Luiz Gilberto de Barros (Luiz Poeta)

Rio de Janeiro, RJ





QUANDO EU TE ABRAÇO, 
MEU IRMÃO
Luiz Poeta

Quando eu te abraço, meu irmão, celebro a vida
Que há em mim, que há em ti, que há no mundo;
A minha dor passa a ficar tão distraída,
Que o coração cura a ferida num segundo.

Quando eu te abraço, meu irmão, sinto que Deus
Mostra seu rosto através do teu olhar
Que abençoa essa luz dos olhos meus,
Então eu sinto o meu amor se iluminar.

Quando te afastas, meu irmão, meu pensamento
Voa nas asas dos anjos do firmamento
E se transforma, dentro do meu coração,

Em muitas bênçãos... e o amor que te abençoa
É minha alma que te segue e sobrevoa
A tua alma pela minha oração.



PARTINDO-ME DE TI
Luiz Poeta

Tu partes, meu amor... e me repartes;
Com arte, fatias meu coração...
E o meu amor partido... em tantas partes,
Se parte mais ainda... em solidão.

Tu levas, aonde vais, meu riso triste;
No espelho onde te busco, a transparência
Reflete a solidão que sempre insiste
Em recompor a dor da tua ausência.

Procuro um sentimento entre tantos
Que possam transformar meus desencantos
Em doces fantasias... coloridas

A angústia que me habita, entretanto
Desfaz a maquiagem com meu pranto
E eu canto... sem querer... tua partida.



EÓLICOS DEVANEIOS
Luiz Poeta

Na epiderme líquida do mar,
Eólicos sussurros cambaleiam...
Assim são as lembranças que passeiam
Nos líricos anseios de um olhar.

O eterno vai e vem de cada onda
É como especial reminiscência
Que varre o porto da inconsciência
No instante em que a razão... em vão... nos sonda.

Amar é como içar velas ao vento...
Deixá-las  ao sabor dos devaneios
E ter nesse mister, contentamento

Porque, enquanto o pensamento voa,
No barco de um anseio nevoento,
A alma... em sentimentos... se abençoa. 



OUTON... ÂNSIAS
Luiz Poeta

No solo triste e solitário do jardim,
As folhas caem como lágrimas ao vento
E cada lágrima que cai dentro de mim
Forma um jardim onde repousa o sentimento.

Depois de um tempo, nesse espaço onde o pranto
Fortaleceu meu coração pleno de dor,
As flores brotam... e dentro do desencanto,
Nasce o encanto mais sublime que há na flor.

Nas hibernais imprecisões silenciosas
Que há nessas rosas temporãs e ocasionais,
O meu olhar procura flores nebulosas
Dentro das rosas dos meus sonhos... outonais.



PASSARINHÂNSIAS
Luiz Poeta

Aprisionado, um passarinho, em vão, simula
Um triste voo, no abandono da gaiola
Como teu sonho que se esvai... e que te anula,
Quando nem tua solidão mais te consola.

Grades rompidas... céu azul... vento... leveza
E a sensação de liberdade te envolvendo...
Mas teu amor tem a prisão por natureza
Num coração cuja razão vai se escondendo.

Porém insistes em voar, tu necessitas
De liberdade... e mesmo sendo prisioneira
Das tuas dores solitárias e aflitas

Tu reconstróis nos abandonos, outro ninho
Porque buscaste ser feliz a vida inteira
Querendo um dia ser apenas... passarinho.



 BRINCANDO DE TE AMAR
Luiz Poeta

Eu brinco de te amar, levando a sério,
O instante mais sublime desse amor;
Aquele em que a paixão é o hemisfério
Feliz do coração de um sonhador.

Eu brinco de te amar, realizando
Meus sonhos, quando no meu coração,
O amor, com meus anseios, vai criando
A fantasia em nova dimensão.

Eu brinco de te amar... e te amo tanto
Que toda angústia, dor e desencanto
Diluem-se em doces pensamentos...

O meu olhar convida o teu olhar
E os dois, como meninos, vão brincar
De amar... no mais feliz dos sentimentos.



BEM-ME-QUER... MAL-ME...
Luiz Poeta

Quando a solidão falar mais alto...
Quando cada gesto se calar,
Quando o bem-me-quer despetalar,
Quando não houver nem sobressalto...

Abre a porta, deixa a dor entrar,
Chora a ausência, sofre o abandono,
Deixa essa dor velar teu sono,
Deixa a solidão se acomodar.

Então,  logo tu perceberás
Que o amor da gente é uma flor
Que brilha mais forte no calor,

Mas murcha...se a chuva não a molha
Chora... e com teu pranto molharás
Essa flor do amor... que nem te olha.


A FRASE QUE ME FUGIU
Luiz Poeta

Quando a melhor das minhas frases me fugiu,
Dormi com a página de um livro de poesias
E na vazia solidão que me sorriu,
Notei que a dor do meu amor não mais sorria.

Por ironia, nesses ermos da razão,
Um coração de sonhador se diluía,
E em cada tênue pulsação, a emoção
Se embebedava, erguendo um brinde à fantasia.

Ao despertar do doce enlevo em que me vi,
Entre outras frases que escrevi, sem enxergar,
Aquela frase solitária que eu pedi,

Tão evasiva e fugitiva a flutuar,
Aconchegou-se ao meu amor e eu nem senti
Que ela habitava a solidão... do meu olhar.



ANTÍTESE DE UM PLEONASMO
Luiz Poeta

Meu riso riu de mim no meu espelho...
Pensei que era uma velha maquiagem,
Mas logo descobri que era bobagem
Pintar meus lábios tristes... de vermelho.

A boca que me dei era um disfarce,
Pois quando eu tentava ser eu mesmo,
O riso que pintei, sorriu a esmo,
Enquanto minha dor buscava amar-se.

E a cada vez, que em vão, eu retocava
A cor que disfarçava quem eu sou,
Não vi que todo o pranto que eu chorava

Matava o meu mais vão entusiasmo,
Pois quando meu sorriso mais chorou,
A antítese tornou-se... um pleonasmo.



CHORO DA TERRA
Luiz Poeta

Se a terra chora, cada rio que a celebra
Invade casas, becos, ruas, avenidas
Cada barranco é como um vaso que se quebra
Matando a paz que se desfaz, ceifando vidas.

Cada vulcão é um coração solto do peito,
Quando o planeta regurgita o que o mata
Enquanto o homem só se sente satisfeito,
Quando polui, suja, destrói, fere e desmata.

Então, o tempo implacável se encarrega
De ensinar à criatura que se nega
A proteger a natureza que o cria,

Que quanto mais a Terra fica ameaçada,
Mais ela estende sua dor desesperada
A cada vida que se torna mais vazia.



CORREDEIRAS PASSIONAIS
Luiz Poeta

Tu me chegaste como a chuva na vidraça...
Criando estrias no meu corpo... deliciosas...
Com tuas mãos tão delicadas e sedosas
Com a suavidade de quem sabe quem abraça.

Depois, as chuvas que trouxeste, se tornaram
Torrenciais, enchendo os rios, irrigando
Os meus desejos e eu já nem sabia quando
Esses momentos sensuais nos completaram.

Trovões riscaram nossos êxtases e o mar
Do nosso amor tornou-se anseio e... loucamente,
O meu olhar se diluiu no teu olhar

E as corredeiras passionais, quando findaram,
Só nos deixaram sensações de um tempo ausente
Onde as sementes da saudade germinaram.



DOM QUIXOTE DE MIM MESMO
Luiz Poeta

Dom Quixote de mim mesmo, cruzo a estrada,
Sancho Pança não é mais meu escudeiro
Percebeu, na minha saga tresloucada,
Que um moinho não agride um cavaleiro,

Sou poeta, minha pena é minha lança,
Minha espada, meu escudo e armadura,
Sigo o sonho e onde minha vista alcança,
O amor move a esperança... com ternura.

Meu enredo é muito simples: sou herói
De mim mesmo, busco ser original
E até quando uma dor qualquer me dói,

Faço dela uma nova alegoria,
Onde ponho o meu sonho ideal
E transformo um Dom Quixote... em poesia.



ESSÊNCIAS DE UM SONETO
Luiz Poeta

Quem vulgariza a essência de um soneto
Veste-lhe a roupa inadequada para a festa
Que ele se dá, em cada verso que se presta
A revivê-lo sem torná-lo obsoleto.

O sonetista que se preza sempre encera
A passarela onde a criação desfila
Porque quem ama sua dança sem senti-la
Tem como par a sensação de uma quimera.

O importante, além das sílabas contadas,
É observar que quando a rima é imperfeita,
Todo o soneto fica tão deselegante

Que as ideias, como joias lapidadas,
Perdem-se dentro da mesmice que as enfeita,
Quem se deleita com um falso diamante?



FLORAMOR
Luiz Poeta

O teu amor, sublime amor, me poliniza,
Quando o perfume que tu tens, vem, me provoca;
Quando a essência do que és, surge e me toca
Solta das frágeis mãos de um sopro de brisa.

Meu coração, planta sutil, não me avisa
Que o teu amor é o sentimento que retoca
A maquiagem dessa flor que a dor evoca
Quando a paixão é outra flor mais imprecisa.

