Avaré, SP (1937-2018)
A
CASA ONDE MOREI
Sá
de Freitas
(1º colocado no 8º Festival
de Sonetos da Academia Jacarehiense
de Letras, SP, ano de 2014)
Casa
vazia, cheiro de lembrança...
Abri
a porta e ela rangeu saudade,
Então
supus que, apesar da idade,
Me tornaria aos tempos de criança.
Tola
suposição, pois a mudança
Que
o tempo faz transforma a realidade
Em
névoa apenas, que avança e invade
A
nossa mente onde a ilusão medrança.
Antes
voltado lá eu não tivesse,
Para
sentir o nada que foi tudo,
Num
tempo bom que a gente não esquece.
A
saudade, ao sair, lá deixei presa,
Para
não sofrer tanto, mas, contudo,
Fechei
a porta... Ela rangeu tristeza.
NOS
BRAÇOS DA SAUDADE
Sá
de Freitas
Olhando pelas frestas dos meus dias,
Que já se foram pela vida afora,
Apenas vejo a luz daquela aurora
Da juventude, em sobras fugidias.
E agora a enfrentar as noites frias,
Neste vazio em que minha alma chora,
Busco os momentos que já foram embora,
Mergulhando a memória em fantasias.
Ah! Tempo que se foi! Por que deixaste
Essas recordações, por que guardaste
Tantas coisas da minha mocidade?
Resta-me agora, após lindas andanças,
Adormecer no leito das lembranças
E acordar nos braços da saudade.
Olhando pelas frestas dos meus dias,
Que já se foram pela vida afora,
Apenas vejo a luz daquela aurora
Da juventude, em sobras fugidias.
E agora a enfrentar as noites frias,
Neste vazio em que minha alma chora,
Busco os momentos que já foram embora,
Mergulhando a memória em fantasias.
Ah! Tempo que se foi! Por que deixaste
Essas recordações, por que guardaste
Tantas coisas da minha mocidade?
Resta-me agora, após lindas andanças,
Adormecer no leito das lembranças
E acordar nos braços da saudade.
ETERNO
APRENDIZADO
Sá de Freitas
Escrevo os versos meus, de alma liberta...
Liberta como é livre o vento errante,
Pois minha mente ansiosa, a cada instante,
Deseja a paz que só o amor desperta.
Ando na Terra e vago no Infinito;
Ganho distâncias nos confins da vida,
Curo, em meu coração, qualquer ferida
Com o perdão... e o ódio, em mim, evito.
Esqueço as dores que por mim passaram,
Mas fico com as lições que elas deixaram,
Porque o sofrimento é um grande mestre.
Pois novamente para cá viemos,
Para aprender o que não aprendemos,
Em outras vidas, neste Lar terrestre.
Sá de Freitas
Escrevo os versos meus, de alma liberta...
Liberta como é livre o vento errante,
Pois minha mente ansiosa, a cada instante,
Deseja a paz que só o amor desperta.
Ando na Terra e vago no Infinito;
Ganho distâncias nos confins da vida,
Curo, em meu coração, qualquer ferida
Com o perdão... e o ódio, em mim, evito.
Esqueço as dores que por mim passaram,
Mas fico com as lições que elas deixaram,
Porque o sofrimento é um grande mestre.
Pois novamente para cá viemos,
Para aprender o que não aprendemos,
Em outras vidas, neste Lar terrestre.
CÁLIDA
MANHÃ
Sá de Freitas
Oh! Cálida manhã que vem surgindo,
Filha do sol que chega deslumbrante,
E forte, portentoso, assaz brilhante,
Traz luz... E o meu Rincão fica mais lindo.
Na mata a passarada pressentindo
Um dia alegre, canta altissonante...
Então minha mente foge... Vai distante,
Para, nos versos, ir submergindo...
Mas qual Ninfa que a lenda fez perfeita,
Você acorda e, para mim, se enfeita,
Vem onde estou e aquece os lábios meus.
E aí, embora apenas presumindo,
Sinto que a luz do sol vai se extinguindo,
Ante o brilho do amor nos olhos seus.
Sá de Freitas
Oh! Cálida manhã que vem surgindo,
Filha do sol que chega deslumbrante,
E forte, portentoso, assaz brilhante,
Traz luz... E o meu Rincão fica mais lindo.
Na mata a passarada pressentindo
Um dia alegre, canta altissonante...
