REMORSOS
Odir
Milanez da Cunha
2ª
colocação no Concurso Talentos da
Poesia (2009)
Que
fiz da vida que nasceu comigo?
Por
que o remorso pesa em meu passado?
Por
que não me arrisquei ante o perigo,
para
criar o que não foi criado?
Poderia
ter sido mais amigo,
amar
demais e ser bem mais amado,
poderia
ter dito o que não digo
ou,
em vez de dizer, ficar calado…
Dos
dias me esqueci do entardecer.
Agora
só me resta conhecer
que
o futuro presente me reclui.
Se
nas horas dos dias de crescer
eu
sonhava com o que queria ser,
hoje
sonho em ter sido o que não fui.
Odir
Milanez da Cunha
(para o poeta
Ronaldo Cunha Lima*)
Um
poeta povoa a minha mente.
A
morte da esperança em si repousa.
Seus
olhos aos meus olhos, lentamente,
dizem
da sua dor alguma cousa...
Qual
linha tortuosa em uma lousa,
sobre
o leito o seu jeito é comovente!
Parece
passarinho quando pousa,
vergando
para trás e para frente...
Os
braços que agitavam multidões,
os
versos que abrasavam corações,
a
memória prodígio... Quem levou?
Tubos
oxigenam-lhe os pulmões.
Em
mim, sinto morrer as ilusões...
A
pira da poesia se apagou!
(*)
– também presente com seus sonetos a esta
homenagem
ao Secular Soneto
PRATEANDO
VERSOS
Odir
Milanez da Cunha
Abro
as janelas às mãos da madrugada.
Seu
abraço de brisa me arrepia.
Da
tarde que me viu não resta nada.
A
noite que vivi vejo vazia...
Aparentando
casa abandonada,
a
vida esvaziada se anuncia.
A
saudade soletra, em voz calada,
seu
nome, que do meu se distancia.
Um
lume, ao longe, aos poucos se acentua.
Seria
o sol? Apuro os meus sentidos.
As
nuvens de algodão dão luz à lua!
Vadeando
de prata os seus vestidos,
enquanto
ela argenteia o chão da rua,
vou
prateando versos noitecidos...
UM
ESCRIBA QUE ESCUTA A VOZ DO VENTO
Odir
Milanez da Cunha
Um
escriba que escuta a voz do vento
aventurando
o amor que não tivera,
e
em pleno outono crendo primavera,
pois
sequer para o tempo vive atento...
Um
escriba que sonha o seu momento
e
do vento o vozeio ainda espera.
Essa
espera é frustrante. Quem me dera
ouvir
o amor amado em pensamento?
Um
escriba de escrito tão sedento,
que
as letras não comportam seus desejos
nem
seus dedos conseguem mais tecê-las
para
alcançar os céus, esmar estrelas
e
enfeitá-las de amores e de beijos
de
um escriba que escuta a voz do vento!...
ODE
À POESIA
Odir
Milanez da Cunha
Que
seja sempre o sangue dos meus versos
a
fluidez floral dos teus favores.
Que
sejas canto ao cântico das flores,
ó
senhora dos sonhos mais diversos!
Conscientiza,
poesia, os controversos
sentidos
da razões de nossas dores,
estende
ao vate o eterno dos amores,
dá-los
mantê-los castos e abstersos.
Que
sejas, ó poesia, a parte pura,
capaz
de revestir toda natura
das
sublimes razões que nos projetas!
Concede-nos
dos versos a mestria.
E
no sair do sol de cada dia
inspira
mais poesia aos teus poetas!
FLORES
EM BRANCO E PRETO
Odir
Milanez da Cunha
Essas
flores, que arranjo num soneto,
São
ofertas de amor, são devaneios.
Ao
recebê-las, trá-las aos teus seios
—
se não te irrita o ato que cometo.
São
flores que compus em branco e preto,
que
hás de colorir com teus anseios.
Lírios,
rosas, jasmins, quaisquer floreios
que
te sirvam, no amor, como alcoveto.
Se
flores, até mesmo o mal-me-quer,
são,
nas paixões, a forma mais direta
de
conquistar o amor de uma mulher,
Acolhe
as flores minhas e, discreta,
cerca
ao teu corpo. Quando o amor vier,
junto
ao teu corpo acolhe o teu poeta!
VERSO
PASSARINHO
Odir
Milanez da Cunha
Se
não te vê a tal felicidade,
se
ela dista demais do teu caminho,
tenta
apenas sorrir. Sorri sozinho!
