Criméia" ("Sonety Krymskie"), que não tem caráter político.
"O Senhor Tadeu" ("Pan Thaddäus"), epopéia rústica e cavaleiresca, em doze cantos, é a sua obra-prima (1834). É, mesmo, a epopéia nacional dos poloneses.


Obrigado a expatriar-se, viveu em Paris, onde exerceu a função de Professor de Literatura Eslava, no Colégio da França. Morreu de cólera, em Constantinopla, quando, ali, de passagem, cumpria uma missão de que tinha sido incumbido por Napoleão III (Imperador dos franceses, no período de 1852 a 1870).

Aqui está um de seus sonetos:

Adam Mickiewicz (1798-1855)
(Trad. de Guimarães Passos)

Buscas o meu olhar, ó pomba de inocência! 
Simplicidade! Teme a chama que fulgura
nos olhos da serpente, e antes que a sua escura
 influência te absorva, escapa-lhe à influência.

Ser sincero somente — eis a minha ventura.
Pode inda o teu fulgor aclarar-me a demência,
mas quero a solidão, e à tão negra existência
por que queres mesclar a tua alma tão pura?

Ame embora o prazer, não quero a tua morte;
o fogo das paixões consumiu-se, criança,
e eu não quero trocar a tua feliz sorte.

Perdeu-se o meu lugar no passado sombrio...
Hera viçosa, abraça o tronco da esperança
que, eu, musgo, abraçarei um túmulo vazio.



Das línguas eslavas, a polonesa é a menos eslava. Tem muita relação com o Ocidente, sendo repleta de vocábulos "furtados" à língua alemã e, também, à latina. Mesmo assim, sua identificação com a literatura alemã achava-se tão distante, que Schiller, por exemplo, só era conhecido por intermédio das traduções para o francês.
Desde o século XVI, não sofreu modificações, mas, nem por isso, deixa de ser rica em formas.

Em 1772, 1793 e 1795, os territórios da Polônia sofreram divisões, em benefício da Rússia, Áustria e Alemanha (Prússia).
O caráter nacional polonês procurou resistir às tentativas de russificação e germanização do país. Houve a primeira revolta, quando "os seus jovens — nos diz Klabund — com a sua "Ode à mocidade" nos lábios, na noite de 29 de novembro de 1830, atacaram o palácio do grão-príncipe russo residente em Varsóvia".

Fracassou esse esforço. Adam Mickiewicz deu, na peleja inglória, o seu quinhão, "como poeta e como combatente". E, por isso, jamais foi esquecido. É, na Polônia, considerado o maior poeta de todos os tempos, e também o patriota mais ardoroso.
Em 1863, não obstante o seu heroísmo, os poloneses, em nova insurreição, tiveram destino igual.

Outras reações, de menor vulto, ocorreram, mas, afinal, em 1918, recuperaram sua independência.

Até então, seus grandes literatos eram emigrantes. Daí, os poetas, os escritores e artistas em geral passaram a dialogar com os de outros países, acompanhando, inclusive, os movimentos artísticos em voga nas demais partes do mundo, principalmente na Europa.

Os primeiros poetas, entre eles J. Lechon, Julian Tuwin (1894-1953) e Antoni Slonimski (n. 1895), se reuniram em torno da revista "Skamander". Tuwin é o maior poeta moderno da literatura polonesa. Refugiado, durante a segunda guerra mundial, nos Estados Unidos, lá escreveu, em 1948, o poema lírico-épico "Kwiati Polskie", muito divulgado. Slonimski, entre outros livros, escreveu "Sonety" (Sonetos), em 1918.

E, depois de 1956, os nomes de poetas poloneses, de que temos notícia, são os de S. Grochowiak, M. Bialoszewski e Z. Herbert.




TCHECOSLOVAQUIA

A Tchecoslováquia não teve independência nacional, durante séculos.

A língua tcheca era falada apenas em um pequeno domínio e, por isso, a sua literatura, embora de superior qualidade, não se expandia, não alcançava outros povos. Em conseqüência, o sentimento nacionalista cresceu de tal forma que chegou ao ponto de, "ad majorem patriae gloriam", segundo Klabund, "falsificar uma antiga literatura nacional tcheca, a Libussa, que glorificou as lutas dos tchecos contra os alemães e os poloneses".
Seriam manuscritos de Koeniginhof e de Gruenberg, e teriam sido encontrados, por Vaclav Hanka  (1791-1861), em 1817, na abóbada de uma igreja. Entre os descobridores da falsificação estava o próprio Presidente da República da Tchecoslováquia, escritor, político, sociólogo e estadista, Tomás Garrigue Masaryk (1850-1937).

Jan Hus (1369-1415) foi quem primeiro reformou a língua tcheca, enriquecendo-a de germanismos e latinismos.

A partir de 1620 (batalha no Monte Branco), houve um período de letargia.
Veio, porém, a acontecer um fato que, mais uma vez, despertou o sentimento do povo sofrido. José II, imperador germânico (de 1765 a 1790), na tentativa de unificar a monarquia, à qual estava jungida aquela parte da Tchecoslováquia, cometeu uma série de opressões, inclusive decretando o alemão como língua oficial.
Com esse ato despótico, ficou proibido o uso da língua tcheca, até nas escolas. E a reação dos tchecos, como também de outros Estados da comunidade alemã, não se fez esperar. O primeiro fruto dessa revolta foi a epopéia "Slávy dcera" ("A filha de Slava"), composta "em sonetos" por Jan Kollár (1793-1852).

"Esse grande ciclo de sonetos — esclarece a Delta Larousse — editado em 1824 e aumentado em cada nova edição até 1852, é a glorificação poética do passado eslavo e a base teórica do nacionalismo pan-eslavo, que (diferente do pan-eslavismo posterior) afirma a identidade (sobretudo cultural) de todas as nações eslavas".

Klabund, a respeito, acrescenta: "O modelo da "Filha de eslava" foi uma filha dum pároco da Turíngia, Mina Schmidt, que Kollár conhecera e amara quando estudava em Iena. A apoteose do eslavismo recaiu sobre uma jovem alemã".

Aliás, com essa obra de Jan Kollár, o soneto foi introduzido na Tchecoslováquia.

O romantismo produziu um grande poeta, Karel Hynelc Macha (1810-1836). Petr Bezruc (1867-1958) criou nova poesia popular. Otokar Brezina (1868-1929) e Antonio Sova introduziram o sim-bolismo. O surrealismo contou com a poesia de Vitezslav Nezval (1900-1958). E, após a segunda guerra mundial, destacaram-se os poetas Jiri Orten (1919-1941) e Frantisek Halas (1901-1949).




IUGOSLÁVIA

Pelo menos em termos de literatura, o que existe, de mais importante, na Iugoslávia, é aquilo que nos mostram estas duas repúblicas da Federação Iugoslava: Sérvia e Croácia.

Face a tradições históricas e religiosas, são diferentes as literaturas adotadas por sérvios e croatas. No passado, os croatas viveram sob o domínio húngaro e a religião era a católica; e os sérvios sob o domínio turco e a religião ortodoxa.
Não obstante, existem, entre elas, identidade lingüística e analogia literária. Assim sendo, não se pode falar senão em literatura sérvio-croata.

As poesias populares, comparadas às mais ricas da Europa, formam a base dessa literatura. Datam do século XIV e, até serem escritas no começo do século XIX, conservaram-se oralmente no alaúde sérvio (a "guzla").
Primeiramente, foram publicadas, em 1814, por Alberto Fortis (n. em 1744). Logo depois, em 1815, estimulado pelo poeta alemão Jakob Grimm, o escritor sérvio Vuk Stefanovic Karadzic (1787-1864) publicou-as, mais completas, em três volumes.
Imediatamente vertidas para várias línguas, alcançaram prestígio notável dentro do romantismo alemão e francês, chegando Goethe a traduzir algumas delas.

O primeiro centro de uma literatura sérvio-croata surgiu nos séculos XVI até o XVIII, na independente república de Ragusa (hoje Dubrovnic). Esse evento se verificou sob vigorosa influência italiana, principalmente através de um "poeta petrarquista", Mencetic.

Entre os poetas românticos, o mais representativo é Branko Radicevic (1824-1853), que lançou o livro "Pesme" ("Poesias"), em 1847. O parnasianismo foi levado pelo poeta Vojislav Iljic e o simbolismo por Jovan Ducic.

Este poeta sérvio, Jovan Ducic (1871-1943), talvez o maior artista do verso em sérvio-croata, é autor de dois magistrais volumes de sonetos: "Jadranski soneti" ("Sonetos adriáticos") e "Carski soneti" ("Sonetos imperiais").




RÚSSIA

As primeiras obras de literatura russa foram escritas em eslavo eclesiástico, sob profunda influência dos escritores bizantinos.

Em língua vulgar, a tradição oral retém, carinhosamente, as "bilinas", representações populares oriundas da Idade Média.

Foi durante o reinado de Pedro o Grande (1694 até sua morte, em 1725) que a Rússia passou a absorver os reflexos literários do Ocidente. O primeiro jornal data de 1703 e o primeiro teatro de 1756.

A ode foi cultivada na segunda metade do século XVIII, pelos poetas Bogdanovitch e Derchavine. O romantismo literário se desenvolveu brilhantemente, preparado pelo escritor e historia-dor Nikolai Karamzin (1766-1826).

O criador da moderna literatura russa, de linguagem clássica, foi Aleksandr Puchkin (1799-1837), que, na poesia lírica, era um superdotado, inclusive com admirável capacidade para criar obras-primas nos mais diversos gêneros. Escreveu inúmeros poemas, sendo "Evgeni Oniegin" ("Eugênio Onegin"), 1831, o mais importante. Mesmo escrito em versos, é o primeiro grande romance da literatura de seu país.

Na Rússia, o soneto é cultivado desde os tempos de Puchkin, mas alcançou seu ponto mais alto nos "Rymskye soneti" ("Sonetos Romanos"), do simbolista Viatcheslav lnanov.







(Das páginas 445 a 458 de “O Mundo Maravilhoso
do Soneto”, de Vasco de Castro Lima)

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