Irani Alves de Genaro (Iranimel)

Sorocaba, SP



SEDUZIDA
Irani Alves de Genaro

O céu, que um dia nos cobriu de cores,
Hoje chora por nós como a canção
Que entoa versos para outros amores
Perdidos como nós na solidão... 

Mas eu irei contigo aonde tu fores
Para atender a voz do coração,
(Nosso jardim anda esperando as flores)
Por que deixar morrer essa paixão?

E que mal haveria no Universo,
Que deixa nosso amor assim disperso,
Se o nosso amor provém do paraíso?

Sou ave que a voar da flórea rama
Atende ao teu feitiço que me chama
E pousa como um beijo em teu sorriso.

 


CRAVOS VERMELHOS
Irani Alves de Genaro

No portão, me chamavas com jeitinho,
Saudando-me em doce cortesia,
Com flores que colhias no caminho,
Só pra ver meu sorriso de alegria!

Lamento pela ausência de carinho,
Da vida pouco ou nada eu sabia;
Deste-me flores, eu te dei espinho,
Fui surda e não ouvi tua melodia...

Por onde andarão teus pés agora?
A procura de cravos como outrora,
Ou será que procuras outra flor?

Sinto falta de ti, das cortesias,
Dos cravos tão vermelhos que trazias,
Tentando conquistar o meu amor.

 


QUE PENA
Irani Alves de Genaro

O tempo amarelou o meu teclado,
Porém não desbotou o teu semblante
Que ficou na memória registrado,
Tocando, só pra mim, naquele instante!

Quanto que me encantou o teu cuidado,
Para não se tornar extravagante,
Já estavas por mim tão apaixonado,
Contudo foi impossível ir avante.

Que pena! Foi tão bom aquele ano,
Quando juntos tocávamos piano,
Trazendo estrelas para o nosso chão!

Mas partiste por fim desiludido,
Pois nem todos bemóis e sustenidos
Fizeram de nós dois uma canção.

 


INJUSTIÇA
Irani Alves de Genaro

Sempre a explorar o seu espaço aberto
Um pássaro afoito e aventureiro,
Seu fofo ninho deixa, e incerto
Parte em busca de um sonho corriqueiro!

Tem paixão pela flor entreaberta,
Que logo o conquista por inteiro;
Como um vício do qual não se liberta,
Passa o dia a brincar no pessegueiro!

No ninho, a lhe esperar, a companheira
Que a ele dedicou-se a vida inteira,
Aflita olha o tempo que escorre!

Enquanto à florzinha colorida,
Ele canta, esquece a própria vida,
No leito a companheira (doente) morre.



A CERCA
Irani Alves de Genaro

Pobre cerca de tábuas despencadas,
Eu sei por que tu choras, companheira...
Os anos pesam mais do que as ramadas
Ou galhos da rosada trepadeira!

E sempre que chegavam as floradas,
Teu corpo era engolido e, altaneira,
Tão repleta de flores tu ficavas,
Beijando a rama terna e tão faceira!

Tens hoje a alma triste e já sem sonho.
Dor de saudade é ramo assaz medonho
Que agora se debruça sobre ti!

Não te sintas assim injustiçada,
Nem me ralhes, pois eu não sou culpada;
Repara! - Eu também envelheci!



O TRONCO
Irani Alves de Genaro
  
Vendo-te agora, tronco decepado,
Sem folhas, sem tuas flores, sem teu fruto,
Meu coração também fica magoado,
Aborrecido, veste-se de luto!

As aves o deixaram abandonado,
Mergulhado num vazio absoluto,
Ninguém se lembra mais que no passado,
Tu foste hospedeiro de desfruto?

Hoje morres aos poucos, tronco triste,
Só o consolo em teu peito ainda existe,
De ser beijado ao menos pelo vento!


Onde está quem de ti tirou vantagem?
Ninguém veio prestar-lhe uma homenagem?
Nem ao menos um nômade poeirento?







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