Maria Thereza de Andrade Cunha

Rio de Janeiro/Distrito Federal (1927-...)

(grafia da época)


SONETO
Maria Thereza de Andrade Cunha

Dizendo tudo o que dizer forcejo
Nos versos tristes que te digo agora,
Jamais hei-de dizer o que desejo,
Por muito que t’o diga a tôda hora.

Se digo que minha alma é triste e chora,
Se insisto em te dizer tudo que almejo,
Digo pouco, dizendo-o muito embora,
Com palavras e rimas de sobejo.

— Se nisto tudo que proclamo ao mundo
Procuro, em vão, dizer do amor profundo,
— Dizer do amor que em versos não coubera, —

Dizendo o pouco que dizer consigo,
De que vale dizer tudo o que digo,
Se nunca digo o que dizer quisera?!



HORA INDECISA
Maria Thereza de Andrade Cunha

A natureza sonha. A bruma, artista,
Desfeita em rendas, o arvoredo enlaça.
Da luz à sombra, aos poucos, tudo passa,
E a treva, aos poucos, a amplidão conquista.

O crepúsculo de ouro e de ametista
Já se desfez em rolos de fumaça,
E tem agora a cor sombria e baça
Tôda a paisagem que daqui se avista.

... O céu cinzento. A bruma veiu aos poucos.
Foram-se as aves nos seus voos loucos,
E inda nem uma estrela apareceu!

— Hora triste e indecisa da saudade,
Em que já não existe claridade,
Em que a noite de todo não desceu...



A PAREDE
Maria Thereza de Andrade Cunha

Encantou-me a beleza, muda e estranha
Dessa parede muito branca e nua,
Que, impassível, as horas acompanha
Olhando a vida, olhando o céu, a rua...

Nas noites de luar, toda se banha
Na suavíssima e tênue luz da lua;
E, quando o sol se eleva na montanha,
Tôda ela se acende, e abrasa, e estua!

Nos dias de esplendor da primavera,
Nunca sonhou com lindas trepadeiras;
Mas, — inda lembra — uma árvore ensombrou-a.

É simples: nada pede, nada espera;
... Se chove, chora o pranto das goteiras...
— É nua e branca como uma alma boa!...



QUERIA QUE CHEGASSES
Maria Thereza de Andrade Cunha

Festiva, em frente, se ergue a serrania
Tocada de um dourado cambiante;
Queria que chegasses neste instante;
Nem sabes como está bonito o dia!

Anda no ar transparente uma alegria
Uma alegria imensa, delirante...
Como está perto o azul do céu distante!
Que perfume e que luz, na tarde fria!

Queria que chegasses de surprêsa.
É tão maravilhosa a natureza,
Juncando êsse caminho, há tanta flor!

... Sairíamos juntos, devagar...
Sem destino, sem pressa de voltar,
De mãos dadas, felizes, meu amor! 



CANÇÃO
Maria Thereza de Andrade Cunha

Vento que passas desfolando as rosas,
As pétalas levando fenecidas,
Rosas vermelhas, brancas, lacrimosas,
Tristíssimas amantes esquecidas...

Vento que as deixas mortas ou feridas,
Depois de as teres vivas e ardorosas,
Quero as rosas tombadas e perdidas
Que em noites fundas com teu beijo esposas.

As princesas que, pálidas, arrancas,
Impetuoso e bárbaro, do ramo,
Eu quero que com elas tu me cubras...

Que eu amo as rosas líricas e brancas,
Eu amo as rosas cor-de-rosa e amo
Apaixonadamente as rosas rubras!...



ESTIGMA
Maria Thereza de Andrade Cunha

Nestas horas de amor e de magia
Não fites os teus olhos, com ternura,
Nos meus olhos de mística ardentia,
Porque estes guardam sombras de loucura.

— Toma entre as mãos minha cabeça pura.
Conta-me, de teus sonhos, a poesia;
Beija-me a boca a arder que te procura;
Dá-me o teu riso, cheio de alegria.

