Odir Milanez da Cunha

João Pessoa, Paraíba, PB (1935-2017)







REMORSOS
Odir Milanez da Cunha

2ª colocação no Concurso Talentos da Poesia (2009)

Que fiz da vida que nasceu comigo?
Por que o remorso pesa em meu passado?
Por que não me arrisquei ante o perigo,
para criar o que não foi criado?

Poderia ter sido mais amigo,
amar demais e ser bem mais amado,
poderia ter dito o que não digo
ou, em vez de dizer, ficar calado…

Dos dias me esqueci do entardecer.
Agora só me resta conhecer
que o futuro presente me reclui.

Se nas horas dos dias de crescer
eu sonhava com o que queria ser,
hoje sonho em ter sido o que não fui.



O VULTO DE UM POETA
Odir Milanez da Cunha

(para o poeta Ronaldo Cunha Lima*)

Um poeta povoa a minha mente.
A morte da esperança em si repousa.
Seus olhos aos meus olhos, lentamente,
dizem da sua dor alguma cousa...

Qual linha tortuosa em uma lousa,
sobre o leito o seu jeito é comovente!
Parece passarinho quando pousa,
vergando para trás e para frente...

Os braços que agitavam multidões,
os versos que abrasavam corações,
a memória prodígio... Quem levou?

Tubos oxigenam-lhe os pulmões.
Em mim, sinto morrer as ilusões...
A pira da poesia se apagou!

(*) – também presente com seus sonetos a esta
homenagem ao Secular Soneto



PRATEANDO VERSOS
Odir Milanez da Cunha

Abro as janelas às mãos da madrugada.
Seu abraço de brisa me arrepia.
Da tarde que me viu não resta nada.
A noite que vivi vejo vazia...

Aparentando casa abandonada,
a vida esvaziada se anuncia.
A saudade soletra, em voz calada,
seu nome, que do meu se distancia.

Um lume, ao longe, aos poucos se acentua.
Seria o sol? Apuro os meus sentidos.
As nuvens de algodão dão luz à lua!

Vadeando de prata os seus vestidos,
enquanto ela argenteia o chão da rua,
vou prateando versos noitecidos...



UM ESCRIBA QUE ESCUTA A VOZ DO VENTO
Odir Milanez da Cunha

Um escriba que escuta a voz do vento
aventurando o amor que não tivera,
e em pleno outono crendo primavera,
pois sequer para o tempo vive atento...

Um escriba que sonha o seu momento
e do vento o vozeio ainda espera.
Essa espera é frustrante. Quem me dera
ouvir o amor amado em pensamento?

Um escriba de escrito tão sedento,
que as letras não comportam seus desejos
nem seus dedos conseguem mais tecê-las

para alcançar os céus, esmar estrelas
e enfeitá-las de amores e de beijos
de um escriba que escuta a voz do vento!...



ODE À POESIA
Odir Milanez da Cunha

Que seja sempre o sangue dos meus versos
a fluidez floral dos teus favores.
Que sejas canto ao cântico das flores,
ó senhora dos sonhos mais diversos!

Conscientiza, poesia, os controversos
sentidos da razões de nossas dores,
estende ao vate o eterno dos amores,
dá-los mantê-los castos e abstersos.

Que sejas, ó poesia, a parte pura,
capaz de revestir toda natura
das sublimes razões que nos projetas!

Concede-nos dos versos a mestria.
E no sair do sol de cada dia
inspira mais poesia aos teus poetas!



FLORES EM BRANCO E PRETO
Odir Milanez da Cunha

Essas flores, que arranjo num soneto,
São ofertas de amor, são devaneios.
Ao recebê-las, trá-las aos teus seios
— se não te irrita o ato que cometo.

São flores que compus em branco e preto,
que hás de colorir com teus anseios.
Lírios, rosas, jasmins, quaisquer floreios
que te sirvam, no amor, como alcoveto.

Se flores, até mesmo o mal-me-quer,
são, nas paixões, a forma mais direta
de conquistar o amor de uma mulher,

Acolhe as flores minhas e, discreta,
cerca ao teu corpo. Quando o amor vier,
junto ao teu corpo acolhe o teu poeta!



VERSO PASSARINHO
Odir Milanez da Cunha

Se não te vê a tal felicidade,
se ela dista demais do teu caminho,
tenta apenas sorrir. Sorri sozinho!
Teu sorriso impedir quem há-de?