Teu
sorriso impedir quem há-de?
Se
te falseiam preitos de amizade,
imita
as aves: fasta-te do ninho.
Não
se obriga ninguém doar carinho,
sequer,
sem nos supor, sentir saudade!
Ama
somente o amor quando verdade.
Crê
nesse encontro, fá-lo teu vizinho,
descrê
das juras — pura veleidade!
E
enquanto teu presente for mesquinho,
fazendo-te
feliz pela metade,
voa
ao vento o teu verso passarinho!
NA
PONTA DO NARIZ
Odir
Milanez da Cunha
Por
pouco, muito pouco, por um triz,
quase
que te beijei a rubra boca!
Eu
não sei se feliz ou infeliz
senti-me,
ao te sentir distância pouca!
Na
verdade, eu bem quis e você quis
tentar
a tentação (tontice louca!),
ao
nos tocar na ponta do nariz,
as
nossas mãos geladas, a voz rouca...
Desse
encontro depois, não mais te vejo.
Por
quem és, onde estás... Ninguém me diz.
Eu
só sei seres sombra de um desejo!
E
como me faz falta ou que não fiz:
festejarmos
na boca o primo beijo,
ao
nos tocar na ponta do nariz!...
SONHO
MEU!
Odir
Milanez da Cunha
Ó
sonho meu, por que sonhar te quis?
Antes
de ti, tranquilo, eu me deitava
com
meus sonhos sem ser, onde eu sonhava
a
inocente ilusão de ser feliz!
Por
que sonhei contigo, vis a vis,
se
distante de mim teu vulto estava?
Ó
sonho meu, eterno eu te estimava,
sem
me saber de sonhos aprendiz!
Tranquiliza
teus transes! São tristonhos!
De
meu azul fizeste um céu de giz,
anuviando
as cores dos meus sonhos...
Dá-me
à noite uma nova diretriz,
mesmo
sabendo a sonos enfadonhos...
Ó
sonho meu, por que sonhar te quis?
SANTOS
PECADORES
Odir
Milanez da Cunha
Tentei
lembrar... Não lembro. Não lembrei
o
que lembrei no tempo em que lembrava
em
ver teu ventre, ó virgem, que levei
ao
pecado, que o puro não pecava.
Se
eu pudesse pensar no que não sei
que
pensei no momento em que pensava
em
pecar, aos pecados que pequei
perdão
pedisse, o céu me perdoava!
Se
pudesse voltar ao que voltei,
e
volto, ainda agora, em tentos tantos,
talvez
eu não errasse o quanto errei.
Quem
sabe, se indultados nossos prantos,
quando
me deste o mesmo que te dei,
pecadores
nós dois fôssemos santos?
INSTANTE
FINAL
Odir
Milanez da Cunha
Perco
o espaço passado às idas minhas.
Já
não me vêm das musas o horizonte,
dês
que tropeço o passo em parcas linhas
nas
rotas que não sei, a mim defronte.
Não
bebes mais do vinho em minhas vinhas.
Agora,
sugas sumos de outra fonte.
Passaste
a ser passado, onde definhas
desse
amor, que era nosso, no desmonte!
Lamento
pelas liras apagadas,
pelos
versos que fiz, eis que desistes
de
comigo nascer novas estradas.
Levo
comigo o triste dos mais tristes:
essas
minhas visões, envenenadas
pelo
instante final, onde inexistes...
UM
TANGO NOS MEUS VERSOS
Odir
Milanez da Cunha
Quem
me trouxe a ser tango nesses versos?
Que
poeta, qual musa quis-me tanto,
para
lembrar-me amores adversos,
para
dar ao meu verso a voz do pranto?
Um
tango! Um trago, sonhos submersos,
bandoneóns,
guitarras, triste canto...
Quem
me transporta a mundos controversos,
poeta,
musa, d’onde esse quebranto?
Demais
cantei o céu, o rio, o mar,
a
festa dos florais na ribanceira,
o
dia adormecente, já sambango!
Agora,
trago ao tango o verbo amar.
Decantado
por mim, a vida inteira,
passeio
o amor passado ao tom de um tango!
VAMOS
AMAR O AMOR!
Odir
Milanez da Cunha
Vamos
amar o amor! Amar, somente,
sem
censuras, sem sensos, sem limite!
Amar
o tanto quanto nos permite
a
insensatez tecida em nossa mente!
