Ruth Gentil Sivieri

Ituiutaba, MG, 1945


NUNCA MAIS O NOTURNO...
Ruth Gentil Sivieri

Aqueles sons que em choro estremeciam,
rasgando os céus em brava convulsão,
as notas e os acordes já sabiam
que eram tocados com suave emoção.

Partituras por certo ficariam,
esquecidas e soltas pelo chão.
Aqueles mestres, nunca mais seriam,
dedilhados em ais com coração.

Chegou ao fim! Repousa num lugar...
à espera de quem sempre dedicou,
os belos sentimentos que no entanto,

nunca mais o Noturno vai tocar,
pelas mãos de quem tanto o dedilhou
e abandonado, jaz em algum canto.



DESENCANTO
Ruth Gentil Sivieri

Meus passos vão seguindo radiantes,
debaixo de um calor que sempre escalda.
O brilho dos meus olhos cintilantes,
Ilumina o caminho que desfralda.

Volvo o olhar para os pontos delirantes
Vejo a relva brilhar como esmeralda
e  cá dentro as ideias saltitantes,
Se derramam no chão como grinalda.

Mas a idade, essa triste companheira
levou o viço da vida quase inteira,
de anos de alegria ou desencanto.

E no final aquele amor ardente
Já não vê mais beleza em seu poente...
E assim me quedo quieta em meu recanto.

  

NAS ASAS DA SAUDADE VOLITAM MEUS SONHOS
Ruth Gentil Sivieri

Foi em vão que procurei te sepultar,
na treva escura de meu pensamento.
Esquecida do mal de te olvidar,
mais e mais aumentando o sentimento.

Ficou somente a calma de te amar,
sem as dores, sem mágoas, sem tormento.
Nada mais poderá me maltratar,
e jamais ouvirás o meu lamento.

Nas asas da saudade, noite e dia,
foram sonhos sonhados com paixão,
que derramaram em versos e poesia.

Hoje volitam só com meus apelos,
em uma névoa cheia de emoção
e que distante já nem posso vê-los.



TEMPO DE ENCANTOS
Ruth Gentil Sivieri

Mostram-se belos campos com suas flores,
e o sol, numa amplidão quente e dourada,
É quase uma canção, ou uma toada,
que explode o coração em mil amores.

A beleza se veste de esplendores,
e em suprema emoção fica gravada
na retina do tempo. E a passarada,
vai bailando no céu graciosas cores.

Inesquecíveis horas que, tão belas,
trazem à lembrança flores amarelas,
declamando cascatas de alegria,

enquanto árvores dormem sua realeza
nas páginas do tempo e da beleza,
espreguiçando os galhos à poesia.



ALMA NUA
Ruth Olinda Gentil Sivieri

Ainda que triste a caminhar, eu sigo,
despida desse amor que me consola...
Sem ter carinho, essa sorte maldigo,
mesmo sabendo que a vida é escola.

A minha crença, para o abismo rola,
tudo eu desprezo, mais nada eu bendigo,
porque a vida me deu somente esmola
e a desesperança como abrigo.

Desconsolada, sigo assim, sem ti,
tal qual um pobre espectro na rua,
a procurar caminhos que eu não vi.

Sendo feliz nessa infelicidade,
minha alma segue triste e quase nua,
embrulhada no manto da saudade.



TUA IMAGEM
Ruth  Gentil Sivieri

Tua imagem foi pintada em uma tela,
um quadro que jamais pintar ousara,
onde a beleza assim desabrochara
em meio a tintas mil de uma aquarela.

A cor de fundo só seria aquela,
contrastando o contorno em forma rara,
deixando-a mais sutil e mais que bela
notando a perfeição que era bem clara.

Nessa visão eu pude mais amar-te.
Muito e bem mais que todos os amores
de minha vida sempre foste parte,

resplandecendo em todos os primores,
agora retratado em bela arte
possa eu amar-te mais e sem clamores.



SONHOS QUE SE FORAM
Ruth Gentil Sivieri

Sobre as asas de um pássaro canoro,
voejando pelo ceu, pela amplidão
que levava em seu canto tão sonoro,
felicidade e paz no coração...

Meu sonho, parecendo um meteoro
lançou-se aos ares tal qual um tufão.
Olhando aquele pássaro, ainda choro,
empurrando a saudade e a solidão.