Se te falseiam preitos de amizade,
imita as aves: fasta-te do ninho.
Não se obriga ninguém doar carinho,
sequer, sem nos supor, sentir saudade!

Ama somente o amor quando verdade.
Crê nesse encontro, fá-lo teu vizinho,
descrê das juras — pura veleidade!

E enquanto teu presente for mesquinho,
fazendo-te feliz pela metade,
voa ao vento o teu verso passarinho!



NA PONTA DO NARIZ
Odir Milanez da Cunha

Por pouco, muito pouco, por um triz,
quase que te beijei a rubra boca!
Eu não sei se feliz ou infeliz
senti-me, ao te sentir distância pouca!

Na verdade, eu bem quis e você quis
tentar a tentação (tontice louca!),
ao nos tocar na ponta do nariz,
as nossas mãos geladas, a voz rouca...

Desse encontro depois, não mais te vejo.
Por quem és, onde estás... Ninguém me diz.
Eu só sei seres sombra de um desejo!

E como me faz falta ou que não fiz:
festejarmos na boca o primo beijo,
ao nos tocar na ponta do nariz!...



SONHO MEU!
Odir Milanez da Cunha 

Ó sonho meu, por que sonhar te quis? 
Antes de ti, tranquilo, eu me deitava 
com meus sonhos sem ser, onde eu sonhava 
a inocente ilusão de ser feliz! 

Por que sonhei contigo, vis a vis, 
se distante de mim teu vulto estava? 
Ó sonho meu, eterno eu te estimava, 
sem me saber de sonhos aprendiz! 

Tranquiliza teus transes! São tristonhos! 
De meu azul fizeste um céu de giz, 
anuviando as cores dos meus sonhos... 

Dá-me à noite uma nova diretriz, 
mesmo sabendo a sonos enfadonhos... 
Ó sonho meu, por que sonhar te quis? 



SANTOS PECADORES
Odir Milanez da Cunha

Tentei lembrar... Não lembro. Não lembrei 
o que lembrei no tempo em que lembrava 
em ver teu ventre, ó virgem, que levei 
ao pecado, que o puro não pecava. 

Se eu pudesse pensar no que não sei 
que pensei no momento em que pensava 
em pecar, aos pecados que pequei 
perdão pedisse, o céu me perdoava! 

Se pudesse voltar ao que voltei, 
e volto, ainda agora, em tentos tantos, 
talvez eu não errasse o quanto errei. 

Quem sabe, se indultados nossos prantos, 
quando me deste o mesmo que te dei, 
pecadores nós dois fôssemos santos? 



INSTANTE FINAL
Odir Milanez da Cunha

Perco o espaço passado às idas minhas. 
Já não me vêm das musas o horizonte, 
dês que tropeço o passo em parcas linhas 
nas rotas que não sei, a mim defronte. 

Não bebes mais do vinho em minhas vinhas. 
Agora, sugas sumos de outra fonte. 
Passaste a ser passado, onde definhas 
desse amor, que era nosso, no desmonte! 

Lamento pelas liras apagadas, 
pelos versos que fiz, eis que desistes 
de comigo nascer novas estradas. 

Levo comigo o triste dos mais tristes: 
essas minhas visões, envenenadas 
pelo instante final, onde inexistes... 
  


UM TANGO NOS MEUS VERSOS
Odir Milanez da Cunha

Quem me trouxe a ser tango nesses versos? 
Que poeta, qual musa quis-me tanto, 
para lembrar-me amores adversos, 
para dar ao meu verso a voz do pranto? 

Um tango! Um trago, sonhos submersos, 
bandoneóns, guitarras, triste canto... 
Quem me transporta a mundos controversos, 
poeta, musa, d’onde esse quebranto? 

Demais cantei o céu, o rio, o mar, 
a festa dos florais na ribanceira, 
o dia adormecente, já sambango! 

Agora, trago ao tango o verbo amar. 
Decantado por mim, a vida inteira, 
passeio o amor passado ao tom de um tango! 



VAMOS AMAR O AMOR!
Odir Milanez da Cunha 

Vamos amar o amor! Amar, somente, 
sem censuras, sem sensos, sem limite! 
Amar o tanto quanto nos permite 
a insensatez tecida em nossa mente! 