Vamos
gozar o gozo que há na gente,
sem
pudor, sem perguntas, sem palpite,
dês
que a nossa impudência nos incite
à
compulsão carnal, concupiscente!
Vamos
viver o amor insubmisso,
com
o amor infinito parecente —
amor
amado e amante, mais que isso!
Vamos
beijar, dos beijos, o indecente,
sem
juras, sem promessa ou compromisso!
Vamos
amar o amor! Amar, somente...
O
TREM DO TEMPO
Odir
Milanez da Cunha
O
trem do tempo passa, tendo pressa
em
alcançar da vida o fim da estrada
e
se acostar na gare, quando cessa
dos
vividos viageiros a jornada.
Trafega
o trem do tempo, e mais se apressa
no
seguimento à última parada.
Depois,
de volta aos vivos, recomeça
seu
retorno à estação além do nada.
O
trem do tempo passa. Não se apresse.
Deixe-o
passar. Vadeie a sua vida.
Ele
é presto no andar. Sempre aparece.
No
tempo em que atempar sua partida,
o
trem do tempo, a tempo, se oferece
pra
levar-lhe à parada animicida...
DUAS
VEZES...
Odir
Milanez da Cunha
"Solamente
una vez amé en la vida."
Duas
vezes amei. Amei demais...
Duas
vezes o adeus, a despedida...
Duas
vezes o nada... O nunca mais...
Duas
vezes vivi sem ver vivida
a
encenação dos sonhos imortais...
Desce
o pano, no palco. Na descida,
recolho
e rasgo os versos dos jograis.
Amei
demais! Amei, por duas vezes,
esse
amor que, ao surgir, a gente sente
ser
sentido por dois há muitos meses!
Despido
de ilusões, do amor descrente,
desisto
de versar versos corteses.
Eu
nasci pra viver o amor ausente...
CARCOMIDOS
CASARÕES...
Odir
Milanez da Cunha
Fascinam-me
os lugares esquecidos
pelos
donos do tempo, pela gente
que,
se safando às sagas dos sentidos,
ao
que se foi se põe indiferente.
Casarões
por desandos carcomidos,
forradas
de fuligens toda frente,
sem
muros, sem paredes, descaídos,
tal
qual o fim das flores sem semente...
Fico
a fitá-los vivos no passado.
Quantos
corcéis lustrosos, carruagens
cursaram,
com os convivas de um bailado!
Lustres
luzentes, valsas, vassalagens
levando
libações por todo lado...
Sois,
casarões, sepulcro das imagens!
O
ADEUS DA VOZ DO VENTO
Odir
Milanez da Cunha
A
noite se me achega com seus medos,
sobraçada
a um silêncio absoluto.
Comungamos,
a sós, nossos segredos,
massificando
os mesmos tons de luto.
Os
instintos me instilam instantes tredos.
A
solidão lhes serve de conduto.
O
mar aumenta a voz dos seus bruxedos,
a
vida espessa o espaço dissoluto.
Uma
fala, lá fora, fala em vida,
outra
voz, de vozeio vagarento,
parece
de vontade desprovida.
A
noite expande o espaço a passo lento
enquanto
eu verso e choro a despedida
do
que de adeus me diz a voz do vento...
BEIJA-ME!
Odir
Milanez da Cunha
Beija-me
com teu beijo mais ousado
o
beijo que jamais ousado havias,
um
orgástico beijo, bem molhado,
como
beijam bacantes nas orgias!
O
beijo que jamais havias dado,
que
querias me dar, mas não sabias!
Beija-me,
santa, um beijo de pecado,
um
pecado que pouco cometias!
Peço-te
um beijo, amor, como quem chora,
como
quem por um beijo vende a vida
ou
se lhe fosse a vida sem demora!
Beija-me
a boca, louca, de surtida,
como
se eu fosse adeus de ir embora,
como
quem beija um beijo de partida!
A
ESTRELA ILKA VIEIRA
Odir
Milanez da Cunha
(para a poetisa
Ilka Vieira, 1954-2014)
Ela
foi franca, frágil e firme, vida afora,
foi
poeta e prosista, à parte ou por inteira,
foi
a Ilka daqui, das Ilkas lá de fora,
foi
una e pluralista em veste verdadeira.
Dizia-se
excessiva em tudo, muito embora
às
vezes reclamasse o intenso da canseira
na
busca do amanhã, após vencer o agora
e
as mutações de ser, no jeito ou na maneira.