Toma-me as mãos, afaga-as bem de leve,
Aquece-as, que estão hirtas sob a neve,
Aperta-me em teus braços num transporte.

... Mas afasta os teus olhos dos meus olhos,
Porque estes têm nos últimos refolhos,
A imensa nostalgia do além-morte!...



SÚPLICA
Maria Thereza de Andrade Cunha

               Sofro.
        Nos ramos tontos e sombrios,
Onde a noite escondeu fantasmas, passa
O vento. A lua, muito calma e baça,
No chão estira os ráios doentios...

— Oh! Vento errante, oh! Vento que, em negaça,
A noite enches de sons e de arrepios,
Tenho o corpo febril; com dedos frios,
Afaga minha fronte ardente e lassa!

Pêla janela escancarada e enorme
Entra! vibrando golpes impetuosos,
Marca-me o corpo, como rude açote!

E, enquanto, fora, a noite imensa dorme,
Os teus dedos gelados e nervosos,
Mergulha em meus cabelos cor da noite!
  
  

DESEJO 
Maria Thereza de Andrade Cunha

Na grande exaltação que me tortura,
 porque desejo tanto e inutilmente, 
o teu amor apenas me consente
a carícia das mãos, suave, pura...

Nunca um beijo de amor. Nunca doçura
de um longo beijo, rubro, e insano, e ardente. 
Nunca teu braço, apaixonadamente, 
ao redor de meus ombros, da cintura...

Apenas tuas mãos postas nas minhas. 
Por que não vês, porque não adivinhas
tudo que, em vão, meus lábios já sonharam?...

... Ah! quando a sós estou, Deus! como louca, 
Num beijo insatisfeito esmago a boca
nas minhas mãos, que as tuas afagaram!...



FINIS
Maria Thereza de Andrade Cunha

Acaba o nosso amor num desalento...
Por que te quis e me quiseste um dia?
Por que brilhava o sol no firmamento,
Se a noite a nos cobrir não tardaria?

Quantos dias de mágoa e sofrimento...
Quantas horas de sonho e de alegria;
... Tão doce um beijo, num fugaz momento;
... A tua mão na minha mão tão fria!...

E as frases que trocamos?!
                                         — Que saudade
Do nosso amor, da nossa intimidade,
Do tempo que passavas ao meu lado!


— Ah! Que tortura, amor, ah! Que tortura,
Pensar que vai ver nossa ventura
Numa simples lembrança do passado!



SEM RUMO
Maria Thereza de Andrade Cunha

Morte, teu beijo mau cresta-me a boca,
E, nas pupilas negras e sombrias
Dos meus olhos de mística e de louca,
Põe fogueiras de vivas argentias.

Arrastam-se nas sombras os meus dias;
A esperança morreu-me... Era tão pouca!...
As minhas mãos tombaram frias... frias...
E ouço música ao longe, estranha e rouca...

Morte, sou a que sofre, e nada espera.
Se já me tens o corpo e é primavera,
Onde pousar minha alma ardente e nua?

Tu me perdeste, e quero ser amada;
... Onde vou, se me deixas desprezada,
E a vida não me quer porque sou tua?!



A CORTINA
Maria Thereza de Andrade Cunha

Quando a rua em que moro tu subias,
Por detrás da cortina eu te esperava;
E passavas sorrindo, pois bem vias
Que a cortina de rendas ondulava...

Como foram felizes esses dias
Em que meu coração se alvoroçava,
Quando longe passavas, e sabias
Que eu, de longe, te via... e te adorava!

Deixaste de passar à minha porta.
Da cortina rasgaram-se os babados.
— O tempo, rendas e esperanças corta! —

.......................................................

Foi trocada a cortina da janela!
A nova é toda feita de bordados,
... Mas eu gostava muito mais daquela...



INÙTILMENTE
Maria Thereza de Andrade Cunha

Voltei. As mesmas ruas, percorridas
Outrora percorri.
                            ... São sempre aquelas
As árvores iguais e paralelas,
De flores e folhagens revestidas.