Vamos gozar o gozo que há na gente, 
sem pudor, sem perguntas, sem palpite, 
dês que a nossa impudência nos incite 
à compulsão carnal, concupiscente! 

Vamos viver o amor insubmisso, 
com o amor infinito parecente — 
amor amado e amante, mais que isso! 

Vamos beijar, dos beijos, o indecente, 
sem juras, sem promessa ou compromisso! 
Vamos amar o amor! Amar, somente... 



O TREM DO TEMPO
Odir Milanez da Cunha

O trem do tempo passa, tendo pressa 
em alcançar da vida o fim da estrada 
e se acostar na gare, quando cessa 
dos vividos viageiros a jornada. 

Trafega o trem do tempo, e mais se apressa 
no seguimento à última parada. 
Depois, de volta aos vivos, recomeça 
seu retorno à estação além do nada. 

O trem do tempo passa. Não se apresse. 
Deixe-o passar. Vadeie a sua vida. 
Ele é presto no andar. Sempre aparece. 

No tempo em que atempar sua partida, 
o trem do tempo, a tempo, se oferece 
pra levar-lhe à parada animicida... 



DUAS VEZES...
Odir Milanez da Cunha
  
"Solamente una vez amé en la vida."
Duas vezes amei. Amei demais...
Duas vezes o adeus, a despedida...
Duas vezes o nada... O nunca mais...
  
Duas vezes vivi sem ver vivida
a encenação dos sonhos imortais...
Desce o pano, no palco. Na descida,
recolho e rasgo os versos dos jograis.
  
Amei demais! Amei, por duas vezes,
esse amor que, ao surgir, a gente sente
ser sentido por dois há muitos meses!
  
Despido de ilusões, do amor descrente,
desisto de versar versos corteses.
Eu nasci pra viver o amor ausente...



CARCOMIDOS CASARÕES...
Odir Milanez da Cunha

Fascinam-me os lugares esquecidos 
pelos donos do tempo, pela gente 
que, se safando às sagas dos sentidos, 
ao que se foi se põe indiferente. 

Casarões por desandos carcomidos, 
forradas de fuligens toda frente, 
sem muros, sem paredes, descaídos, 
tal qual o fim das flores sem semente... 

Fico a fitá-los vivos no passado. 
Quantos corcéis lustrosos, carruagens 
cursaram, com os convivas de um bailado! 

Lustres luzentes, valsas, vassalagens 
levando libações por todo lado... 
Sois, casarões, sepulcro das imagens! 



O ADEUS DA VOZ DO VENTO
Odir Milanez da Cunha

A noite se me achega com seus medos, 
sobraçada a um silêncio absoluto. 
Comungamos, a sós, nossos segredos, 
massificando os mesmos tons de luto. 

Os instintos me instilam instantes tredos. 
A solidão lhes serve de conduto. 
O mar aumenta a voz dos seus bruxedos, 
a vida espessa o espaço dissoluto. 

Uma fala, lá fora, fala em vida, 
outra voz, de vozeio vagarento, 
parece de vontade desprovida. 

A noite expande o espaço a passo lento 
enquanto eu verso e choro a despedida 
do que de adeus me diz a voz do vento... 



BEIJA-ME!
Odir Milanez da Cunha

Beija-me com teu beijo mais ousado 
o beijo que jamais ousado havias, 
um orgástico beijo, bem molhado, 
como beijam bacantes nas orgias! 

O beijo que jamais havias dado, 
que querias me dar, mas não sabias! 
Beija-me, santa, um beijo de pecado, 
um pecado que pouco cometias! 

Peço-te um beijo, amor, como quem chora, 
como quem por um beijo vende a vida 
ou se lhe fosse a vida sem demora! 

Beija-me a boca, louca, de surtida, 
como se eu fosse adeus de ir embora, 
como quem beija um beijo de partida! 




A ESTRELA ILKA VIEIRA
Odir Milanez da Cunha

(para a poetisa Ilka Vieira, 1954-2014)

Ela foi franca, frágil e firme, vida afora, 
foi poeta e prosista, à parte ou por inteira, 
foi a Ilka daqui, das Ilkas lá de fora, 
foi una e pluralista em veste verdadeira. 