Foi
silêncio, foi grito, calma, tudo ou nada.
Foi
alegre, foi triste, amiga e companheira,
foi
franca e destemida, estranha e apaixonada.
Quando
a morte entoou-lhe a lira derradeira,
foi
em busca da luz. Após iluminada,
metamorfoseou-se
estrela, Ilka Vieira!
À
SOMBRA DE UM SONETO
Odir
Milanez
Penso
um soneto e paro, com receio
de
ser igual a carta descartada,
dessas
cartas que escrevo e só eu leio
para
não ser de todo rejeitada.
Temo
entendê-lo desprezado. Creio
ser
meu soneto flor da madrugada,
quando
param das letras o passeio
e
tudo passa em passos de ser nada!
Subscrevo
saudades, mas o medo
de
versar volições que não se vê,
me
leva a ser poeta mudo e quedo.
Penso
um soneto e paro. Para quê
ser
confesso de amor nalgum segredo
que
só eu leio e mais ninguém o lê?
Então
disfarço e faço esse arremedo
de
soneto, que sei, não vê você...
PERFUME
DE SAUDADE
Odir
Milanez da Cunha
Na
poesia da noite em que te vejo
e
me vejo menino anoitecido,
as
minhas fantasias de desejo
versam
sonhos de amor jamais sentido.
No
leque dos meus dias, vaporejo
esperança
ao momento não vivido.
Compartilho
do chão do teu andejo,
pensando
em teu pensar não compartido.
Semelhante
aos que amam de verdade,
busco
na noite cores de ciúme,
pois
não sentir ciúme teu quem há-de?
da
bruma de meus olhos foge o lume
e
te faço, presente, em ser saudade,
e
perfumo a saudade em teu perfume.
SONETO
TRISTE
Odir
Milanez da Cunha
Catorze
versos varam a madrugada
numa
canção que encher de vida tento,
mimoseando
amor à minha amada,
e
ouvindo, a sós, a voz que vem do vento.
Soneto
que solfejo em serenada
à
minha amada, amada em pensamento,
mimando-a
mais e mais, em meio ao nada
onde
sonho sem fim o amor que invento.
Apaixonante
amor inexistente!
A
noite dorme, o dia se avizinha
alvorando
o horizonte, lentamente...
O
meu soneto em lágrimas definha.
Amor
nenhum existe que o contente.
Ensina-lhe
a sorrir, amada minha!
BEM-TE-VI
Odir
Milanez da Cunha
Um
bem-te-vi insiste em ser comigo,
mal
se remete o sol ao outro lado.
Por
si mesmo intentou ser meu amigo,
do
jambeiro escondido no copado.
Três
da tarde, ele vem para esse abrigo,
lá
do alto desfralda o amarelado
e
canta: “bem-te-vi!”. Se nada digo,
ele
se liga ao canto duplicado.
Bem
te vi numa tarde assim morrente
quando
passaste o passo em minha rua,
sendo
dois bem-te-vis o olhar da gente.
O
bem-te-vi cantando continua
porém
não mais te vi passando à frente
da
casa que eu quisera fosse tua!
CHORO
DA CHUVA
Odir
Milanez da Cunha
Chove
o pranto dos astros escondidos
entre
nuvens das cores do abandono.
Há
inversos sismais dos meus sentidos,
sabendo
a folhas secas ante o outono.
A
noite silencia os alaridos.
Luzes
mortiças chamam pelo sono.
Passantes,
poucos, passam refletidos
pelo
asfalto, tal qual papel-carbono.
Em
meu quarto, ante o sol da luz acesa,
convido
a vida a conversar comigo,
para
sentar comigo à minha mesa.
Mas
chove em minha rua, e só consigo
a
vã visitação de mais tristeza
chorando
chuva e me pedindo abrigo...
SILÊNCIO
Odir
Milanez da Cunha
Como
fosse uma obra inacabada,
apesar
do primor da arquitetura,
ou
semelhando casa abandonada,
o
silêncio se fez Poesia Pura.
Seu
ventre se esvazia. Não há nada
além
do desandar da escada escura.
Dos
versos que se vão de voz calada,
no
parnaso o poeta anda à procura...
Ah,
poeta perdido em teus andores!
As
flores já se foram dos florais
e
os florais não fomentam mais colores.
Os
versos versam vozes virtuais,
sucumbem
dos sonetos seguidores,
dês
que a Poesia Pura não é mais...
ROSAS
Odir
Milanez da Cunha
Lembro
ainda da rosa frente à rua
no
peitoral da porta, em prisca data,
que
para mim deixaste, à luz da lua,
pedindo-me
de versos serenata.
Lembro,
de lua envolta, a casa tua,
e
de nós dois, do mesmo sonho à cata,
de
teu corpo, à cortina, a sombra nua,
da
tua sombra nua, cor de prata!
Das
serestas voltei versos e prosas.
O
violão velou da lua a vela,
as
noites noiteceram pavorosas...
Mas
sempre fiei de lembrar de noite aquela...
Toda
vez que os meus olhos olham rosas
eu
te vejo, desnuda, na janela!
DAS
PARTIDAS E CHEGADAS
Odir
Milanez da Cunha
Eu
sou aquele que, por muitas vidas,
fui
parceiro constante das esperas,
esperas
encontradas e perdidas
nas
infindáveis faces de outras eras!
Sou
a conta das horas percorridas
nas
sequências dos sonhos e quimeras,
o
deserto do adeus nas despedidas,
o
outono eternal das primaveras.
Sou
a crença nas juras perjuradas,
a
descrença das crenças prometidas,
aporte
das porções inacabadas.
Eu
sou, das consequências concebidas,
a
espera excitante das chegadas,
o
palpitante pranto das partidas!
SORRI
DA TUA VIDA!
Odir
Milanez da Cunha
Sorri
da tua vida, e para ela,
embora
ao teu viver não mais sorria!
Trafega
os sensos teus em nova tela,
a
alma alimentando de alegria!
Embeleza
o abstrato! A brisa é bela!
Aquece
a tua crença, quando fria,
que,
de repente, o riso se revela
refletido
na reza: Ave, Maria!
Sonha
os sonhos mais santos que quiseres!
Uma
estrela te dê! Quem sabe, aquela
que
navega, na noite, os teus misteres?
Poetisa
o teu pranto, e, com cautela,
amando
o amor — lirismo das mulheres —
sorri
da tua vida, e para ela!
MEU PAPAI NOEL
Odir Milanez da
Cunha
Quando criança, eu
nele acreditava.
Papai Noel pensava
haver, de fato.
Porém, o que eu
pedia não me dava,
trocava por
brinquedo mais barato.
Exigia estudar: eu
estudava.
Dos idosos fugia ao
desacato.
Mandava-me rezar:
como eu rezava!
Devia comer mais!
Raspava o prato!
Então, quando o
Natal se aproximava,
meu velho pai (como
lhe fui cruel!),
amigo de Noel, a
mim falava:
- Escreve o que
desejas num papel!
Mas ao ler sobre o
sonho que eu sonhava,
como chorava o meu
Papai Noel!
JPessoa/PB
25.12.2014
oklima
O
PANO DO PALCO DA POESIA
Odir
Milanez da Cunha
Do
palco da poesia apago o pano,
dos
meus dramas de amor encerro a cena.
Desencontro
dos ditos, desengano,
a
plateia demais sendo pequena.
Aqui
não fui ator, não fui engano.
Eu
fui vida, e a vivi de forma plena,
após
esperançá-la, ano após ano,
esperando
esperar valer a pena...
É
meu último ato esse soneto.
Um
soneto que sai de um ser humano
que
se faz invisível em seu gueto.
De
alma amargurada, em verso insano,
eu
me vou de mim mesmo, e me prometo:
do
palco da poesia apago o pano...
A
EXPLOSÃO DO SONETO
Odir
Milanez da Cunha
Uma
rosa um soneto meu explode!
Como
pode a poesia explodir rosa?
E
junto à rosa, o verso. Como pode
uma
rosa explodir em verso e prosa?
Até
parece imagem milagrosa
um
soneto explodindo. Quem o acode?
Entre
soneto e rosas quem se entrosa?
Como
calmar o canto de uma ode?
Componho
à rosa um canto, nesse instante.
Um
soneto solfejo ao cheiro seu,
aparentando
ser um seu amante.
Mas
antes que eu cantasse a rosa e eu,
antes
dos versos ver de mim diante,
a
explosão do soneto aconteceu!
Fontes: Livro “Prateando Versos”, Editora Livro Rápido, Peixinhos,
Olinda, PE, 2014, 230 páginas
Olinda, PE, 2014, 230 páginas
Saudade de você painho! Queria puder sente contigo e falar o que sinto! Te amo painho!
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