... As mesmas praças, muito bem varridas,
Recobertas de areias amarelas,
Lembrando pequeninas aquarelas,
Salpicadas por entre as avenidas...

Voltei...
               Triste, cansada, olhos em pranto
Recordei meu passado tão distante,
E em nada achei, de novo, enlêvo e encanto;

Porque, qual uma tétrica avantesma,
À minha alma enlaçou-se, alucinante,
Uma estranha saudade de mim mesma!...



DESILUSÃO
Maria Thereza de Andrade Cunha

Chegara a primavera colorida,
Com grinaldas de luz e de esplendores,
Trazendo flores para a minha vida,
Vida também trazendo para as flores.

Mas foi aquela flor, a mais querida,
Feita de seda e das mais belas cores,
Que feneceu, já quando de partida
Tu desfolhastes a flor dos meus amores!

E as pétalas, levadas pelo vento,
Tontas, bailaram no ar por um momento...
Espalharam-se, tontas, pelo chão...

Mas o destino, tredo e malsinado,
Deixou, no verde ramo, embrionado
O fruto amargo da desilusão!




DIZE
Maria Thereza de Andrade Cunha

Se eu morrer cedo, no esplendor da vida,
Se eu morrer cedo, em meio do caminho,
Lembra-te que no instante da partida,
Olhos em pranto, eu te chamei baixinho!

Lembra-te, meu amor, que foste espinho
Cravado na minha alma dolorida,
Mas cultivado sempre com carinho;
Dor que era doce, dor que era querida!

E dize a todos: — “Foi ternura infinda
O que ela, enquanto viva, me votou;
— A vida, só por mim achava linda! —

Só quando morta, o seu amor findou!...
E, se vivesse muito mais ainda,
Não poderia amar mais do que amou!”



A HORA QUINTA
Maria Thereza de Andrade Cunha

Existe uma hora trágica e sublime
Nas doze horas vivas do meu dia.
Passa e diz que eu não sonhe, e nem me anime;
Que, antes, me faça estática e sombria.

Hora em que a Voz, do Minarete, imprime
Fundo em meu peito a indiferença fria;
Hora da grande prece que redime
Meus pecados de amor e de poesia.

Hora transfigurada, estranha e forte
Que, na antecipação da própria morte,
Traz a tranquilidade que perdi...

Hora em que tenho, deslumbrada e calma,
Senhora de meu corpo e de minha alma,
A sensação feliz de que morri!




AO VENTO
Maria Thereza de Andrade Cunha

Perfumei com essências do Oriente
A minha cabeleira sôlta e escura;
Queimei no olhar incensos de ternura;
A boca perfumei de um riso ardente.

Perfumada de sonho e de loucura,
Esperando fiquei o amado ausente,
Numa grande esperança que perdura
Estranha, eterna, indefinidamente...

Gastei minhas quimeras, meus desvelos.
— Oh! Vento nos rosais, quero que jures
Pelas almas das rosas que confortas,

Que inda me hás-de levar da alma e cabelos
Êste perfume, para que o mistures
Às pétalas sem côr das rosas mortas...




ANGÚSTIA
Maria Thereza de Andrade Cunha

Medo, de que?
                       A minha mão, tão fria,
Treme de susto, e há sol, e há luz, e há vida!
No meu grande terror ando perdida
Como na imensa dor, e é pleno dia.

Medo da dor, da glória fugidia,
Medo de amar, medo de ser querida,
E medo da paisagem colorida,
Medo do tédio, e medo da alegria!

Medo das nuvens fúnebres que passam
Como negros fantasmas que ameaçam,
Como sombras de agouro e tempestade.

Medo de mim, medo da morte. Mudo,
Um medo atroz de todos e de tudo,
Amargurando a minha mocidade...




A ALGUÉM QUE ME QUER
Maria Thereza de Andrade Cunha

Florescem rosas, lírios e açucenas
Do sol buscando o beijo abrasador;
Procura, noutras plagas mais amenas,
Êsse alguém que te espera para o amor!

Que te daria eu, se, do calor
Do sol que me abrasou, restam apenas
Açucenas pendidas de langor
E orvalhadas de lágrimas serenas?!