Dizia-se excessiva em tudo, muito embora 
às vezes reclamasse o intenso da canseira 
na busca do amanhã, após vencer o agora 
e as mutações de ser, no jeito ou na maneira. 

Foi silêncio, foi grito, calma, tudo ou nada. 
Foi alegre, foi triste, amiga e companheira, 
foi franca e destemida, estranha e apaixonada. 

Quando a morte entoou-lhe a lira derradeira, 
foi em busca da luz. Após iluminada, 
metamorfoseou-se estrela, Ilka Vieira! 



À SOMBRA DE UM SONETO 
Odir Milanez 

Penso um soneto e paro, com receio 
de ser igual a carta descartada, 
dessas cartas que escrevo e só eu leio 
para não ser de todo rejeitada. 

Temo entendê-lo desprezado. Creio 
ser meu soneto flor da madrugada, 
quando param das letras o passeio 
e tudo passa em passos de ser nada! 

Subscrevo saudades, mas o medo 
de versar volições que não se vê, 
me leva a ser poeta mudo e quedo. 

Penso um soneto e paro. Para quê 
ser confesso de amor nalgum segredo 
que só eu leio e mais ninguém o lê? 

Então disfarço e faço esse arremedo 
de soneto, que sei, não vê você... 



PERFUME DE SAUDADE
Odir Milanez da Cunha

Na poesia da noite em que te vejo 
e me vejo menino anoitecido, 
as minhas fantasias de desejo 
versam sonhos de amor jamais sentido. 

No leque dos meus dias, vaporejo 
esperança ao momento não vivido. 
Compartilho do chão do teu andejo, 
pensando em teu pensar não compartido. 

Semelhante aos que amam de verdade, 
busco na noite cores de ciúme, 
pois não sentir ciúme teu quem há-de? 

da bruma de meus olhos foge o lume 
e te faço, presente, em ser saudade, 
e perfumo a saudade em teu perfume.



SONETO TRISTE
Odir Milanez da Cunha

Catorze versos varam a madrugada
numa canção que encher de vida tento,
mimoseando amor à minha amada,
e ouvindo, a sós, a voz que vem do vento.

Soneto que solfejo em serenada
à minha amada, amada em pensamento,
mimando-a mais e mais, em meio ao nada
onde sonho sem fim o amor que invento.

Apaixonante amor inexistente!
A noite dorme, o dia se avizinha
alvorando o horizonte, lentamente...

O meu soneto em lágrimas definha.
Amor nenhum existe que o contente.
Ensina-lhe a sorrir, amada minha!



BEM-TE-VI
Odir Milanez da Cunha

Um bem-te-vi insiste em ser comigo,
mal se remete o sol ao outro lado.
Por si mesmo intentou ser meu amigo,
do jambeiro escondido no copado.

Três da tarde, ele vem para esse abrigo,
lá do alto desfralda o amarelado
e canta: “bem-te-vi!”. Se nada digo,
ele se liga ao canto duplicado.

Bem te vi numa tarde assim morrente
quando passaste o passo em minha rua,
sendo dois bem-te-vis o olhar da gente.

O bem-te-vi cantando continua
porém não mais te vi passando à frente
da casa que eu quisera fosse tua!



CHORO DA CHUVA
Odir Milanez da Cunha

Chove o pranto dos astros escondidos
entre nuvens das cores do abandono.
Há inversos sismais dos meus sentidos,
sabendo a folhas secas ante o outono.

A noite silencia os alaridos.
Luzes mortiças chamam pelo sono.
Passantes, poucos, passam refletidos
pelo asfalto, tal qual papel-carbono.

Em meu quarto, ante o sol da luz acesa,
convido a vida a conversar comigo,
para sentar comigo à minha mesa.

Mas chove em minha rua, e só consigo
a vã visitação de mais tristeza
chorando chuva e me pedindo abrigo...



SILÊNCIO
Odir Milanez da Cunha

Como fosse uma obra inacabada,
apesar do primor da arquitetura,
ou semelhando casa abandonada,
o silêncio se fez Poesia Pura.

Seu ventre se esvazia. Não há nada
além do desandar da escada escura.
Dos versos que se vão de voz calada,
no parnaso o poeta anda à procura...

Ah, poeta perdido em teus andores!
As flores já se foram dos florais
e os florais não fomentam mais colores.

Os versos versam vozes virtuais,
sucumbem dos sonetos seguidores,
dês que a Poesia Pura não é mais...