É nublada a visão de dias lindos;
o pouco que sonhei emurcheceu,
como as flores que morrem num jardim.

Tudo é quimera e os sonhos já são findos,
minha esperança, há muito já morreu...
Que morra, não me importa mais seu fim.



VAI, TRISTEZA, VAI!
Ruth Gentil Sivieri

Que cessem essas dores do meu peito,
trazendo uma esperança mais segura.
Vai, tristeza, essa sádica amargura,
levanta desse meu marmóreo leito!

Possa a alegria ter maior proveito,
levando aquela nuvem mais escura.
Que tudo isso, à tristeza, renda preito,
culminando somente em formosura.

Quero amor, quero mais que compaixões!
Quero que a minha prece seja ouvida
e atinja mais os duros corações!

Permuta o riso com a ilusão perdida,
põe em minha alma fortes emoções.
Vai,tristeza, dá-me alegria nessa vida!



SENTIMENTO ESTRANHO
Ruth Gentil Sivieri

O amor é um sentimento mais que aflito.
É sonho deflorado por paixão,
quando é maior, parece mais bendito
e a vida vai dizendo sempre não.

Se ontem, aquele lindo coração,
exalava perfume tão bonito,
já não existe a mesma comoção,
quando seus olhos lânguidos  eu fito.

Chega e sai, muitas vezes sem demora...
Deixa estranho torpor que ao peito aflora,
cravando n´alma o punhal de uma dor,

que aos poucos perde a força essa saudade,
dando lugar à inércia que me invade,
nesse descrente cântico de amor!



ETERNA ESPERANÇA
Ruth Gentil Sivieri

Tais como nuvens densas, nebulosas,
as quais o sol ousado, sempre espanta,
as esperanças são esplendorosas,
contradizendo a dor que se levanta.

No aguardo, a fortaleza se agiganta,
clamores e cantigas dolorosas
dão lugar à beleza quando encanta,
trazendo vida e cores mais formosas.

E aquele terremoto, num momento,
se esvai do coração, que coisa estranha!
Bendito seja, pois o pensamento,

que chega devagar, alegremente,
e vai seguindo como se acompanha
a esperança que nasce docemente...



NADA
Ruth Gentil Sivieri

Quando penso em devolver-te a alegria,
transmutando tua dor em esperança,
sinto em mim uma grande nostalgia,
percebendo que meu pranto só avança.

Meu tudo é nada e sempre asfixia
meu cantar, meu momento de bonança,
calando em mim aquela melodia,
que por ser nada, nada, ela descansa.

Como posso eu devolver-te um tudo,
se nada tenho mais para ofertar?
Minha tristeza serve como escudo,

para estancar as lágrimas e abafar
todas as ilusões que eu desiludo
e as penas que carrego por te amar.



DESVAIRADO CORAÇÃO
Ruth Gentil Sivieri

No ocaso desta vida um coração,
em gotas cintilantes se banhava,
acariciando a alma que brilhava,
timidamente e cheia de emoção.

Banir essa ternura, isso é que não!
Impregnado n'alma ele já estava,
e na mente o contorno desenhava,
um rosto que vagava na amplidão.

Ah! Tolo coração, bate mais lento!
Não demonstra que és louco e desvairado,
bate mais lento, tolo coração!

Clama e chora ao passar o leve vento,
desmaia ou em torpor fica o coitado,
em desalento e inerte pelo chão.



PARADOXO
Ruth Gentil Sivieri

Tua alma é alegria e também dor,
sempre a trovar os versos pela vida;
trazes no peito cálido de amor,
resquícios de uma triste despedida.

Quem és tu? És prazer ou és clamor?
Se despertas em ânsia irrefletida,
rasgando os sonhos todos com furor
logo deixas tua vida esvanecida.

Ofuscas, brilhas, nem sei definir...
as nuances de mistério que existem
nesta alma que eu quisera encontrar.

Tarde! Tarde demais para sentir,
os sonhos que vagueiam e insistem,
barrando o coração de se entregar.



 SONETO ESCANCARADO
Ruth Gentil Sivieri

Ainda que não seja tão perfeito,
que faltem rimas ricas e beleza,
escancaro esse canto inda imperfeito,
sem me ligar à sua singeleza.

Não temo que o entendam com defeito.
escancaro-o na forma e na certeza,
de ser pra mim um formidável preito,
composto na mais pura candideza.