Se o teu amor é uma flor, meu coração
É um jardim onde teus sonhos vêm pousar
Soltos da flor do teu amor, doce ilusão

Que eu insisto em cuidar, colher sementes
Se o teu amor no meu amor vem se soltar,
O meu amor se solta em tudo o que tu sentes.



GAROTO DE PROGRAMA
Luiz Poeta

Tu te exibes e te mostras atraente;
Quem te vê, apenas gosta da moldura.
Não te ama, apenas quer como presente
O teu corpo nu, que é tudo o que procura.

Quem te quer é uma pessoa solitária
Que tem tudo mas que nunca se contenta
Com nenhuma emoção mais solidária
Quando a angústia passional o alimenta.

Pode ser uma mulher sem ideal
Ou um homem que procura um igual
Nas estradas de um destino impreciso

Entretanto, o que restar depois do sexo
Será sempre o teu último reflexo:
Só um rosto solitário... de Narciso.



HARMONIZANDO O MESMO SONHO
Luiz Poeta

Não agradeças o carinho que eu te mando
Vai dentro dele o coração de um poeta
Igual ao teu – ele obedece ao comando
Da poesia, quando a alma é inquieta.

Quem se completa em uma mesma dimensão
Levita... voa... ganha asas, vai tão longe,
Que Impulsionado pela mesma pulsação,
O coração, com mansidão, desperta um monge.

É nesse impulso sedutor, que cada anseio
Vai transformando a solidão em devaneio
E cada enleio num eco que fantasia

A alegoria de um enredo musical,
Onde a harmonia faz de dois, um sonho igual
Que se transforma... docemente... em poesia.



INDELÉVEL TATUAGEM
Luiz Poeta

Na página vazia, a mão desenha
Um coração e enfeita, com afeto,
O nome do amante predileto
Com toda a emoção que o sonho tenha

Mais tarde, num instante passional,
Um outro coração é tatuado
Na pele, e em cada corte desenhado
O amor vai se tornando mais real

Um dia alguém rabisca, no diário,
A data, o sentimento e o horário
Da mais ingênua e doce abstração,

Porém a indelével tatuagem
Não poder desfazer-se da imagem
Que a dor traçou no próprio coração.



LISBOA
Luiz Poeta

Nunca te vi... só mesmo em fotografia,
Mas tua voz se diluiu na minha infância...
Vinda de alguém que te tratou com elegância,
Quando falava sobre ti... com alegria.

Era um avô... de cuja fala lembro ainda,
E quando o faço, vejo um rosto especial,
Que me sorria ao falar de Portugal
Mas disfarçava sua lágrima... mais linda.

Nunca te vi, mas se a lembrança te retrata
Numa saudade brasileira que resgata
A voz lusófona que sempre te abençoa,

É só fechar os olhos velhos de um menino,
Que já vislumbro o meu mais límpido destino
Que é diluir meu coração no teu... Lisboa.



LUSO... BRASIL... ÂNSIAS
Luiz Poeta

Tu me navegas, Portugal, se te imagino
Com tuas velas enfunadas, desbravando
O meu silêncio de poeta e de menino
Que rumo às terras do Brasil te viu chegando.

E nessa lírica e sutil sinestesia
Que se dilui na minha sensibilidade,
Sinto o contato desta mesma escuma fria
Que os teus sentiram ao tocar-nos de verdade...

Cerro meus olhos, tuas naus trazem, primeiro,
Além de cada tripulante aventureiro,
A tua língua emocional... filha do fado...

E o meu canto... português... e brasileiro
Passa a fluir, guiado por um timoneiro:
Nosso idioma derradeiro... e apaixonado



MADALENICIDAS
Luiz Poeta

As Madalenas eternizam-se naqueles
Que absorvem cada pedra arremessada
Sem devolver o arremesso da pedrada,
Porque a nobreza e o perdão repousam neles.

Brandir a pedra e esvaziar no golpe, a funda,
É comparar-se ao Golias desvairado
Que por ser grande, monstruoso e bem pesado,
Não se contém e cai na lama que o inunda.

Madalenizam, jogam pedras, envenenam
Insatisfeitos com o melhor que Deus lhes deu
E nesses gestos mais nefastos, apequenam

As suas vidas, sem saber que o Criador
Perdoa tanto o pecador quanto o ateu
Quando ele cura a ingratidão com seu amor.



NO RUMO DO TREM
Luiz Poeta

Na plataforma, eu a vi... do outro lado.
Nossos olhares percorreram-se sorrindo;
Um trem passou e ela se foi... desapontado,
Meu coração seguiu no olhar que a viu partindo.

Não houve tempo, o aceno derradeiro
Ficou lacrado em minha mão que comprimia
O abandono de um adeus... com desespero,
Aprisionei, ao amargor, minha alegria.

Meu trem chegou, deixei num banco da estação,
Um coração tão indigente de carinho,
Que nem senti que carreguei a solidão

No mesmo olhar, em cujo rumo solitário
Havia só um transeunte... tão sozinho:
O meu amor, fazendo a dor... de itinerário.



QUANDO O PERDÃO TEM O PODER
DA CATAPULTA
Luiz Poeta

A cada vez que uma adaga me perfura,
Procuro a cura no perdão que a dor sepulta,
Mas quando a dor sucumbe ao riso que me cura,
O meu perdão tem o poder da catapulta.

Quando o rebote cai nos pés da amargura,
A criatura não questiona o Criador,
Pois a pancada que ressurge da tortura,
Torna-se fúria, visando o torturador.

Se o meu joelho não suporta o peso imposto,
Outra patela há de dobrar-se a contragosto...
Porém, de forma surpreendente e expressiva,

A minha fé há de curar-me integralmente
E o meu amor há de instalar-se mansamente
No meu olhar, deixando que meu riso viva.



REVENDO MINHA MÃE
Luiz Poeta

Eu te recordo, minha mãe, a cada dia
Que o meu silêncio mais sublime te convida
A abençoar com teu amor a minha vida
E a refazer os meus instantes de alegria.

Busco as palavras mais sensatas que dizias,
Quando eu sofria cada dor de uma ferida
E mesmo em tua derradeira despedida,
O teu amor me revelava que me ouvias.

Hoje converso com a minha solidão,
Porém consigo até sentir teu coração
Pois te lembrar sempre me traz felicidade

E assim, te amando, eu me sinto mais feliz,
Pois cada vez, que sem te ver, tu me sorris
Oh, minha mãe... eu te revejo na saudade.



OLHOS INFANTIS
Luiz Poeta

Quando o olhar de uma criança denuncia
O abandono, a solidão e o sofrimento,
Torna-se inútil transformar esse momento
Num sentimento que alguém chame de poesia.

Quando o amor passa a ser só filosofia,
À revelia do que sinta um coração,
Por ironia, há quem nem dê muita atenção
A esse olhar que tem a dor por moradia.

Mas no instante em que eu me torno esse menino
Há nos meus olhos, esse olhar tão pequenino,
Que apesar da dor, conserva a esperança

De que o mundo tenha olhos infantis
E que se alguém pensa em tornar alguém feliz,
Veja o que diz o coração de uma criança.



OUVINDO O SOLO DAS 
GUITARRAS PORTUGUESAS
Luiz Poeta

Se ao som de um fado, cada tom traduz, em ondas,
A emoção da tua dor mais amorosa,
Choras a dor da forma mais silenciosa
Dentro do amor mais sedutor com que te sondas.

Se a voz embarga no instante em que tu cantas
E desencantas a canção quando tu choras,
Tu te sublimas na canção que revigoras
E aprimoras teu amor, quando te encantas.

Chorando mares, tu diluis teus oceanos
Dentro do pranto dos anseios lusitanos
De navegar, ouvindo o solo das guitarras,

Pois se no fado, o teu amor faz moradia,
Tu te embeveces, navegando a fantasia,
Quando teu barco português solta as amarras.



POETAS NUNCA MORREM
Luiz Poeta

Poetas morrem, quando quem os admira
Mistura a lira do seu canto mais feliz
Com a própria vida que eles têm, pois quem a tira,
Atira pedra em tudo aquilo que ele diz.

Poetas morrem, quando morre o sentimento
De quem os deixa, por achá-los muito humanos,
Mas se é insano não viver cada momento,
Nenhum poeta sobrevive sem ter planos.

Que não se veja nesses seres – que são vivos –
Um lado apenas, onde os dons mais expressivos
Brotam da vida mais humana que os socorre,

Pois que viver requer bem mais que pulsação,
É na leveza especial de um coração
Que se percebe que um poeta... nunca morre.




Um comentário:

  1. Amada amiga-irmã de tantas páginas literárias Regina Coeli...

    Fiquei profundamente emocionado com a sua iniciativa em produzir uma obra tão maravilhosa , com tantos autores belíssimos, inserindo alguns dos meus sonetos neste trabalho marcado pela sensibilidade e carregado de uma inefável fraternidade. Só me resta, amiga, pedir a Deus por você que me abençoa, abençoando-a com o melhor dos meus afetos. Fique com Deus e seja feliz produzindo o belo e abençoando a arte, você que é, indubitavelmente, além de uma maravilhosa ativista cultural, uma sublime escritora. obrigado !!! Luiz Poeta - Luiz Gilberto de Barros - Rio de Janeiro - Brasil.

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