Queres, talvez, que, em tresloucadas juras,
Eu te prometa amores e ternuras
Numa voz triste, dissonante e rouca?

— Buscando ardores onde é morto o sonho,
Tu só terias, nesse amor tristonho,
Gelados beijos de gelada boca!




À SOMBRA
Maria Thereza de Andrade Cunha

É noite e não há luz hoje na serra.
Apenas velas frias, bruxoleantes;
Além, no mato, a escuridão que aterra,
E uns raros pirilampos lucinantes.

Adivinha-se a lua cheia que erra
Por trás de grossas nuvens... Por instantes,
Como um bando de espectros sôbre a terra,
Passam morcegos fúnebres, errantes.

E à meia sombra inunda a ampla e deserta
Sala, onde dançam teias fugidias
Formando estranha e emaranhada rede.

A noite espreita pela porta aberta,
E em castiçais as velas ardem, frias,
Multiplicando as sombras na parede!




MATINADA
Maria Thereza de Andrade Cunha

É manhãzinha. O sol já se levanta,
Doirando a rua, onde começa a lida.
É a mesma cena, sempre repetida,
Que de novo se anima e nos encanta.

Aqui, um molecote rega a planta
De um lindo vaso. Ali, muito entretida,
Certa menina, sem pensar na vida,
Varre a varanda, e, enquanto varre, canta.

Um estudante passa. Vai ligeiro
Um moço de escritório. De um caixeiro
Ressoam nas calçadas os tamancos...

E, mais além, uma vovó faceira,
Com passos leves, ruma para a feira,
Dando um “jeitinho” nos cabelos brancos...




ALHEIAMENTO
Maria Thereza de Andrade Cunha

Passa a vida por mim... Deixo-a passar...
Passam por mim, amor, sonho e desejo;
Passam noites de sombra ou de luar,
E nada disso, nada disso vejo!

Que me importa, se alguém me quer beijar?
Que importa de outros olhos o lampejo?
— Que infinita saudade de um olhar...
— Que saudade infinita de teu beijo!...

Falam!
            Respondo sem saber se é certo,
Digo que som, que a primavera é linda;
Digo que não, não vivo num deserto...

E ouvindo qualquer frase dita a esmo,
Fico a pensar, numa tristeza infinda,
Se já não me disseste aquilo mesmo!...




TRISTEZA
Maria Thereza de Andrade Cunha

Recebi meu quinhão... Tocou-me apenas
Um punhado de fôlhas amarelas;
E havia rosas claras, rosas belas,
Orgulhosas, altivas e serenas.

E havia dálias roxas e açucenas
E violetas castas e singelas;
... Tocou-me apenas possuir aquelas
Fôlhas mortas tombadas às centenas...

Elas vieram fúnebres e escuras,
Sem alento, caídas das alturas,
Num vôo triste, farfalhante, doce.

Pousaram mo meu peito frias, suaves,
E fizeram seus ninhos como as aves,
As fôlhas mortas que o destino trouxe...




MARIPOSA FANTASMA
Maria Thereza de Andrade Cunha

Veiu da noite, em voo palpitante,
Perder-se na quietude desta sala.
Num bailado letal e delirante,
Cresta na luz as asas cor de opala.

Voa; já nada enxerga o olhar faiscante.
Ama a luz, e essa luz há-de queimá-la.
E, enquanto houver calor, estranha amante,
É cega e embriagada está... Deixá-la!...

Mas brandamente a luz se extingue, e morre...
— Que novo ardor as asas lhe percorre,
Para que dance ainda, alucinada?

Deixá-la. É cega! Que lhe importa a chama?
Inda sente o calor perdido, e ama,
E voa em torno à lâmpada apagada!



MOCIDADE
 Maria Thereza de Andrade Cunha

Deixa-me assim, de pálpebras cerradas,
Trêmula, branda, sorridente, mansa...
Lá fora brilha o céu, tido em bonança,
E as flores se despencam, desfolhadas.