Então minha mente foge... Vai distante,
Para, nos versos, ir submergindo...
Mas qual Ninfa que a lenda fez perfeita,
Você acorda e, para mim, se enfeita,
Vem onde estou e aquece os lábios meus.
E aí, embora apenas presumindo,
Sinto que a luz do sol vai se extinguindo,
Ante o brilho do amor nos olhos seus.
SEM
ELA
Sá
de Freitas
À minha esposa no Dia dos Namorados
Quando
o amor se vai, muda-se a vida...
Mesmo
que o corpo viva, a alma é morta,
O
ser vegeta e nada mais lhe importa,
Será
qual ave ao vento, sucumbida.
Sem
ele a esperança está perdida;
Sem
esperança o ser nada suporta,
E
à frente não encontra uma só porta,
Que
possa lhe indicar qualquer saída.
Por
isso eu amo com intensidade
Aquela
que Deus pôs em meu caminho,
Desde
o sorrir da minha mocidade.
Sem
ela a vida não terá sentido,
Sem
ela viverei sempre sozinho,
Sem
ela apenas vagarei perdido.
O
QUADRO NA PAREDE
Sá
de Freitas
O
silêncio é angustiante, a noite é fria...
Está meu coração magoado e triste,
Que nem mais sei se nele ainda existe,
Algo que possa me inspirar poesia.
Não há ninguém... A casa está vazia!
Somente a solidão ali persiste...
Nem mesmo a linda música transmite,
À minh'alma, uma nota de alegria.
Levanto-me... De um vinho necessito...
Mas de repente, na parede, fito,
No velho quadro um rosto iluminado,
Que parece dizer-me bem baixinho:
“Não sofra tanto! Não está sozinho,
Pois, sou Jesus e estou sempre ao seu lado.”
Está meu coração magoado e triste,
Que nem mais sei se nele ainda existe,
Algo que possa me inspirar poesia.
Não há ninguém... A casa está vazia!
Somente a solidão ali persiste...
Nem mesmo a linda música transmite,
À minh'alma, uma nota de alegria.
Levanto-me... De um vinho necessito...
Mas de repente, na parede, fito,
No velho quadro um rosto iluminado,
Que parece dizer-me bem baixinho:
“Não sofra tanto! Não está sozinho,
Pois, sou Jesus e estou sempre ao seu lado.”
VELHO ROSTO
Sá de Freitas
Nas fundas marcas de um cansado rosto
Que o tempo fez, existem mil histórias,
De ganhos, riscos, perdas e vitórias,
De risos, prantos, sonhos e desgosto.
E há também um brilho bem exposto,
De outras lutas que não foram inglórias,
De paixões e tristezas transitórias,
De saudade de um tempo decomposto.
E se tais marcas (queira Deus) ganhares,
Será uma glória que há de conquistares,
Se nas faces trouxeres bem impressos:
O emblema do amor; e os fortes traços
Da coragem, diante dos fracassos;
Da humildade, diante dos sucessos.
Sá de Freitas
Nas fundas marcas de um cansado rosto
Que o tempo fez, existem mil histórias,
De ganhos, riscos, perdas e vitórias,
De risos, prantos, sonhos e desgosto.
E há também um brilho bem exposto,
De outras lutas que não foram inglórias,
De paixões e tristezas transitórias,
De saudade de um tempo decomposto.
E se tais marcas (queira Deus) ganhares,
Será uma glória que há de conquistares,
Se nas faces trouxeres bem impressos:
O emblema do amor; e os fortes traços
Da coragem, diante dos fracassos;
Da humildade, diante dos sucessos.
(Do seu Ebook LUZES
DE ESPERANÇA)
O
PÁSSARO E O POETA
Sá
de Freitas
Se pudesse eu voar com os passarinhos,
Da inspiração, em busca, eu sairia,
Para compor a mais linda poesia,
E ganhar, de você, doces carinhos.
Rente à janela sua eu cantaria
Tão logo amanhecesse, pra saudá-la;
Até que então pudesse eu conquistá-la,
Tal qual sempre a conquisto, em fantasia.
Vem, passarinho, e conta-me o segredo,
Do teu encanto, quando cantas ledo,
Saudando o dia quando o sol desperta.
Pois no seu canto eu sei que bem existe,
A deslumbrância a que ninguém resiste,
Nunca alcançado por nenhum poeta.