ROSAS
Odir Milanez da Cunha

Lembro ainda da rosa frente à rua 
no peitoral da porta, em prisca data, 
que para mim deixaste, à luz da lua, 
pedindo-me de versos serenata.

Lembro, de lua envolta, a casa tua, 
e de nós dois, do mesmo sonho à cata, 
de teu corpo, à cortina, a sombra nua, 
da tua sombra nua, cor de prata!

Das serestas voltei versos e prosas. 
O violão velou da lua a vela, 
as noites noiteceram pavorosas...

Mas sempre fiei de lembrar de noite aquela... 
Toda vez que os meus olhos olham rosas 
eu te vejo, desnuda, na janela!



DAS PARTIDAS E CHEGADAS
Odir Milanez da Cunha

Eu sou aquele que, por muitas vidas, 
fui parceiro constante das esperas, 
esperas encontradas e perdidas 
nas infindáveis faces de outras eras!

Sou a conta das horas percorridas 
nas sequências dos sonhos e quimeras, 
o deserto do adeus nas despedidas, 
o outono eternal das primaveras.

Sou a crença nas juras perjuradas, 
a descrença das crenças prometidas, 
aporte das porções inacabadas.

Eu sou, das consequências concebidas, 
a espera excitante das chegadas, 
o palpitante pranto das partidas!



SORRI DA TUA VIDA!
Odir Milanez da Cunha

Sorri da tua vida, e para ela, 
embora ao teu viver não mais sorria! 
Trafega os sensos teus em nova tela, 
a alma alimentando de alegria! 

Embeleza o abstrato! A brisa é bela! 
Aquece a tua crença, quando fria, 
que, de repente, o riso se revela 
refletido na reza: Ave, Maria! 

Sonha os sonhos mais santos que quiseres! 
Uma estrela te dê! Quem sabe, aquela 
que navega, na noite, os teus misteres? 

Poetisa o teu pranto, e, com cautela, 
amando o amor — lirismo das mulheres —
sorri da tua vida, e para ela! 



MEU PAPAI NOEL
Odir Milanez da Cunha

Quando criança, eu nele acreditava.
Papai Noel pensava haver, de fato.
Porém, o que eu pedia não me dava,
trocava por brinquedo mais barato.

Exigia estudar: eu estudava.
Dos idosos fugia ao desacato.
Mandava-me rezar: como eu rezava!
Devia comer mais! Raspava o prato!

Então, quando o Natal se aproximava,
meu velho pai (como lhe fui cruel!),
amigo de Noel, a mim falava:

- Escreve o que desejas num papel!
Mas ao ler sobre o sonho que eu sonhava,
como chorava o meu Papai Noel!

JPessoa/PB
25.12.2014
oklima




O PANO DO PALCO DA POESIA
Odir Milanez da Cunha

Do palco da poesia apago o pano,
dos meus dramas de amor encerro a cena.
Desencontro dos ditos, desengano,
a plateia demais sendo pequena.

Aqui não fui ator, não fui engano.
Eu fui vida, e a vivi de forma plena,
após esperançá-la, ano após ano,
esperando esperar valer a pena...

É meu último ato esse soneto.
Um soneto que sai de um ser humano
que se faz invisível em seu gueto.

De alma amargurada, em verso insano,
eu me vou de mim mesmo, e me prometo:
do palco da poesia apago o pano...



A EXPLOSÃO DO SONETO
Odir Milanez da Cunha

Uma rosa um soneto meu explode!
Como pode a poesia explodir rosa?
E junto à rosa, o verso. Como pode
uma rosa explodir em verso e prosa?

Até parece imagem milagrosa
um soneto explodindo. Quem o acode?
Entre soneto e rosas quem se entrosa?
Como calmar o canto de uma ode?

Componho à rosa um canto, nesse instante.
Um soneto solfejo ao cheiro seu,
aparentando ser um seu amante.

Mas antes que eu cantasse a rosa e eu,
antes dos versos ver de mim diante,
a explosão do soneto aconteceu!

Fontes: Livro “Prateando Versos”, Editora Livro Rápido, Peixinhos,
 Olinda, PE, 2014, 230 páginas

         

Um comentário:

  1. Saudade de você painho! Queria puder sente contigo e falar o que sinto! Te amo painho!

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