QUANDO EU TE ABRAÇO,
MEU IRMÃO Luiz Poeta
Quando eu te abraço, meu irmão, celebro a vida
Que há em mim, que há em ti, que há no mundo; A minha dor passa a ficar tão distraída, Que o coração cura a ferida num segundo. Quando eu te abraço, meu irmão, sinto que Deus Mostra seu rosto através do teu olhar Que abençoa essa luz dos olhos meus, Então eu sinto o meu amor se iluminar. Quando te afastas, meu irmão, meu pensamento Voa nas asas dos anjos do firmamento E se transforma, dentro do meu coração, Em muitas bênçãos... e o amor que te abençoa É minha alma que te segue e sobrevoa A tua alma pela minha oração.
PARTINDO-ME DE TI
Luiz Poeta
Tu partes, meu amor... e me repartes;
Com arte, fatias meu coração...
E o meu amor partido... em tantas partes,
Se parte mais ainda... em solidão.
Tu levas, aonde vais, meu riso triste;
No espelho onde te busco, a transparência
Reflete a solidão que sempre insiste
Em recompor a dor da tua ausência.
Procuro um sentimento entre tantos
Que possam transformar meus desencantos
Em doces fantasias... coloridas
A angústia que me habita, entretanto
Desfaz a maquiagem com meu pranto
E eu canto... sem querer... tua partida.
EÓLICOS DEVANEIOS
Luiz Poeta
Na epiderme líquida do mar,
Eólicos sussurros cambaleiam...
Assim são as lembranças que passeiam
Nos líricos anseios de um olhar.
O eterno vai e vem de cada onda
É como especial reminiscência
Que varre o porto da inconsciência
No instante em que a razão... em vão... nos sonda.
Amar é como içar velas ao vento...
Deixá-las ao sabor dos devaneios
E ter nesse mister, contentamento
Porque, enquanto o pensamento voa,
No barco de um anseio nevoento,
A alma... em sentimentos... se abençoa.
OUTON... ÂNSIAS
Luiz Poeta
No solo triste e solitário do jardim,
As folhas caem como lágrimas ao vento
E cada lágrima que cai dentro de mim
Forma um jardim onde repousa o sentimento.
Depois de um tempo, nesse espaço onde o pranto
Fortaleceu meu coração pleno de dor,
As flores brotam... e dentro do desencanto,
Nasce o encanto mais sublime que há na flor.
Nas hibernais imprecisões silenciosas
Que há nessas rosas temporãs e ocasionais,
O meu olhar procura flores nebulosas
Dentro das rosas dos meus sonhos... outonais.
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A FRASE QUE ME FUGIU
Luiz Poeta
Quando a melhor das
minhas frases me fugiu,
Dormi com a página
de um livro de poesias
E na vazia solidão
que me sorriu,
Notei que a dor do
meu amor não mais sorria.
Por ironia, nesses
ermos da razão,
Um coração de
sonhador se diluía,
E em cada tênue
pulsação, a emoção
Se embebedava,
erguendo um brinde à fantasia.
Ao despertar do
doce enlevo em que me vi,
Entre outras frases
que escrevi, sem enxergar,
Aquela frase
solitária que eu pedi,
Tão evasiva e
fugitiva a flutuar,
Aconchegou-se ao
meu amor e eu nem senti
Que ela habitava a
solidão... do meu olhar.
ANTÍTESE DE UM
PLEONASMO
Luiz Poeta
Meu riso riu de mim
no meu espelho...
Pensei que era uma
velha maquiagem,
Mas logo descobri
que era bobagem
Pintar meus lábios
tristes... de vermelho.
A boca que me dei
era um disfarce,
Pois quando eu
tentava ser eu mesmo,
O riso que pintei,
sorriu a esmo,
Enquanto minha dor
buscava amar-se.
E a cada vez, que
em vão, eu retocava
A cor que
disfarçava quem eu sou,
Não vi que todo o
pranto que eu chorava
Matava o meu mais
vão entusiasmo,
Pois quando meu
sorriso mais chorou,
A antítese
tornou-se... um pleonasmo.
CHORO DA TERRA
Luiz Poeta
Se a terra chora,
cada rio que a celebra
Invade casas,
becos, ruas, avenidas
Cada barranco é
como um vaso que se quebra
Matando a paz que
se desfaz, ceifando vidas.