Também verso saudades, que nem sei
se são reais ou se fantasiosas,
mas certa estou que sempre te amarei
e nessas rimas despretensiosas,

escancaro esse amor que em mim guardei
para beijá-lo em ti, beijando rosas!



QUANDO UM POETA CHORA
Ruth Gentil Sivieri

Nas linhas de um soneto, em que a tristeza,
chora, junto ao poeta, a própria dor,
os versos voam vagas de incerteza,
dês que o vento desvia o seu clamor.

Quando um poeta chora e tem certeza
de que seu pranto é puro dissabor,
sente o seu desencanto com clareza,
mas extravasa todo seu amor.

Há pedras perenais em seu caminho,
calando o seu querer de ser sincero.
silenciando o sal de ser sozinho.

Chora o poeta, então, o instante austero
da vida, que se vai com seu cadinho
fundindo o outonal ao primavero!!



TARDE TRISTE
Ruth Gentil Sivieri

A tarde vem chegando tristemente,
escurecendo o sol, fora de hora.
A minh’alma de amores o que sente,
a tarde triste vai levando embora!

O cortejo do cinza canta, agora,
cantigas que calei em minha mente,
nos vozeios do vento, lá de fora,
fantasiando um vulto à minha frente!

Vulto vindo de vida viajada,
espetro passional de não sei quem,
pois que não vi da vida nessa estrada.

Estrada onde me entrego à caminhada,
à procura do amor que não me vem
das vivências da vida já passada!

Passado em que me perco aos pés do nada
da tristeza da tarde sem ninguém!



LIBERDADE
Ruth Gentil Sivieri

Entre as folhagens secas do jardim     
Uma ave que estava prisioneira                    
Aguarda silenciosa a noite inteira
Pra de manhã tentar um voo enfim.

Adeja bem inquieta, mas faceira,
Alça voo e pra ver o querubim                      
Na imensidão do céu do serafim
Rufla as asas e vence a ribanceira.

Canta, solta o trinar que é todo teu;
Desfruta, ave, o clímax da alegria     
Já livre da prisão que te prendeu.

Sê ousada, enche o canto de poesia       
E desce, que na Terra amanheceu
E o teu solfejo faz mais belo o dia.   



UM SÓ CORAÇÃO
Ruth Gentil Sivieri

Somente um coração frágil, sozinho,
não protesta a carência reprimida;
vive só, necessita de carinho
e aceita calmamente a despedida.

Qual ave solitária no seu ninho,
em seu canto a canção foi concebida.
Dolorida, essa dor cheia de espinho,
da melodia que marcou uma partida.

Somente um coração que bem podia
ser amado, ser marco da paixão,
embalado na clara luz do dia,

fazendo palpitar doce ilusão,
indo às nuvens tão brancas e voaria
nas asas da alegria e da emoção.



CHEGUEI
Ruth Gentil Sivieri

Os pássaros procuram os seus ninhos,
enquanto a noite avança com seu manto.
Embalada nos sonhos de carinhos,
trazendo os teus desejos que acalanto.

Nem penso no passado em burburinhos,
porque cheguei para secar teu pranto,
dando vida aos teus sonhos e juntinhos,
embalando a saudade em cada canto.

Quero sim, reviver a nossa história
de amor, sonhada nessa trajetória,
de carinhos e sonhos de paixão,

porque cheguei trazendo a luz no olhar
e em meu peito a alegria e emoção
porque sei que tu estás a me esperar.



PASSOU...
Ruth Gentil Sivieri

A lembrança de ti, do teu perfume,
faz-me sentir teu doce palpitar;
permaneces em mim como um ardume,
e a tua ausência só me faz chorar.

Inda me lembro até de teu queixume,
quando chegava a hora de voltar
e eu deixava que o manto do ciúme,
te envolvesse e eu pudesse então, ficar.

E hoje, desolada, penso em ti.
Porém, uma alegria faz-me crer,
que aquele imenso amor, o qual não vi,

era uma glória por nós dois sonhada.
Agradecendo agora os bons momentos,
e a certeza de que sempre fui amada



TUAS MÃOS
Ruth Gentil Sivieri

És bálsamo e benévola ternura,
que no teu coração, constante, abrigas,
querendo dar-me as tuas mãos amigas,
livrando-me de toda desventura.

Mostra-me a vida, vinda com doçura;
sem pressa, sem maldade, sem fadigas;
minhas dores na dor que tu mitigas,
amenizando assim minha amargura.