Se pudesse eu voar com os passarinhos,
Da inspiração, em busca, eu sairia,
Para compor a mais linda poesia,
E ganhar, de você, doces carinhos.
Rente à janela sua eu cantaria
Tão logo amanhecesse, pra saudá-la;
Até que então pudesse eu conquistá-la,
Tal qual sempre a conquisto, em fantasia.
Vem, passarinho, e conta-me o segredo,
Do teu encanto, quando cantas ledo,
Saudando o dia quando o sol desperta.
Pois no seu canto eu sei que bem existe,
A deslumbrância a que ninguém resiste,
Nunca alcançado por nenhum poeta.
SOMENTE
O AMOR
Sá
de Freitas
O próprio mundo até, queda-se mudo...
Não há mais nada o que dizer da vida...
Toda a filosofia é vã... perdida,
Se não falar de amor que, em si, diz tudo.
Não adianta escrever frase elevada,
Falar de sonhos, paz, felicidade...
Se não falar de amor, nada é verdade,
E sem verdade o tudo é um simples nada.
O próprio amor por si, já impõe respeito...
Sem ele nada é bom, nada é perfeito...
Nada se diz do que se quer dizer.
Porque no amor há sempre um bem oculto,
E a gente, sem amar, é apenas vulto,
Que passa pela Terra sem viver.
O próprio mundo até, queda-se mudo...
Não há mais nada o que dizer da vida...
Toda a filosofia é vã... perdida,
Se não falar de amor que, em si, diz tudo.
Não adianta escrever frase elevada,
Falar de sonhos, paz, felicidade...
Se não falar de amor, nada é verdade,
E sem verdade o tudo é um simples nada.
O próprio amor por si, já impõe respeito...
Sem ele nada é bom, nada é perfeito...
Nada se diz do que se quer dizer.
Porque no amor há sempre um bem oculto,
E a gente, sem amar, é apenas vulto,
Que passa pela Terra sem viver.
DORES
E ENCANTOS DO POETA
Sá
de Freitas
O poeta é um ser que ri e chora,
Como todos os seres deste mundo...
Mas quando sente um padecer profundo,
Escreve versos pela vida afora.
Se sente dor, sofre essa dor sorrindo;
Se sente encantos, logo se embevece;
É capaz de sofrer com quem padece;
É capaz de fazer tudo ser lindo.
Mas sempre tem uma dor, tem um encanto,
Dos quais não pode nunca se livrar,
Porque um traz-lhe a paz e o outro, o pranto.
Esse encanto maior que tem um bardo:
É quando sente-se amado para amar,
E a dor, é ver-se amando e não amado.
O
TEMPO
I
I
Sá
de Freitas
Vão-se minutos, horas... fogem dias;
Findam-se meses... mais um ano passa;
Acaba a infância... morrem fantasias,
E a realidade chega e nos enlaça.
Ficam bem longe as fúteis alegrias;
Da ilusão — o espelho — a dor embaça;
Debandam-se, por fim, as energias
E a juventude esvai-se qual fumaça.
Vem a velhice e o tempo, sem piedade,
Nos faz no rosto marcas... e as lembranças,
Nos põem no olhar o brilho da saudade.
E se ao léu cruel da própria sorte,
Deixarmos fenecerem as esperanças:
Vamos morrer, antes que chegue a morte.
Tens sempre medo e sentes o tormento
Medo tolo! Se tenho só o ensejo,
Pelo medo, no tempo nós perdemos
Vem! Os momentos morrem, nós morremos,
Vão-se minutos, horas... fogem dias;
Findam-se meses... mais um ano passa;
Acaba a infância... morrem fantasias,
E a realidade chega e nos enlaça.
Ficam bem longe as fúteis alegrias;
Da ilusão — o espelho — a dor embaça;
Debandam-se, por fim, as energias
E a juventude esvai-se qual fumaça.
Vem a velhice e o tempo, sem piedade,
Nos faz no rosto marcas... e as lembranças,
Nos põem no olhar o brilho da saudade.
E se ao léu cruel da própria sorte,
Deixarmos fenecerem as esperanças:
Vamos morrer, antes que chegue a morte.
ALGO
Sá
de Freitas
Algo forte
a vibrar bem mais que a própria vida,
Cá
no meu coração há muito já palpita...
É
algo - assim de forma tão bem definida -
Que
se agiganta, eu sinto, e tão febril se agita.
Não pude,
como devo, descrever ainda,
Este
algo em meu ser, que vive submerso
Qual
jóia preciosa, requintada e linda,
Rica
demais pra expor-se num singelo verso.
É algo
impetuoso, indômito, incontido,
Que
me mantém feliz, deixa-me embevecido,
Num mundo
que somente a minha alma vê.
É
algo que extrapola o meu entendimento,
Porque
Infinitamente é grande o sentimento,
Que
existe nesse amor, que sinto por você.
O TEMPO
II
Sá de Freitas
(Soneto escrito com apenas duas vogais: "e" e "o”)
Tens sempre medo e sentes o tormento
Bem de perto, com medo de perderes
O sossego... E sem mesmo perceberes,
Foges-me sempre, como foge o vento.
Medo tolo! Se tenho só o ensejo,
De percorrer-te o corpo portentoso,
Com encostos leves de extremo gozo,
Vencendo-te de vez, pelo desejo.
Pelo medo, no tempo nós perdemos
O bom do tempo... E logo sofreremos
No tempo, do desgosto o desconforto.
Vem! Os momentos morrem, nós morremos,
E se perdermos tempo nem teremos,
Tempo de recompor o tempo morto.
SE...
Sá
de Freitas
Se... Eu já não quiser dar nem um passo,
Para chegar em algum lugar que almejo;
Se... Eu não mais sequer erguer um braço,
Para alcançar aquilo que desejo;
Se... Eu cair — e todos caem, um dia, —
Se... Eu já não quiser dar nem um passo,
Para chegar em algum lugar que almejo;
Se... Eu não mais sequer erguer um braço,
Para alcançar aquilo que desejo;
Se... Eu cair — e todos caem, um dia, —
E
caído eu ficar... Perdido em pranto;
Se... Já não mais quiser compor poesia,
Por sentir minha vida sem encanto;
Se... Por fim eu me der por derrotado;
Sentir-me inútil, fraco e desolado;
Incapaz de sorrir, viver e amar:
Aí sim, sou um ser depauperando,
Com a alma — sem corpo — vegetando;
Com um corpo — sem alma — a vegetar.
Se... Já não mais quiser compor poesia,
Por sentir minha vida sem encanto;
Se... Por fim eu me der por derrotado;
Sentir-me inútil, fraco e desolado;
Incapaz de sorrir, viver e amar:
Aí sim, sou um ser depauperando,
Com a alma — sem corpo — vegetando;
Com um corpo — sem alma — a vegetar.
MINHA
DOR
Sá
de Freitas
O que me faz ficar, às vezes, triste,
E mesmo até com a alma dolorida,
Não é a dor corpórea ou a dor que existe,
Nos dias que compõem a minha vida.
Não é tão-pouco a dor de um amor perdido,
Nem é a dor da ofensa ou da intriga,
E nem da mágoa atroz — quando esquecido —
Já não sinto o calor de u'alma amiga.
O que me faz ficar acabrunhado;
O que me deixa até desconsolado,
E chega a conduzir-me ao desalento:
É ver alguém sem fé, sem esperança;
É ver o idoso, é ver uma criança,
Esquecidos em meio ao sofrimento.
O que me faz ficar, às vezes, triste,
E mesmo até com a alma dolorida,
Não é a dor corpórea ou a dor que existe,
Nos dias que compõem a minha vida.
Não é tão-pouco a dor de um amor perdido,
Nem é a dor da ofensa ou da intriga,
E nem da mágoa atroz — quando esquecido —
Já não sinto o calor de u'alma amiga.
O que me faz ficar acabrunhado;
O que me deixa até desconsolado,
E chega a conduzir-me ao desalento:
É ver alguém sem fé, sem esperança;
É ver o idoso, é ver uma criança,
Esquecidos em meio ao sofrimento.
AOS
QUE NÃO FAZEM SONETOS
Sá
de Freitas
A
quem seus versos faz com sentimento,
Sem se importar com métrica, com rima,
A
demonstrar que a alma está acima,
De
qualquer regra, estilo ou acabamento;
A
quem põe no papel seu pensamento,
E
com doçura a nossa alma anima,
A
nos mostrar que fez uma obra prima.
Sem
se curvar ante o regulamento:
Digo:
"Segue na tua liberdade,
Porque
és um poeta de verdade,
Mesmo
que nunca foste academista".
Pois
seguir todas regras não é tudo,
Se
a alma é fria e o coração é mudo...
E
quem isso te diz é sonetista.
(02-09-1937 / 31-12-2017)
BELEZAS
QUE O DIA NOS TRAZ
Sá
de Freitas
Quando
o brilho do sol nos traz o dia,
E o céu se cobre de azulado manto,
Vibra-se a Terra em ondas de harmonia,
E há vida e movimento em cada canto.
Em tudo há cores, sons e alegria!
Da Natureza inteira surge o encanto,
Que Deus compôs, qual divinal poesia,
Ao nosso coração que sofre tanto.
Mas quem se entrega à dor de alma vencida,
Não poderá sentir tanta grandeza,
Que flui ao derredor da própria vida.
É pena... pois quem vive entristecido,
Sem ver, no mundo, as cores da beleza,
Por certo há de morrer, sem ter vivido.
MULHER, ESSA É A FORÇA DO AMOR
Ás rosas olharei - quantos Abrolhos!-
Então me envolverás num olhar de Santa,
"Vamos! Responde! Pois te perguntei
Deus fez o mundo e ainda não contente,
Achou por bem criar algo divino,
Tinha que ser a criação mais pura
Então copiou de um Anjo — a formosura;
Menino ainda eu me lancei à luta
Não me envergonho não... Porque agora
Do carrinho-de-mão sinto saudade,
Que sem mover os pés ninguém caminha;
MEU RECANTO
Quem vê a velha casa não imagina
É bom lembrar a juventude ida,
Nela demos início à nossa lida
Mas lastimar o "agora" não devemos,
Cada dia que surge é uma esperança;
Quando alguém macular sua conduta,
Mergulhe no seu "eu" e o examine...
Dê um basta à qualquer maledicência,
AO SOM DA LIRA
A idade avançada é bênção... e a vida,
Mas mesmo assim, que o jovem tenha em mente,
Porque o tempo, para todos, passa...
E aí então, na faixa dos idosos,
TER VIVIDO SEM VIVER
Marcas que o tempo deixa-lhe no rosto,
A dor maior não vem de uma saudade,
A dor maior não nasce da ansiedade
A dor maior não surge de uma ofensa,
A dor maior é algo bem mais forte
E o céu se cobre de azulado manto,
Vibra-se a Terra em ondas de harmonia,
E há vida e movimento em cada canto.
Em tudo há cores, sons e alegria!
Da Natureza inteira surge o encanto,
Que Deus compôs, qual divinal poesia,
Ao nosso coração que sofre tanto.
Mas quem se entrega à dor de alma vencida,
Não poderá sentir tanta grandeza,
Que flui ao derredor da própria vida.
É pena... pois quem vive entristecido,
Sem ver, no mundo, as cores da beleza,
Por certo há de morrer, sem ter vivido.
MEU
HINO À MULHER
Sá
de Freitas
Toda
mulher merece ser querida,
Ninguém
deve causar-lhe o amargo pranto,
Porque
sem ela não haveria vida;
Se
vida houvesse não haveria encanto.
Mulher
é luz no caminhar do homem,
Que
o guia sempre para onde for
E
ameniza as dores que consomem,
Seu
pobre coração ávido de amor.
Toda
mulher merece ser amada,
Cercada
de atenção e de ternura
E
acima de tudo, respeitada.
Porque
sem a mulher o homem então,
Seria
condenado à desventura,
De
vivo estar... Morrendo em solidão.
UM ANJO NOS MEUS BRAÇOS
Sá
de Freitas
Invade
o nosso quarto o clarão brando
Do
plácido luar... E a janela
Que
semiaberta está, também revela
Milhares
de estrelas nos fitando.
E
ali felizes vamo-nos amando,
Ouvindo
ao longe os sinos da capela,
Que
fazem a noite se tornar mais bela,
Enquanto
eu vou feliz te acariciando.
O
tempo vai fugindo e nem sentimos
Lá
fora o mundo, pois somente ouvimos
O
nosso respirar já sem compassos.
E
aí a imensidão do céu abranjo,
Pois
penso não ser gente e sim um anjo,
Por
ter um anjo entregue nos meus braços.
MULHER, ESSA É A FORÇA DO AMOR
Sá
de Freitas
Amando
eu reencontrei uma ilusão perdida,
Que
um dia abandonou minh'alma de poeta;
Amando
eu consegui dar brilho à própria vida,
Que
havia se tornado tão escura e inquieta.
Amando
eu construí um mundo diferente,
Onde
a existência faz-se alegre e palpitante...
Senti
o coração partido em dois... E a mente
Povoada
de sonhos que vem de distante.
Amando
eu consegui o muito em minha estrada
E
mesmo que esse muito fosse um quase nada,
Desfez
da minha vida aquele mundo triste.
E
nos meus versos hoje a paz e o amor decanto,
Pois
vejo em minha frente só beleza e encanto,
Porque
tudo é possível onde o amor existe.
HEI DE ENCONTRAR
Sá
de Freitas
Hei
de encontrar ainda em meu caminho,
O
amor que busco desde a mocidade,
Mesmo
que seja no findar da tarde,
Que
pressinto chegar-me de mansinho.
Não
falo do gostoso "amor carinho",
Que
traz ao nosso corpo a saciedade:
Falo
do amor que falta à humanidade,
Sem
o qual cada ser vive sozinho.
Falo
daquele amor que mata a fome,
Que
agasalha a quem no frio dorme,
Que
ao desolado vem trazer alento.
Falo
do amor que no perdão se aplica,
Falo
do amor que o coração pratica,
Quando
lê o primeiro Mandamento.
SE
EU FOR PRIMEIRO
Sá
de Freitas
Não
sei se um dia o fim que está marcado,
Virá
a mim ou a você primeiro...
Peço
a Deus não ser eu o derradeiro,
Pois
nada sou sem ter você ao meu lado.
E
se antes eu for, ao ser lembrado,
Não
quero que se entregue ao desespero,
Porque
o nosso amor é verdadeiro
E
nem com a morte ficará abalado.
Amarguras
não quero no seu rosto...
Quero
sua alma - de tristeza - nua
E
o coração sem dor e sem desgosto.
Pois
ao cruzar - da vida e a morte - as linhas,
Não
quero lá sentir a mente sua,
Sofrendo
aqui... Entre lembranças minhas.
QUAL É A MAIS BONITA?
Sá
de Freitas
Se
acaso um dia, em meu jardim chegares,
(Onde
há glicínias, desabrocham rosas),
E
sem receio algum me perguntares:
"Qual
é a mais bonita entre as formosas?"
Ás rosas olharei - quantos Abrolhos!-
Que
devo responder-te? Que farei?
Bem...
Postarei meus olhos nos teus olhos,
E,
a suspirar de amor, nada direi.
Então me envolverás num olhar de Santa,
A
interrogar-me com doçura tanta,
E,
ao mesmo tempo, em tom bem definido:
"Vamos! Responde! Pois te perguntei
Qual
é a mais bonita?"— Eu mostrarei
O
teu rosto no lago refletido.
COMO
FOI CRIADA A MULHER
Sá
de Freitas
Deus fez o mundo e ainda não contente,
Com
todas as grandezas que criara...
Nem
com as flores de beleza rara,
Nem
com a luz do sol resplandecente...
Achou por bem criar algo divino,
Que
trouxesse paixão, luz e beleza
Ao
homem que perdia-se em tristeza,
Em
solidão, em dor e desatino.
Tinha que ser a criação mais pura
De
um ser sublime e cheio de ternura,
Que
fosse o "tudo" que o homem quer.
Então copiou de um Anjo — a formosura;
Das
Ninfas celestiais — tirou a doçura —
E
a essa criação chamou: MULHER.
MEU
CARRINHO DE MÃO
Sá
de Freitas
Menino ainda eu me lancei à luta
Vendendo
frutas num carrinho usado
De
uma roda só, meio quebrado,
Que
pra empurrá-lo era a maior labuta.
Não me envergonho não... Porque agora
Tenho
bem mais do que sonhei um dia...
Não
é dinheiro não, é a primazia
De
ir vencendo pelo mundo afora.
Do carrinho-de-mão sinto saudade,
Pois
ele me mostrou que, na verdade,
O
sofrimento veio me ensinar:
Que sem mover os pés ninguém caminha;
Que
a gente pode ter o que não tinha,
Se
for à luta... Sem desanimar.
MEU RECANTO
Sá
de Freitas
Quem vê a velha casa não imagina
Quão
bela foi em tempo já passado,
Com
o seu terreiro todo ajardinado,
Encostada
ao sopé de uma colina.
Embora
fosse um tanto pequenina,
Seu
interior bem limpo e perfumado,
Deixava
o visitante extasiado
E
envolvido numa paz divina.
Mas
desde de que o seu dono a abandonou,
Em
abrigo de insetos se tornou
E
planta alguma hoje ali floresce.
E
assim também com a nossa alma ocorre:
Se
abandonada for, nela o bem morre
E
o mal então, com toda força cresce.
É BOM LEMBRAR A JUVENTUDE
Sá
de Freitas
É bom lembrar a juventude ida,
Mesmo
sabendo que ela já está morta,
Pois
ela foi quem nos abriu a porta,
De
nova etapa para ser vivida...
Nela demos início à nossa lida
Sem
muita experiência, mas que importa,
Se
revivê-la às vezes nos conforta
Nas
horas da velhice já surgida?
Mas lastimar o "agora" não devemos,
Pois
é bênção de Deus que hoje temos,
Por
ter vencido o tempo... E nessa idade:
Cada dia que surge é uma esperança;
Cada
dia que vai deixa lembrança;
Cada
lembrança traz uma saudade.
NÃO
SE DEIXE ABATER, MULHER!
Sá
de Freitas
Quando
um dia sentir-se injustiçada,
Ofendida
e humilhada extremamente;
Quando
for, sem motivo, caluniada,
Tendo
certeza de que é inocente.
Quando alguém macular sua conduta,
Deixando
você triste e constrangida;
Quando
a deixarem a sós, perante a luta,
Sem
ter ao lado seu, qualquer amiga.
Mergulhe no seu "eu" e o examine...
E
se nada tiver que a recrimine,
Não
se entregue, jamais, à dor extrema.
Dê um basta à qualquer maledicência,
Pois
o mais importante à consciência,
É
o que possa pensar de você mesma.
COMO
SINTO UM ADEUS
Sá
de Freitas
O
adeus é prenúncio de ansiedade
Que
surgirá nascida de uma ausência...
É
princípio de angústia... É evidência
De
prantos que virão com intensidade.
O
adeus é um sentir de vacuidade,
É
o interromper de uma convivência,
É
um padecer com a triste permanência,
Da
grande dor que traz uma saudade.
O
adeus é esperança de um retorno;
É
sensação terrível de abandono;
É
temor do que inda não surgiu.
É
apreensão que a alma mortifica;
Sonho
também de ir, para quem fica;
Vontade
de regresso a quem partiu.
AO SOM DA LIRA
Sá
de Freitas
Ao
som da lira eu fico embevecido,
Meio
perdido até... se o amor decanto,
Porque
o pranto flui-me tão sentido,
Quando
envolvido estou por esse encanto.
Mas
da lira não ouço o som doído,
Nem
o gemido do meu peito, enquanto
Fujo
de pronto, do meu tempo ido
E
tão sofrido por desgosto tanto.
E
as dores?... Busco eu sempre esquecê-las,
Pois
prefiro ficar olhando estrelas
E
nelas encontrar os versos meus.
Enquanto
estrelas olho... a dor esqueço;
Quando
esqueço da dor eu agradeço,
E
quando eu agradeço... Sinto Deus.
MÃOS
Sá
de Freitas
Benditas
são as mãos que se estendem,
Sem
distinção aos corações sofridos...
Mãos
santas são aquelas que se prendem
Cheias
de amor, às mãos dos combalidos.
Abençoadas
as mãos que, com humildade,
Se
erguem rumo aos Céus, fazendo prece,
Para
que haja amor na humanidade;
Para
que haja alívio à quem padece.
Sagradas
são as mãos que sempre espalham
Gestos
de amor num pão, num agasalho
E
que, em auxílio aos outros, nunca falham.
Grandiosas
são as mãos que sempre têm,
Em
suas palmas, marcas do trabalho
Que
realizam, construindo o bem.
O POBRE FELIZ
Sá
de Freitas
De
trás do monte o sol surgi dolente
E
começa a sugar toda a neblina,
Formada
pela fonte cristalina,
Que
segue o seu caminho calmamente.
Põe-se
em pé o caboclo... Está contente!
Toma
café, começa-se a rotina
De
ordenhar e ir pela campina
Atrás
de algum animal que está doente.
Seu
patrão na mansão, lá na cidade,
No
mesmo dia se levanta tarde,
E
chega lá com a alma amargurada.
E
vendo o empregado seu sorrindo
Feliz
da vida, aos poucos vai sentindo
Que
a riqueza que tem não vale nada.
O IDOSO E O JOVEM
Sá
de Freitas
A idade avançada é bênção... e a vida,
Se
bem vivida, é um período ledo...
E
quem não a tiver é que, bem cedo,
Dará
ao mundo a sua despedida.
Mas mesmo assim, que o jovem tenha em mente,
Que
deve dar ao idoso amor, carinho,
Pois,
ás vezes, se sente ele sozinho,
E
de atenção esteja tão carente.
Porque o tempo, para todos, passa...
A
juventude esvai-se qual fumaça,
E
levará o vigor que era seu.
E aí então, na faixa dos idosos,
Sedento
de atenção dos que são novos,
Não
poderá pedir o que não deu.
TER VIVIDO SEM VIVER
Sá
de Freitas
Pobre
de quem se faz escravizado,
Do
poder passageiro da riqueza,
Julgando
nela estar toda a grandeza,
De
quem pode mandar, sem ser mandado.
Sente-se
protegido e alicerçado
No
vil metal e apega-se à avareza,
Desprezando
os que vivem na pobreza,
E
o próprio Deus, por vez, deixa de lado.
Passa
o tempo... Ele vê que nenhum dia
Viveu
a vida como deveria,
E
vai deixar seus bens aqui na Terra...
Bens
que acenderão muitos rastilhos
De
desavenças entre os próprios filhos,
Quando
a herança lhes trouxer a guerra.
COMO SINTO A POESIA
Sá
de Freitas
É
a poesia a expressão mais pura,
De
um coração que sonha, canta e ama,
Ou
um grito do ser exposto à chama,
Do
desprezo, da dor ou da amargura.
Poesia
é ressonância de brandura,
À
mente inquieta que de amor se inflama,
É
a paixão febril que se esparrama,
Em
versos carregados de ternura.
Poesia
é o desabafo do poeta,
É
o lenitivo à uma dor secreta,
Que
alguém carrega n'alma atormentada.
Poesia
é o derramar de riso e pranto;
É
o mostrar de encanto e desencanto;
Poesia
é o tudo onde existe o nada.
MARCAS
DO TEMPO NA MULHER
Sá
de Freitas
Marcas que o tempo deixa-lhe no rosto,
São
provas da mulher (que é MULHER)
De
que venceu, sem titubear sequer,
A
dor, o pranto, a mágoa e o desgosto.
E
cada marca, em si, bem nos revela,
Que
o tempo vai, mas deixa-lhe beleza
No
coração, na alma e traz nobreza
Que
a faz, na vida, cada vez mais bela.
Marcas
do tempo na mulher demonstram,
Graciosas
linhas que atraem e encantam,
E
mostram-nos grandezas infinitas.
Não
lhe desfaz o tempo a formosura
E,
se da pele lhe roubar frescura,
Deixa
marcas de amor, bem mais bonitas.
A DOR MAIOR
Sá
de Freitas
A dor maior não vem de uma saudade,
Nem
das preocupações por alguém ausente,
Nem
com o cansaço que se faz presente
Em
nosso corpo com o chegar da idade.
A dor maior não nasce da ansiedade
Que
nos atinge inesperadamente,
Nem
da desilusão com algum parente,
Nem
do triste findar de uma amizade.
A dor maior não surge de uma ofensa,
Nem
aparece com a angústia intensa,
Quando
a gente se sente abandonado...
A dor maior é algo bem mais forte
Do
que talvez a dor da própria morte:
A
dor maior é amar sem ser amado.
AOS
MEUS ALGOZES
Sá
de Freitas
Por
muitas vezes já tentei debalde,
Flores
plantar às margens do caminho,
Por
onde ando às vezes tão sozinho,
Somente
em busca da felicidade.
Mas
sempre alguns, apenas por maldade,
Vem
e semeiam espinho por espinho,
Até
que não mais reste um só cantinho,
Para
eu plantar minha tranquilidade.
Mas
não faz mal, tudo isso me conduz
À
vitória, pois sei que a própria luz,
Somente
tem valor na escuridão.
E
os que o mal me fazem, no mal caem,
Porque
o que desejam a si atraem...
Mas
fiquem em paz... Pois dou-lhes meu perdão.
(02-09-1937 / 31-12-2017)
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