Cada vulcão é um
coração solto do peito,
Quando o planeta
regurgita o que o mata
Enquanto o homem só
se sente satisfeito,
Quando polui, suja,
destrói, fere e desmata.
Então, o tempo
implacável se encarrega
De ensinar à
criatura que se nega
A proteger a
natureza que o cria,
Que quanto mais a
Terra fica ameaçada,
Mais ela estende
sua dor desesperada
A cada vida que se
torna mais vazia.
CORREDEIRAS
PASSIONAIS
Luiz Poeta
Tu me chegaste como
a chuva na vidraça...
Criando estrias no
meu corpo... deliciosas...
Com tuas mãos tão
delicadas e sedosas
Com a suavidade de
quem sabe quem abraça.
Depois, as chuvas
que trouxeste, se tornaram
Torrenciais,
enchendo os rios, irrigando
Os meus desejos e
eu já nem sabia quando
Esses momentos
sensuais nos completaram.
Trovões riscaram
nossos êxtases e o mar
Do nosso amor
tornou-se anseio e... loucamente,
O meu olhar se
diluiu no teu olhar
E as corredeiras
passionais, quando findaram,
Só nos deixaram
sensações de um tempo ausente
Onde as sementes da
saudade germinaram.
DOM QUIXOTE DE MIM
MESMO
Luiz Poeta
Dom Quixote de mim
mesmo, cruzo a estrada,
Sancho Pança não é
mais meu escudeiro
Percebeu, na minha
saga tresloucada,
Que um moinho não
agride um cavaleiro,
Sou poeta, minha
pena é minha lança,
Minha espada, meu
escudo e armadura,
Sigo o sonho e onde
minha vista alcança,
O amor move a
esperança... com ternura.
Meu enredo é muito
simples: sou herói
De mim mesmo, busco
ser original
E até quando uma
dor qualquer me dói,
Faço dela uma nova
alegoria,
Onde ponho o meu
sonho ideal
E transformo um Dom
Quixote... em poesia.
ESSÊNCIAS DE UM
SONETO
Luiz Poeta
Quem vulgariza a
essência de um soneto
Veste-lhe a roupa
inadequada para a festa
Que ele se dá, em
cada verso que se presta
A revivê-lo sem
torná-lo obsoleto.
O sonetista que se
preza sempre encera
A passarela onde a
criação desfila
Porque quem ama sua
dança sem senti-la
Tem como par a
sensação de uma quimera.
O importante, além das
sílabas contadas,
É observar que
quando a rima é imperfeita,
Todo o soneto fica
tão deselegante
Que as ideias, como
joias lapidadas,
Perdem-se dentro da
mesmice que as enfeita,
Quem se deleita com
um falso diamante?
FLORAMOR
Luiz Poeta
O teu amor, sublime
amor, me poliniza,
Quando o perfume
que tu tens, vem, me provoca;
Quando a essência
do que és, surge e me toca
Solta das frágeis
mãos de um sopro de brisa.
Meu coração, planta
sutil, não me avisa
Que o teu amor é o
sentimento que retoca
A maquiagem dessa
flor que a dor evoca
Quando a paixão é
outra flor mais imprecisa.
Se o teu amor é uma
flor, meu coração
É um jardim onde
teus sonhos vêm pousar
Soltos da flor do
teu amor, doce ilusão
Que eu insisto em
cuidar, colher sementes
Se o teu amor no
meu amor vem se soltar,
O meu amor se solta
em tudo o que tu sentes.
GAROTO DE PROGRAMA
Luiz Poeta
Tu te exibes e te
mostras atraente;
Quem te vê, apenas
gosta da moldura.
Não te ama, apenas
quer como presente
O teu corpo nu, que
é tudo o que procura.
Quem te quer é uma
pessoa solitária
Que tem tudo mas
que nunca se contenta
Com nenhuma emoção
mais solidária
Quando a angústia
passional o alimenta.
Pode ser uma mulher
sem ideal
Ou um homem que
procura um igual
Nas estradas de um
destino impreciso
Entretanto, o que
restar depois do sexo
Será sempre o teu
último reflexo:
Só um rosto
solitário... de Narciso.
HARMONIZANDO O
MESMO SONHO
Luiz Poeta
Não agradeças o
carinho que eu te mando
Vai dentro dele o
coração de um poeta
Igual ao teu – ele
obedece ao comando
Da poesia, quando a
alma é inquieta.
Quem se completa em
uma mesma dimensão
Levita... voa...
ganha asas, vai tão longe,
Que Impulsionado
pela mesma pulsação,
O coração, com
mansidão, desperta um monge.
É nesse impulso
sedutor, que cada anseio
Vai transformando a
solidão em devaneio
E cada enleio num
eco que fantasia
A alegoria de um
enredo musical,
Onde a harmonia faz
de dois, um sonho igual
Que se
transforma... docemente... em poesia.
INDELÉVEL TATUAGEM
Luiz Poeta
Na página vazia, a
mão desenha
Um coração e
enfeita, com afeto,
O nome do amante
predileto
Com toda a emoção
que o sonho tenha
Mais tarde, num
instante passional,
Um outro coração é
tatuado
Na pele, e em cada
corte desenhado
O amor vai se
tornando mais real
Um dia alguém
rabisca, no diário,
A data, o
sentimento e o horário
Da mais ingênua e
doce abstração,
Porém a indelével
tatuagem
Não poder
desfazer-se da imagem
Que a dor traçou no
próprio coração.
LISBOA
Luiz Poeta
Nunca te vi... só
mesmo em fotografia,
Mas tua voz se
diluiu na minha infância...
Vinda de alguém que
te tratou com elegância,
Quando falava sobre
ti... com alegria.
Era um avô... de
cuja fala lembro ainda,
E quando o faço,
vejo um rosto especial,
Que me sorria ao
falar de Portugal
Mas disfarçava sua
lágrima... mais linda.
Nunca te vi, mas se
a lembrança te retrata
Numa saudade
brasileira que resgata
A voz lusófona que
sempre te abençoa,
É só fechar os
olhos velhos de um menino,
Que já vislumbro o
meu mais límpido destino
Que é diluir meu
coração no teu... Lisboa.
LUSO... BRASIL...
ÂNSIAS
Luiz Poeta
Tu me navegas,
Portugal, se te imagino
Com tuas velas
enfunadas, desbravando
O meu silêncio de
poeta e de menino
Que rumo às terras
do Brasil te viu chegando.
E nessa lírica e
sutil sinestesia
Que se dilui na
minha sensibilidade,
Sinto o contato
desta mesma escuma fria
Que os teus
sentiram ao tocar-nos de verdade...
Cerro meus olhos,
tuas naus trazem, primeiro,
Além de cada
tripulante aventureiro,
A tua língua
emocional... filha do fado...
E o meu canto...
português... e brasileiro
Passa a fluir,
guiado por um timoneiro:
Nosso idioma
derradeiro... e apaixonado
MADALENICIDAS
Luiz Poeta
As Madalenas
eternizam-se naqueles
Que absorvem cada
pedra arremessada
Sem devolver o
arremesso da pedrada,
Porque a nobreza e
o perdão repousam neles.
Brandir a pedra e
esvaziar no golpe, a funda,
É comparar-se ao
Golias desvairado
Que por ser grande,
monstruoso e bem pesado,
Não se contém e cai
na lama que o inunda.
Madalenizam, jogam
pedras, envenenam
Insatisfeitos com o
melhor que Deus lhes deu
E nesses gestos
mais nefastos, apequenam
As suas vidas, sem
saber que o Criador
Perdoa tanto o
pecador quanto o ateu
Quando ele cura a
ingratidão com seu amor.
NO RUMO DO TREM
Luiz Poeta
Na plataforma, eu a
vi... do outro lado.
Nossos olhares
percorreram-se sorrindo;
Um trem passou e
ela se foi... desapontado,
Meu coração seguiu
no olhar que a viu partindo.
Não houve tempo, o
aceno derradeiro
Ficou lacrado em
minha mão que comprimia
O abandono de um
adeus... com desespero,
Aprisionei, ao
amargor, minha alegria.
Meu trem chegou,
deixei num banco da estação,
Um coração tão
indigente de carinho,
Que nem senti que
carreguei a solidão
No mesmo olhar, em
cujo rumo solitário
Havia só um
transeunte... tão sozinho:
O meu amor, fazendo
a dor... de itinerário.
QUANDO O PERDÃO TEM
O PODER
DA CATAPULTA
Luiz Poeta
A cada vez que uma
adaga me perfura,
Procuro a cura no
perdão que a dor sepulta,
Mas quando a dor
sucumbe ao riso que me cura,
O meu perdão tem o
poder da catapulta.
Quando o rebote cai
nos pés da amargura,
A criatura não
questiona o Criador,
Pois a pancada que
ressurge da tortura,
Torna-se fúria,
visando o torturador.
Se o meu joelho não
suporta o peso imposto,
Outra patela há de
dobrar-se a contragosto...
Porém, de forma
surpreendente e expressiva,
A minha fé há de
curar-me integralmente
E o meu amor há de
instalar-se mansamente
No meu olhar,
deixando que meu riso viva.
REVENDO MINHA MÃE
Luiz Poeta
Eu te recordo,
minha mãe, a cada dia
Que o meu silêncio
mais sublime te convida
A abençoar com teu
amor a minha vida
E a refazer os meus
instantes de alegria.
Busco as palavras
mais sensatas que dizias,
Quando eu sofria
cada dor de uma ferida
E mesmo em tua
derradeira despedida,
O teu amor me
revelava que me ouvias.
Hoje converso com a
minha solidão,
Porém consigo até
sentir teu coração
Pois te lembrar
sempre me traz felicidade
E assim, te amando,
eu me sinto mais feliz,
Pois cada vez, que
sem te ver, tu me sorris
Oh, minha mãe... eu
te revejo na saudade.
OLHOS INFANTIS
Luiz Poeta
Quando o olhar de
uma criança denuncia
O abandono, a
solidão e o sofrimento,
Torna-se inútil
transformar esse momento
Num sentimento que
alguém chame de poesia.
Quando o amor passa
a ser só filosofia,
À revelia do que
sinta um coração,
Por ironia, há quem
nem dê muita atenção
A esse olhar que
tem a dor por moradia.
Mas no instante em
que eu me torno esse menino
Há nos meus olhos,
esse olhar tão pequenino,
Que apesar da dor,
conserva a esperança
De que o mundo
tenha olhos infantis
E que se alguém
pensa em tornar alguém feliz,
Veja o que diz o
coração de uma criança.
OUVINDO O SOLO DAS
GUITARRAS PORTUGUESAS
Luiz Poeta
Se ao som de um
fado, cada tom traduz, em ondas,
A emoção da tua dor
mais amorosa,
Choras a dor da
forma mais silenciosa
Dentro do amor mais
sedutor com que te sondas.
Se a voz embarga no
instante em que tu cantas
E desencantas a
canção quando tu choras,
Tu te sublimas na
canção que revigoras
E aprimoras teu
amor, quando te encantas.
Chorando mares, tu
diluis teus oceanos
Dentro do pranto
dos anseios lusitanos
De navegar, ouvindo
o solo das guitarras,
Pois se no fado, o
teu amor faz moradia,
Tu te embeveces,
navegando a fantasia,
Quando teu barco
português solta as amarras.
POETAS NUNCA MORREM
Luiz Poeta
Poetas morrem, quando
quem os admira
Mistura a lira do
seu canto mais feliz
Com a própria vida
que eles têm, pois quem a tira,
Atira pedra em tudo
aquilo que ele diz.
Poetas morrem,
quando morre o sentimento
De quem os deixa,
por achá-los muito humanos,
Mas se é insano não
viver cada momento,
Nenhum poeta
sobrevive sem ter planos.
Que não se veja
nesses seres – que são vivos –
Um lado apenas,
onde os dons mais expressivos
Brotam da vida mais
humana que os socorre,
Pois que viver
requer bem mais que pulsação,
É na leveza
especial de um coração
Que se percebe que
um poeta... nunca morre.
Amada amiga-irmã de tantas páginas literárias Regina Coeli...
ResponderExcluirFiquei profundamente emocionado com a sua iniciativa em produzir uma obra tão maravilhosa , com tantos autores belíssimos, inserindo alguns dos meus sonetos neste trabalho marcado pela sensibilidade e carregado de uma inefável fraternidade. Só me resta, amiga, pedir a Deus por você que me abençoa, abençoando-a com o melhor dos meus afetos. Fique com Deus e seja feliz produzindo o belo e abençoando a arte, você que é, indubitavelmente, além de uma maravilhosa ativista cultural, uma sublime escritora. obrigado !!! Luiz Poeta - Luiz Gilberto de Barros - Rio de Janeiro - Brasil.