O teu carinho sempre, sempre impera,
ficando a minha fé e o amor à espera,
em momentos de dor e desencanto;

e no compasso desse amor latente,
meus sonhos se espalham docemente,
nas tão doridas notas do meu canto.



INSENSATEZ
Ruth Gentil Sivieri

Com leves passos, passo, de mansinho,
procurando o teu vulto, que não vem
abraçar meu abraço de carinho,
beijar o beijo que me fez refém.

Mas não me vês chegar. Sem burburinho,
sou somente ilusão, quase ninguém,
sombra que segue, só, pelo caminho
em que me beijas sem saber a quem.

Saio de cena, cega de agonia.
Chamar por ti não sinto necessário,
serei vulto invisível outra vez.

Sou fração de uma frágil fantasia,
és uma cruz a mais em meu calvário,
nós somos simplesmente, insensatez.



TRISTEZAS DE UM POETA
Ruth Gentil Sivieri

Não mostrasse o poeta tanta dor,
que lhe sai d´alma farta de poesias,
não seria estampado o seu clamor.
Eram loas as suas fantasias.

Sem ter a performance de um ator,
lacera-se em delírios e agonias
mostrando a todos seu imenso amor
em momentos de dores e alegrias.

Vai cumprindo a missão: desabrochar
como os gerânios no jardim deserto,
trazendo em si as cismas dos olores.

Qual ave prisioneira, o seu cantar
é trino de tristezas, se desperto,
e, quando sonha, chora dissabores!



PROPOSTA
Ruth Gentil Sivieri

Um a um, rememoro os lindos sonhos,
que fizeram inveja a muita gente;
todos eles, felizes e risonhos
pulsando corações, também a mente.

Poder estar contigo novamente,
sentir os teus abraços, entressonhos,
beijando a tua boca docemente,
esquecendo os problemas enfadonhos.

Façamos a permuta que tu queres:
Atendo ao teu pedido procedente,
mas volta para mim enquanto é dia.

Nosso livro será quando quiseres,
quero ver-te ao meu lado bem contente,
a ler a nossa história em poesia.



CORAÇÃO AGRADECIDO
Ruth Gentil Sivieri

Minh´alma agradecida, refloria,
Assistindo à borrasca que passava.
Eram sonhos de paz e de alegria,
Nos quais meu coração se deleitava.

Nesses sonhos, a lira eu dedilhava,
Em cânticos de amor e poesia,
Pelo meu corpo, aquela luz entrava,
Irradiando o alvorecer do dia.

No estado de vigília, veio a calma,
A me envolver numa carícia amena,
Como as tardes serenas de verão.

De afagos orvalhados na minh'alma,
Que por maltratos era tão pequena,
Mas reviveu meu pobre coração.



O AMOR É ASSIM
Ruth Gentil Sivieri

É um sentir que nascendo num momento
Chega e fica no peito, tão sereno,
Que resplandece em todo sentimento
Deixando o coração tão mais ameno.

É aquele olhar sincero, sem tormento,
Inda que abranja mundo tão pequeno
Seguindo vai depressa sem lamento,
Mesmo que necessário, o triste aceno.

É a voz igual de dois belos amantes,
Que choram juntos seus sentidos ais,
Mas sabem rir de coisas semelhantes.

É perfume, é encanto e também dor,
Caminham juntos para o mesmo cais.
Assim entendo o grande e excelso amor!



SONHANDO CONTIGO
Ruth Gentil Sivieri

Nesse sonhar feliz que eu tive um dia
Trazias em teu peito, amor, somente
Enchendo de esplendor, esse ambiente
Teus leves passos, voz suave e macia...

Em teu olhar saudoso eu me perdia...
Tocavas meu cabelo em cor luzente,
Que eras só meu, eu crendo piamente,
Cedia espaço à nova fantasia.

Foi bastante emoção, pura ansiedade,
Quando os lábios beijei-te, abrasados
E ternamente para mim sorriste...

Não vás ainda, meu amor, por piedade!
Ver os teus olhos tão iluminados
Dá-me alegria nessa vida triste!



Um comentário:

  1. Regina, minha querida amiga.
    Obrigada por agasalhar meus simples sonetos em tão rica página. Senti-me feliz, muito feliz.
    Obrigada, minha amiga!
    Beijos
    Ruth Gentil Sivieri

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