Asas fulgindo ao sol, loiras, doiradas,
Trazem dos campos ramos de esperança;
Sinto-me, meu Amor, quase criança,
Crendo em castelos, príncipes e fadas...

E enquanto a tarde se desfolha em rosas,
E, presos em tuas mãos cariciosas,
Os meus dedos levíssimos se movem,

Sente, Amor, meu amor de entusiasta,
Na confiança de minha alma casta,
E no abandono de meu corpo jovem...



A UMA BAILARINA
Maria Thereza de Andrade Cunha

Fecho os olhos e a vejo que, ondulante
Como um salgueiro ao vento, fina e leve,
Lá se vai!  Deixa apenas, flutuante,
A lembrança de um véu de “tule” e neve…

Demorou-se tão pouco!   um curto instante!
Um curto instante, tão fugaz, tão breve!
Quem sabe, além, num palco mais distante,
Outro poema de ritmos descreve?

... Mas fica eternamente nos meus sonhos;
Vejo-a de olhos brilhantes e risonhos
Que nas asas do vento a cena corta.

Impalpável… Comparo-a à luz e à espuma,
E a julgo, vendo-a leve como pluma,
A alma, talvez, de uma falena morta!



LAMENTO
Maria Thereza de Andrade Cunha

Vento frio que choras nas vidraças,
E assobias na copa do arvoredo,
Recordas-me, ora um soluçar de medo,
Ora, de festa, o tilintar das taças...

Vento triste que as nuvens desenlaças
Ou juntas, logo após triste degrêdo,
Só tu conheces todo o meu segrêdo,
Só tu conheces quais minhas desgraças!

— Vento errante, que para longe vais,
E que talvez, não voltes nunca mais,
Leva contigo esta esperança morta...

E se sabes quem causa o meu tormento,
Mistura à tua a voz do meu lamento,
E vai bater de leve à sua porta...



AMARGA
Maria Thereza de Andrade Cunha

Se és triste ou se és alegre, eu te lamento.
Vives, e isso te basta, e isso é bastante
Para que eu sinta, viva em teu semblante,
A inútil fôrça que te imprime alento.

És feliz? — O prazer é semelhante
À viração que passa num momento...
És desgraçado? — A dor é como o vento:
Desfolha, enverga, fere, e segue adiante...

Tudo na vida é igual. Somos da Morte.
Perdes, se és pusilânime ou se és forte,
Todos os lances vãos dessa batalha!

A vida! A vida... Apenas ela passa,
E é sempre, no prazer ou na desgraça,
Uma oportunidade que nos falha.



LUAR NA SERRA
Maria Thereza de Andrade Cunha

A lua no meu quarto entra e flutua,
Penetrando a janela, à noite aberta;
E passo a noite tôda descoberta,
Coberta apenas pela luz da lua...

Sob a camisa leve, a pele nua;
E sob o seio nu, a alma deserta,
Insone, a noite toda passa alerta,
E em vãos desejos, palpitante, estua!

Quietude fora. O céu todo estrelado.
O silêncio noturno, angustiado,
Fluídico, as coisas todas a enlaçar.

E os eucalípticos, velhos e grisalhos,
Levantam fascinados os seus galhos
À suavidade mística do luar...



ENCANTAMENTO
Maria Thereza de Andrade Cunha

Enquanto a chuva cai devagarinho
Na folhagem, lá fora, e o vento canta,
Dizendo um madrigal a cada planta,
Despetalando flores no caminho,

Eu vou contar, contar muito baixinho,
Êste segredo que me enleva e encanta,
Que estou sempre afogando na garganta,
E é todo uma cantiga de carinho...

Eu vou contar:                                                    
                        — Estou te amando agora! —
Está chovendo... Uma goteira chora
Numa tristeza vã, desconsolada...

— Estou te amando! —
                                    As minhas mãos aquece;
Quero-as postas nas tuas, como em prece,
Numa carícia longa e apaixonada!...


Fonte: Livro “É primavera… escuta.”, Rio de Janeiro, 1949  



Um comentário: